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Por que Kardec?

Autora: Teresinha Olivier

Sigo um princípio em meus estudos da Doutrina Espírita: tenho as obras de Allan Kardec como primeira e mais importante referência. Se qualquer dúvida surgir na leitura de obra de qualquer outro autor, seja encarnado ou desencarnado, venha essa obra através desse ou daquele médium, famoso ou não, procuro esclarecer minha dúvida mergulhando na fonte: nas chamadas obras da codificação, ou seja, aquelas elaboradas por Allan Kardec.

Por quê?

Alguns espíritas chamam essa atitude de “endeusamento de Kardec”, expressão que já ouvi muitas vezes. Mas, se houvesse um interesse em saber os motivos dessa postura, sem ideias pré-concebidas, sem rotulação, haveria uma compreensão maior.

Como Kardec agiu na elaboração da doutrina? Aí está o ponto chave da questão. Ele usou o critério daquilo que chamou de “controle universal do ensino dos Espíritos”, que consistia em passar as revelações feitas pelos Espíritos através de vários médiuns que não se conheciam entre si, antes de estabelecer o ensinamento como princípio fundamental do Espiritismo. Vemos na Introdução de O Evangelho Segundo o Espiritismo:

“Uma só garantia séria existe para o ensino dos Espíritos: a concordância que haja entre as revelações que eles façam espontaneamente, servindo-se de grande número de médiuns estranhos uns aos outros e em vários lugares.”

“Sabe-se que os Espíritos, em virtude da diferença entre as suas capacidades, longe se acham de estar, individualmente considerados, na posse de toda a verdade…”

”… as revelações que cada um possa receber terão caráter individual, sem cunho de autenticidade; que devem ser consideradas opiniões pessoais de tal ou qual Espírito e que imprudente fora aceitá-las e propagá-las levianamente como verdades absolutas.”

“Toda teoria em manifesta contradição com o bom-senso, com uma lógica rigorosa e com os dados positivos já adquiridos, deve ser rejeitada, por mais respeitável que seja o nome que traga como assinatura.”

“Essa a base em que nos apoiamos, quando formulamos um princípio da doutrina. Não é porque esteja de acordo com as nossas ideias que o temos por verdadeiro. Não nos arvoramos, absolutamente, em árbitro supremo da verdade e a ninguém dizemos: “Crede em tal coisa, porque somos nós que o dizemos”. A nossa opinião não passa, aos nossos próprios olhos, de uma opinião pessoal, que pode ser verdadeira ou falsa, visto não nos considerarmos mais infalível do que qualquer outro. Também não é porque um princípio nos foi ensinado que, para nós, ele exprime a verdade, mas porque recebeu a sanção da concordância.”

“Essa verificação universal constitui uma garantia para a unidade futura do Espiritismo e anulará todas as teorias contraditórias.”

Vemos, por essas e outras afirmações de Kardec, o cuidado que ele teve ao estabelecer ensinamentos como princípios fundamentais da Doutrina Espírita. Aquilo que não passou por esse critério, consta nas obras como hipóteses que carecem de confirmação.

O que vemos hoje nessa imensa proliferação de livros espíritas? Esse cuidado?

O que se observa é o oposto. Os livros são publicados sem nenhuma análise de cunho doutrinário. O que realmente importa é vender bem. Infelizmente. São opiniões pessoais de um espírito, vindas através de um médium. E como grande parte dos espíritas não estuda as obras fundamentais com profundidade, muitos conceitos duvidosos estão sendo aceitos e disseminados. Contudo, Kardec, com o seu bom-senso, afirma o seguinte em A Gênese, cap. XIII:

“Todavia, como não alimenta a pretensão de haver dito a última palavra seja sobre o que for, nem mesmo sobre o que é da sua competência, ele (o Espiritismo) não se apresenta como absoluto regulador do possível e deixa de parte os conhecimentos reservados ao futuro.” 

Sabemos que os espíritos transmitem conhecimentos de forma gradativa, respeitando nossas limitações e aguardando o desenvolvimento de outras ideias que possam abrir nossas mentes para a assimilação de conceitos espirituais mais profundos. Nosso mestre Allan Kardec esclareceu que existem desdobramentos da doutrina que viriam com o tempo. Porém, isso não significa aceitar qualquer novidade no campo doutrinário como verdades sem que haja uma análise profunda, tendo como base os princípios fundamentais da doutrina espírita.

Por tudo isso e muito mais, os espíritas precisam ter muito cuidado e muita atenção ao ler e divulgar as obras ditas espíritas que circulam abundantemente, para que conceitos errôneos não sejam aceitos como verdades doutrinárias. Mas, para isso é necessário o estudo aprofundado das obras fundamentais. Somente assim se pode fazer uma verificação mais segura do que pode ser um desdobramento natural dos princípios ou uma deturpação dos mesmos.

Como sempre, devemos estar atentos às recomendações de Kardec na Revista Espírita de fevereiro de 1865, no artigo: Perpetuidade do Espiritismo:

 “Sem dúvida ela (a Doutrina Espírita) pode sofrer modificações em seus detalhes, à vista de novas observações, mas, uma vez estabelecido o princípio, ele não pode variar, e menos ainda ser anulado. Eis o essencial.”

“O Espiritismo está longe de ter dito a última palavra quanto às suas consequências, mas é inabalável em sua base, porque essa base se assenta sobre fatos.”

Aí estão, resumidamente, os motivos pelos quais Allan Kardec é para mim a fonte fundamental onde me alimento de conhecimentos doutrinários. Leio e estudo outras obras, mas sempre atenta a esses princípios aqui expostos.

Não é um endeusamento de Allan Kardec, mas sim o reconhecimento de sua autoridade fundamentada no seu bom-senso, no seu critério ao elaborar a doutrina, no seu cuidado antes de publicar as obras e na sua visão esclarecida com relação ao futuro do Espiritismo.

Fica esta mensagem aos jovens que estão hoje liderando movimentos e influenciando a juventude no conhecimento da doutrina. Infelizmente, muitos dos “velhos espíritas”, deixaram Kardec de lado e incentivam a leitura e o estudo de outras obras, umas boas, muitas nem tanto.

Segundo afirmação de Leon Denis: “O Espiritismo será o que os espíritas fizerem dele”.

Por essas palavras se vê a grande responsabilidade que temos em nossas mãos.

Façamos jus ao grande trabalho efetuado por Allan Kardec.

Dica

A autora participa semanalmente dos grupos de estudos online, abaixo. Se tiver interesse em participar também, são abertos para todos os públicos.

Reuniões: Estudo do livro O Céu e o Inferno (primeira edição autêntica)

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