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Palestra espírita: 15 ou 30 minutos?

Autor: Anselmo Ferreira Vasconcelos

A questão que enseja este artigo foi levantada por uma conhecida minha. Encontramo-nos casualmente e lhe perguntei se continuava frequentando a Casa X onde nos conhecemos no passado não tão distante. Ela é professora de destacado colégio em São Paulo. Portanto, conhece, certamente muito bem todos os macetes da pedagogia moderna. Aliás, segundo os meus modestos conhecimentos a respeito, lecionar para adolescentes e jovens constitui uma das mais desafiadoras tarefas da atualidade.

Afinal, esse grupo etário é altamente inquieto, e, assim sendo, são acostumados a agir consoante o que lhes “dá na telha”, como prescreve o já não tão famoso dito popular. Cumpre reconhecer que nem sempre recebem a adequada educação familiar. Por essa razão, são crescentes as manifestações de violência contra os docentes no país. Em alguns casos, os próprios pais tomam as dores dos seus filhos perversos e irrompem sobre os(as) pobres educadores(as).  

A propósito, para entretê-los nas salas de aula, uma gama considerável de métodos de ensino foi recentemente criada – quase todos no exterior – tais como adaptative learning, blended learning, byod, coding, gamification, makerspace, project-based learning, soft skills, só para citar alguns. Ou seja, na atualidade tem-se como essencial a criação do elemento lúdico em sala de aula para atrair a atenção do alunado (sim, leitor, os jovens e adultos modernos têm grande dificuldade de concentração em aulas expositivas). Não é por outra razão que a função de professor está aparentemente se transformando para facilitador do conhecimento. Não vou entrar no cerne das propostas acima, pois fogem ao objetivo do texto. É inegável que elas têm a sua importância no desenvolvimento do aprendizado. Mas há também que se reconhecer que certas disciplinas não se encaixam nessas técnicas. A natureza do assunto, o escopo da matéria, a profundidade dos temas, enfim, podem não se coadunar com tal maneira de ensinar. Esse é o caso do Espiritismo.

A referida colega admitiu que não conseguia ir mais ao Centro. Surpreso com a revelação, sutilmente lhe “dei corda”… Ela rapidamente contou-me que ia lá, mas a cabeça estava em outro lugar (em casa, segundo ela, e o dever de dar a janta à filha e de se preparar para o dia seguinte). Confessou-me, em dado momento, que achava as preces muito demoradas, bem como as palestras… A sua opinião era similar à de um conhecido seu da Federação Espírita do Estado de São Paulo, que advogava no máximo 15 minutos de exposição, pois daí pra frente “a mente se perde”. Lembrou as pessoas que ficavam dormindo na audiência (fez-me recordar de uma engraçada passagem narrada pelo médium Divaldo Pereira Franco). Queria explorar ainda mais a sua opinião, mas como ela estava atrasada não foi possível avançar. Todavia, consegui arrancar-lhe as razões da ausência daquela Casa Espírita. “Prefiro fazer em casa com a oração”, disse-me, por fim.

Fiquei a imaginar se todos pensariam assim. Concluí que seria pouco provável, já que a unanimidade é algo muito rara de se alcançar em qualquer esfera. Ponderei o que achariam os expositores que se empenham em trazer um rico conteúdo aos frequentadores, bem como exemplos concretos. Pensei, enfim, na espiritualidade que tanto se esforça para nos ajudar com a luz do esclarecimento e inspiração. Lembrei-me, por fim, de Allan Kardec e a sua frase lapidar contida em O Evangelho segundo o Espiritismo: “Espíritas! Amai-vos, este o primeiro ensinamento; instruí-vos, este o segundo”.

Ora, sabemos perfeitamente bem que a leitura não é uma prioridade para a maioria das pessoas. Ademais, hoje ela disputa o tempo de lazer dos indivíduos com uma série de outros hábitos tais como redes sociais, jogos eletrônicos, a ida aos barzinhos depois do expediente, conversas pelo WhatsApp, Netflix e assim por diante. Em todo caso, a instrução (conhecimento e assimilação de conteúdo) pressupõe dedicação. As palestras nas Casas Espíritas são indubitavelmente fonte de aprendizado, desde que haja um mínimo de disposição de nossa parte em ouvir, de fato. Como ensina o Evangelho: “Se alguém tem ouvidos para ouvir, ouça” (Marcos 4: 23).

Para que não pairasse qualquer dúvida a respeito, Kardec também destacou na introdução d’O Livro dos Espíritos que “… estudos requerem atenção demorada, observação profunda e, sobretudo, como aliás o exigem todas as ciências humanas, continuidade e perseverança”. Desse modo incontestável, o indivíduo só avançará na agenda do Espírito se houver sincero empenho de sua parte. É verdade que, às vezes, o expositor pode não estar muito inspirado ou o tema não ser do nosso agrado pessoal. Todavia, se vamos a uma missa ou a um outro culto religioso somos impelidos a prestar atenção no orador – até por uma questão de respeito. Tal procedimento não é diferente no Espiritismo. 

Se algo desejamos aprender concernente à nossa condição espiritual, é preciso um mínimo de esforço, não importa se a Casa Espírita adote o padrão de 15 ou 30 minutos de palestra construtiva. O que realmente conta é a nossa boa vontade em ouvir aquilo que precisamos lá no cerne da nossa alma. Se fizermos a nossa parte, alguma coisa na exposição certamente será proveitosa para nós.   

O consolador – Ano 13 – N 658 – Artigos

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