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Era uma vez…

Autora: Cármen Cinira (espírito)

*

Era uma vez Cármen Cinira, Um coração

Cheio de sonho e flor, que mal se abrira

Nos jardins encantados da ilusão…

Estraçalhou-se para sempre

Na voragem

Das trevas, dos abrolhos!…

*

Era uma vez Cármen Cinira…

Uma suposta imagem

Da perene alegria,

Mas que trouxe em seus olhos,

Eternamente,

Essa amarga expressão de alma doente,

Cheia de pranto e de melancolia!…

Cármen Cinira! Cármen Cinira!

Que é da minha cigarra cantadeira?

Embalde te procuro.

Por que cantaste assim a vida inteira,

Cigarra distraída do futuro?

*

Perturbada,

Aturdida,

Busco a mim mesma aqui nestoutra vida…

Onde estou, onde estou?

Minha vida terrena se acabou

E sinto outra existência revelada!

*

Não sei por que me sinto amargurada…

Sinto que a luz me guia

Para a paz, para um mundo de alegria.

Mas, ó imortalidade

Se na Terra eu te via

Como a aurora divina da verdade,

Não julguei que inda a morte me abriria

Esse cenário deslumbrante

De outros sóis e de outros seres,

E vejo agora

Que não amei bastante,

E não cumpri à risca os meus deveres!

*

A fagulha de crença

Que eu possuía,

Devia transformar numa fornalha imensa

De fé consoladora,

E incendiar-me para ser luzeiro.

*

Mas, ó Senhor da paz confortadora,

Eu vi chegar o dia derradeiro

Em minha dor, na máscara de festa,

E a morte me apanhou

Como se apanha uma ave na floresta.

Experimento a grande liberdade!

Todavia, Senhor, ampara-me e protege

Minha triste humildade!

*

Eu te agradeço a paz que já me deste,

Mas eis que ainda te imploro comovida,

Porque me sinto em fraca segurança;

Deixa que eu guarde ainda nesta vida

Meu escrínio de estrelas da Esperança.

Nota

A poesia acima, psicografada por Francisco Cândido Xavier, faz parte do livro Parnaso de Além-Túmulo

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