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Palestrantes ou comerciantes?

Autor: José Lucas

Um Centro Espírita deve ser um amplo espaço cultural, onde se estuda, prática e divulga a Doutrina dos Espíritos. Numa perspectiva de fraternidade, essa atividade deve ter como objetivo o auxílio mútuo desinteressado, procurando vivenciar a caridade dos sentimentos fraternos, a caridade do estudo, da prática espírita, e dos bens materiais junto dos necessitados.

Felizmente em Portugal, atualmente existem mais de 100 centros espíritas, num movimento muito dinâmico de crescimento, não só de espaços físicos, mas também de crescimento interior e doutrinário.

Desde sempre, Portugal contou com alguns conferencistas espíritas brasileiros que fizeram a diferença (Divaldo Franco, Raul Teixeira, Heloísa Pires etc.) e que muito contribuíram para o crescimento do Espiritismo em Portugal, bem como para a sua credibilidade pública.

O movimento espírita em Portugal, amarfanhado pelo regime salazarista, começou a sair das cinzas da opressão ditatorial após o 25 de Abril de 1974.

Divaldo Franco, Raul Teixeira e mais um ou outro conferencista brasileiro de qualidade começaram a visitar Portugal, em missão de divulgação e com objetivos doutrinários.

O Portugal espírita começava a dar cartas, e os outrora jovens começaram a aparecer.

Para além de múltiplos centros espíritas que iam desabrochando, palestrantes espíritas portugueses iam aparecendo, havendo, inclusive, intercâmbio de palestrantes entre centros espíritas, o que ainda hoje acontece.

Portugal espírita aparentemente foi amadurecendo e, hoje, aparentemente mais maduro, começa a acontecer um fenômeno inquietante.

Alguns espíritas brasileiros encontraram em Portugal um verdadeiro filão de ouro, fazendo lembrar a febre do ouro nas Américas.

Palestrantes brasileiros aparecem quase em doses industriais, ora em passeio, ora com objetivos de ordem pessoal, ora ainda com outros objetivos difusos, mas sempre com algo em comum: vêm a Portugal e regressam com muito dinheiro ao Brasil, vendendo livros de qualidade duvidosa e/ou muito duvidosa, entre outras vendas, sempre lucrativas.

A justificação é sempre a mesma: é para ajudar a nossa obra social!!!

Palestrantes brasileiros vêm a Portugal 2 e 3 vezes por ano (!!!), outros tentam projetar os filhos, como se falar de Espiritismo fosse um estatuto passado de pais para filhos.

O comércio de todo o tipo de artefatos (livros, quadros, CD’s etc.) parece ter tomado o lugar da simplicidade do Espiritismo, de uma conversa amiga, de um debate doutrinário sereno, sem qualquer objetivo pessoal de qualquer tipo, conforme nos ensina Allan Kardec na codificação espírita.

Supostamente vêm divulgar o Espiritismo em Portugal, como se Portugal não tivesse palestrantes mais que preparados para tal desiderato.

Outros atrevem-se mesmo em público, como aconteceu numa TV portuguesa, a dizerem que vêm espiritizar os portugueses.

Basta que o palestrante tenha um “Dr.” antes do nome, ou seja médico, para ter as portas abertas dos centros espíritas portugueses que, sem espírito crítico nenhum, aceitam qualquer palestrante, sem cogitar da sua moral, qualidade doutrinária, e se é uma mais-valia ou não.

Outros vêm oferecer uma pomadinha com nomes do médium Francisco Cândido Xavier ou do Vovô Pedro, prática esta que nada tem a ver com o Espiritismo na sua essência, além de se usurpar o nome do médium mineiro que tantos exemplos de humildade deixou à Humanidade.

O slogan parece ter virado moda: “É brasileiro? Então é bom…”, quando a realidade mostra o contrário.

O comércio de todo o tipo de artefatos (livros, quadros, CD’s etc.) parece ter tomado o lugar da simplicidade do Espiritismo, de uma conversa amiga, de um debate doutrinário sereno, sem qualquer objetivo pessoal de qualquer tipo, conforme nos ensina Allan Kardec na codificação espírita.

É claro que tudo isto acontece por invigilância e boa vontade exagerada, sem o crivo da razão, de muitos dirigentes espíritas portugueses, que ainda não se aperceberam de que uma palestra espírita é de suma importância, e que devem ser os mesmos dirigentes a organizar a sua associação espírita.

Se o intercâmbio de palestrantes, esporádico, escolhendo a dedo, pessoas de boa índole e que tragam uma mais-valia é desejável e saudável, já o tentar a todo o custo arranjar um palestrante que nos livre desse “trabalho” semanal, a fim de ficarmos mais livres, é um mau serviço que estamos a prestar à Doutrina dos Espíritos.

Um assunto para meditar, sem qualquer tipo de xenofobia, pois, como português, sinto e amo o povo brasileiro tanto como o povo onde nasci, nesta reencarnação.

Temos um tesouro nas mãos (a Doutrina Espírita) e estamos a vendê-la ao desbarato…

Assim, não!

O consolador – Ano 12 – N 570 – Artigos

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