NARRADOR
Um homem sentado ao lado do caixão daquela que fora sua companheira por muitos anos, olhava o corpo inerte com o coração amargurado e triste.
Mergulhado em pensamentos profundos, começou a perceber que em sua mente se desenhavam formas belas e brilhantes, leves e agradáveis que lhe traziam alento ao coração.
HOMEM
Quem são vocês, formas belas?
PALAVRAS BOAS
Nós somos as palavras que você poderia ter dito a ela.
HOMEM
Ah, fiquem comigo! Apesar de cortarem meu coração como um punhal, fiquem comigo, pois agora ela está fria e eu estou me sentindo tão só.
PALAVRAS BOAS
Não, não podemos ficar porque não temos existência. Somos apenas luz que nunca brilhou.
NARRADOR
O homem continuou triste e pensativo. De repente, outras formas se lhe desenharam na consciência. Eram formas terríveis, amargas e sem vida.
HOMEM
Quem são vocês, formas horrendas?
PALAVRAS RUINS
Nós somos as palavras que ela ouviu da sua boca a vida inteira.
HOMEM
Saiam daqui, me deixem só!
NARRADOR
Mas elas permaneceram ali, em silêncio, desenhando-se constantemente em sua memória.