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Paulo Freire na minha escola

Autor: Marcus De Mario

Você me pergunta, caro amigo, se eu contrataria Paulo Freire para ser professor na minha escola, e eu lhe respondo que se tivesse uma escola na qual fosse o responsável, não hesitaria em contratá-lo. Como deixar de fora um educador reconhecido internacionalmente, com pensamentos e práticas profundas sobre educação?

Agora você me pergunta se eu concordo com tudo o que Paulo Freire falou, escreveu e fez. Naturalmente, não, pois é humanamente impossível concordar cem por cento com o pensamento de outra pessoa, e essa possibilidade de discordar, de debater, de reaprender mais nos aproxima.

Aliás, por falar nisso, tenho certeza que Paulo Freire, neste momento em que parte da elite governamental o ataca com críticas severas – a maioria sem base –, ele não se furtaria ao debate, inclusive acatando as críticas bem construídas sobre seu pensamento educacional. Agora, o que não faria, é atacar nem as pessoas, nem as instituições, não entraria em polêmicas inúteis e de caráter pessoal.

Dizem que Paulo Freire estragou a educação brasileira, é o culpado por tudo de ruim do nosso sistema educacional. Sinceramente, não sei como isso pode acontecer, pois quem trabalha na educação neste nosso país, sabe muito bem que as ideias de Paulo Freire nunca foram implementadas em nossas escolas. Como querem tirar Freire das escolas, se ele nunca adentrou a elas?

Aqui no Brasil nosso educador é estudado apenas a nível acadêmico, ficando perdido em trabalhos de conclusão de curso e teses, tudo elaborado nas universidades, e boa parte sem sentido prático, sem diálogo com a educação básica.

Quanto ao pensamento político de Paulo Freire, posso não concordar com algumas de suas posições, mas daí a pichá-lo de revolucionário comunista, de desvirtuador da juventude, de agitador do professorado e outras coisas que nem vale a pena aqui recordar, vai uma grande distância do que realmente ele pensou, fez e representa para a educação.

Vale aqui lembrar que essa tentativa de jogar um educador brasileiro na lata do lixo, no limbo da história pedagógica, já havia acontecido com Anísio Teixeira, que nas décadas de 1960 foi acusado de querer implantar no Brasil a educação comunista. Respondendo aos seus detratores, Anísio dizia que a única educação da qual ele não tinha conhecimento, era justamente essa tal de educação comunista. Anísio Teixeira é outro educador injustiçado em nossa história.

Penso aqui comigo: será que os atuais críticos de Paulo Freire, de fato leram suas obras? Será que fizeram, com calma, discernimento e isenção ideológica, a leitura do Pedagogia do Oprimido, do Pedagogia da Autonomia, do Pedagogia da Solidariedade, entre outros escritos? É bem possível que mal conheçam o pensamento freireano, mas como ele se declarava adepto do socialismo e era filiado a um partido de esquerda, oposicionista ao já estabelecido, todas as pedras lhe são arremessadas.

Por mais paradoxal que pareça, esse ataque é compreensível. Afinal, as elites estabelecidas nos privilégios, na corrupção, no poder a qualquer custo, não querem que a educação faça pensar, que desenvolva a criticidade e o senso moral nas novas gerações, então as escolas têm que ficar como estão. Como o pensamento de Paulo Freire levaria a educação para esse novo paradigma, tão necessário, os ultra conservadores o pintam como se fosse o diabo em pessoa.

Diabo, aliás, que proclamou que o amor deve ser a base da educação, que a educação deve formar cidadãos éticos e que, vejam só, acreditava em Deus.

Bem, em resumo, sim, eu contrataria Paulo Freire, e com muito gosto, e teria com ele maravilhosos diálogos sobre educação, dando-lhe toda liberdade para revolucionar a escola, transformar as pessoas que, assim, transformariam a sociedade humana para muito melhor do que é hoje.

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