Autora: Maria Lucia Ferreira e Teixeira
Fala-se há mais de 50 anos sobre a criogenia[1], o processo do congelamento do corpo físico antes e após a morte do corpo. As pessoas adeptas a essa causa alegam com a esperança de que, mais tarde, a ciência mais evoluída cure o mal que levou o indivíduo à morte, podendo ressuscitá-lo, ou seja, fazendo uso do mesmo corpo. Seria o voltar a viver com toda sua capacidade física, mental e emocional.
Também a promessa da criogenia seria de possibilitar conhecer-se as descendências hereditárias, além de dar objetivos efetivos para os avanços tecnológicos para uma nova etapa de vida. Assim, de congelamento em congelamento, se alcançaria a tão sonhada imortalidade na Terra.
Em 1962, Robert Chester Wilson Ettinger, professor de física e escritor de ficção científica, lançou um livro com fundamentos criônicos: A perspectiva da imortalidade.
A criogenia seria o antídoto contra a morte. Mas para isso ocorrer, há uma série de procedimentos técnicos, como: colocar o corpo em nitrogênio líquido, de cabeça para baixo, em grandes cilindros de alumínio a temperatura de 196° C.
A posição do corpo – de cabeça para baixo – seria uma preocupação, pois se o nitrogênio vazar, daria tempo de, pelo menos, salvar a cabeça. Essa precaução fundamenta-se de que na cabeça está o cérebro, o motor do corpo, o comandante de toda a estrutura orgânica do ser vivo! Sede da mente, da inteligência, enfim, da consciência humana. Salvando-o, o resto do corpo poderia ser composto por uma estrutura mecânica com ajuda de tecnologia própria. Esperanças nesse sentido são fundamentadas na inteligência artificial, que poderia construir um novo modelo de corpo.
Essa ideia perseguiu e fascinou Robert durante toda sua existência. Tanto o é, que, ao morrer, em 2011, seu corpo foi congelado nas bases da teoria da criogenia – visando a cura da causa da sua morte[2].
Em 1970 já existiam seis empresas de criogenia nos EUA. Mas é um sistema ainda carente de muitos estudos, experimentações, conclusões. Muitos desafios, mas que deposita em muitas pessoas esperanças. Muitas esperanças de continuar vivendo.
Afinal, o corpo é mesmo o único elemento condutor da vida?
A questão da morte desperta no público, principalmente para os espiritualistas, a questão: a morte existe? Vamos desaparecer para sempre? Temos ou não temos um futuro após a morte do corpo?
Dentre outras doutrinas, a Doutrina Espírita fundamenta que: a morte inexiste para o Espírito e que os diversos corpos físicos o são apenas sua morada temporária pelas várias reencarnações; que as reencarnações são fases necessárias para a evolução do Espírito, assim criado por Deus com o fim divino de chegar à perfeição.
O ser humano, cada um de nós, especificamente, somos espíritos imortais vivenciando uma experiência na carne. Somos resultado de uma tríade formada de corpo físico[3], perispírito[4] e o espírito[5].
Em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. 4, Allan Kardec descreve o célebre diálogo de Jesus com o fariseu e mestre da lei Nicodemos. Jesus é explícito e deixa clarificada a situação divinamente separatória entre corpo e espírito: o que é nascido da carne é carne e o que é nascido do espírito é espírito“. Observa-se, sem sombras de dúvidas, que o ensinamento do Mestre Galileu é pela dualidade divina – corpo e espírito (João, 3:1 a 12).
Portanto, são dois elementos distintos[6], que necessitam de um terceiro para se unirem; o perispírito.
A Doutrina Espírita nos ensina que há o perispírito; que é o elo de ligação, o laço que vai unir o espírito ao corpo físico, célula a célula, como um abraço duradouro enquanto for a vontade do Criador.
O Espírito, desde quando foi criado, está numa marcha evolutiva, submetido a vontade de Deus expressa na Lei do Progresso[7].
No evangelho de Jesus há a passagem em que Ele prega que seu reino não é desse mundo e que há várias moradas na imensidão do cosmo. (João, 14:1 a 3.)
Estagiamos em muitas dessas moradas para nosso crescimento espiritual.
Em cada renascimento em um novo corpo, o Espírito está dotado de suas virtudes adquiridas, mas também com a necessidade evolutiva de testar conhecimentos adquiridos, expiar e ou provar situações transatas que exigem vivencias, muitas das vezes, entre dores e sofrimentos. É a necessidade das experiências retificadoras por conta de reconciliações dolorosas e redentoras impostas por um passado vivenciado entre erros e desilusões. O cumprimento completo na senda evolutiva só será possível na carne, com o uso para o bem do livre arbítrio, com a escolha necessária de nossas provas e de nossas expiações. Para isso tudo se cumprir, a necessidade de estarmos presos a um corpo físico como instrumento de ascensão moral!
Elemento primordial no caminho evolutivo, portanto, é o perispírito, que junto com o Espírito carrega a nossa bagagem na viagem evolutiva em busca de nós mesmos e da reconciliação com nossos desafetos de longas datas.
Fazendo parte do complexo espiritual das criaturas de Deus, ele e o Espírito proporcionam reviver detalhes experienciados por nós em nossas várias reencarnações.
Também funciona, assim podemos conceber, como molde para a construção do corpo carnal[8]. É nosso adaptador a fluidos diversos para os mundos onde iremos viver novas tentativas de aperfeiçoamento.
Enfim, ele nos conecta onde precisaremos estar.
No plano reencarnatório, ele informa aos engenheiros construtores de um novo corpo material que vamos habitar, as nossas necessidades mais urgentes. Identifica ajustes na próxima etapa.
É um mapa que estampa nossas rotas percorridas, obstáculos e equívocos cometidos ou abandonados por ineficiência, preguiça, negligência, ilusões … Sugere novas rotas através da observação atenta dos Construtores Siderais.
Assim serão confeccionadas roupagens adequadas ao novo ambiente onde teremos chance, mais uma vez, de girar a chave no sentido contrário de tudo que já experimentamos erradamente.
Cada reencarnação é uma etapa nova, única. Jamais vivida duas vezes e muito menos no mesmo Corpo[9]. Isso significa que, com a morte dum corpo, voltaremos em outro novo corpo, vivenciando novas experiências necessárias a evolução do Espírito.
Assim, pode-se concluir que, pelo espiritualismo cristão, que é reencarnacionista, os métodos propostos pela criogenia de alguma forma já ocorrem na vida do Espírito, mas com leis próprias impostas por Deus Pai Criador, sendo uma delas, a reencarnação em corpos diferentes.
Reforça esse princípio da Doutrina Espírita o contido no Cap. 4, Ninguém Poderá Ver o Reino de Deus Se Não Nascer de Novo, d’ O Evangelho Segundo o Espiritismo, que cita a passagem de João 3:3, sobre a conversa de Jesus com Nicodemos, quando lhe disse …em verdade, em verdade, Eu te digo: ninguém pode ver o Reino de Deus se não nascer de novo.
Notas
Este artigo foi contemplado no Concurso A Doutrina Explica 2023, promovido pelo Jornal Brasília Espírita, em parceria com a revista O Consolador e a Web Rádio Estação da Luz.
Referências
[1] Kühl Eurípedes. Criogenia à luz do Espiritismo. Disponível em: <LINK-1>. Acesso em 08.01.2024.
[2] Morre aos 92 anos o pai da Criogenia, Robert Ettinger. Correio Braziliense [online], 25.07.2011. Disponível em: <LINK-2>. Acesso em: 08.01.2024.
[3] Kardec, Allan. O livro dos espíritos. Questão 22, 22 a. Id. A gênese. Cap. VI item 17.
Id. A gênese. Cap. VI item 17.
[4] Kardec, Allan. O livro dos espíritos. Questões 93, 94, 95. Id. A gênese, caps. XIV, item 10.
[5] Kardec, Allan. O livro dos espíritos. Questões 23, 92ª, 82, resposta da 91. Id. A gênese, caps. XI.
[6] Kardec, Allan. O livro dos espíritos. Questão 64.
[7] Kardec, Allan. O livro dos espíritos. Caps. VIII.
[8] Kardec, Allan. O livro dos espíritos. Questão 257.
[9] Luiz, André. Nos domínios da mediunidade. Cap. 11. Chico Xavier
O consolador – Ano 18 – N 873 – Artigos