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Papel dos médiuns nas comunicações

Revista Espírita, junho de 1861

Obtido pelo Sr. D’Ambel, médium da sociedade

Seja qual for a natureza dos médiuns escreventes, sejam mecânicos, semimecânicos ou simplesmente intuitivos, nossos processos de comunicação com eles não variam essencialmente. Com efeito, comunicamo-nos com os Espíritos encarnados, como com os Espíritos propriamente ditos, pela simples irradiação de nosso pensamento.

Nossos pensamentos não necessitam da vestimenta da palavra para ser compreendidos pelos Espíritos, e todos eles percebem o pensamento que lhes desejamos comunicar, simplesmente por lhes dirigirmos esse pensamento, e em razão de suas faculdades intelectuais. Isto significa que tal pensamento pode ser compreendido por tais ou quais, conforme o seu adiantamento, ao passo que em outros, tal pensamento, não despertando nenhuma lembrança, nenhum conhecimento no fundo de seu coração ou de seu cérebro jamais é por eles percebido. Neste caso, o Espírito encarnado que nos serve de médium é mais adequado a transmitir o nosso pensamento aos outros encarnados, embora não o compreenda, do que um Espírito desencarnado e pouco adiantado poderia fazer, se fôssemos forçados a recorrer à sua intervenção, porque o ser terreno põe seu corpo, como instrumento, à nossa disposição, coisa que o Espírito errante não pode fazer.

Assim, quando encontramos num médium o cérebro aparelhado de conhecimentos adquiridos na vida atual e o Espírito rico de conhecimentos anteriores latentes, adequados a facilitar nossas comunicações, dele nos servimos de preferência, porque com ele o fenômeno da comunicação nos é muito mais fácil do que com um médium cuja inteligência fosse limitada, e cujos conhecimentos anteriores fossem insuficientes. Vamo-nos fazer compreender por algumas explicações claras e precisas.

Com um médium cuja inteligência atual ou anterior se ache desenvolvida, nosso pensamento se comunica instantaneamente de Espírito a Espírito, por uma faculdade própria à essência mesma do Espírito. Neste caso, encontramos no cérebro do médium os elementos próprios para revestir nosso pensamento com a vestimenta da palavra que a ele corresponde, e isso quer seja o médium intuitivo, semimecânico ou mecânico puro. Eis por que, seja qual for a diversidade dos Espíritos que se comunicam com um médium, os ditados obtidos, embora de Espíritos diversos, têm na forma e no tom o cunho pessoal do médium. Sim, embora o pensamento lhe seja inteiramente estranho; embora o assunto surja de seu próprio meio habitual e embora o que lhe desejamos dizer não provenha dele de maneira alguma, nem por isso ele influencia menos a forma, pelas qualidades e propriedades inerentes a sua individualidade. É precisamente como se olhásseis diferentes paisagens com lunetas multicores, verdes, brancas ou azuis. Embora essas paisagens ou objetos observados sejam inteiramente opostos e independentes uns dos outros, nem por isso deixam de ter um tom que provém da cor das lunetas. Ou melhor, comparemos os médiuns a esses vidros cheios de líquidos coloridos e transparentes, que se veem nas farmácias. Ora, nós somos como as luzes que esclarecem certos pontos de vista morais, filosóficos e íntimos, através dos médiuns azuis, verdes ou vermelhos, de tal modo que nossos raios luminosos, obrigados a passar através dos vidros mais ou menos bem lapidados, mais ou menos transparentes, isto é, por médiuns mais ou menos inteligentes, não chegam aos objetos que queremos iluminar senão tomando a coloração, ou melhor, a forma própria e particular desses médiuns. Enfim, para terminar por uma última comparação, nós, Espíritos, somos como compositores de música que compusemos ou que queremos improvisar uma ária e não temos à mão senão um piano, um violino, uma flauta, um contrabaixo ou um apito barato. É incontestável que com o piano, com a flauta ou o com violino executaremos nosso trecho de maneira mais compreensível para os ouvintes. Embora os sons do piano, do contrabaixo ou da clarineta sejam essencialmente diferentes uns dos outros, nossa composição não deixará de ser a mesma, salvo as nuanças do som. Mas se dispusermos apenas de um apito barato ou de um funil, aí estará a nossa dificuldade.

Com efeito, quando obrigados a usar um médium pouco adiantado, nosso trabalho é muito maior, muito mais penoso, pois somos obrigados a recorrer a formas incompletas, o que nos é uma complicação, porque, dessa forma, somos forçados a decompor nosso pensamento e a proceder palavra por palavra, letra por letra, o que nos é um aborrecimento, uma fadiga e um verdadeiro entrave à presteza e ao desenvolvimento de nossas manifestações.

Eis por que nos sentimos felizes ao encontrar médiuns bem apropriados, bem equipados, munidos do material pronto para ser usado, numa palavra bons instrumentos, porque então nosso perispírito, agindo sobre o perispírito daquele que mediunizamos, só tem que dar o impulso à mão que nos serve de porta-caneta ou de porta-lápis, ao passo que com os médiuns insuficientes somos obrigados a fazer um trabalho análogo ao que faríamos quando nos comunicássemos por batidas, isto é, designando letra por letra, palavra por palavra, cada uma das frases que traduzem os pensamentos que queremos transmitir.

É por estas razões que nos dirigimos de preferência às classes esclarecidas e instruídas, para a divulgação do Espiritismo e o desenvolvimento das faculdades mediúnicas escreventes, embora seja nessas classes que se encontram os indivíduos mais incrédulos, os mais rebeldes e os mais imorais. Assim como hoje deixamos aos Espíritos pelotiqueiros e pouco adiantados o exercício das comunicações tangíveis de batidas e transportes, também os homens pouco sérios entre vós preferem ver fenômenos que ferem a vista e os ouvidos ao invés dos fenômenos puramente espirituais, puramente psicológicos.

Quando queremos proceder por ditados espontâneos, agimos sobre o cérebro, sobre os arquivos do médium e reunimos nossos materiais com os elementos que ele nos fornece e tudo isto malgrado seu. É como se tirássemos de seu bolso o di­nheiro que ele carrega e classificássemos as moedas segundo a ordem que mais nos conviesse.

Mas quando o próprio médium nos quer interrogar desta ou daquela maneira, é bom que reflita seriamente, a fim de nos interrogar de modo metódico, assim nos facilitando o trabalho das respostas. Porque, como te disse Erasto em instrução precedente, vosso cérebro muitas vezes está numa desordem inextricável e nos é tão penoso quanto difícil mover-nos no dédalo de vossos pensamentos. Quando as perguntas devem ser feitas por terceiros, é bom e útil que a série de perguntas seja lida previamente ao médium, para que este se identifique com o Espírito do evocador e, por assim dizer, dele se impregne. Assim, nós mesmos temos muito mais facilidade para responder, pela afinidade existente entre o nosso perispírito e o do médium que nos serve de intérprete.

Certamente podemos falar de matemáticas através de um médium que a elas pareça totalmente estranho. Mas, muitas vezes, esse médium possui tal conhecimento em estado latente, isto é, peculiar ao ser fluídico e não ao ser encarnado, porque seu corpo atual é um instrumento rebelde ou contrário a tal conhecimento. Dá-se o mesmo com a Astronomia, a poesia, a Medicina e as diversas línguas, bem como com todos os outros conhecimentos peculiares à espécie humana. Temos, enfim, o processo da elaboração penosa, que é utilizada com médiuns completamente estranhos ao assunto tratado, e que consiste na reunião de letras e de palavras, como em tipografia.

Como dissemos, os Espíritos não necessitam revestir seu pensamento. Eles percebem e transmitem o pensamento pelo simples fato de o possuírem. Os seres corpóreos, ao contrário, só o percebem quando revestido. Ao passo que a letra, a palavra, o substantivo, o verbo, a frase, enfim, vos são necessários para perceber, mesmo que mentalmente, nenhuma forma visível ou tangível nos é necessária.

ERASTO E TIMÓTEO

Espíritos protetores dos médiuns.

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