Autor: Marcus De Mario
Um menino se aproximou e perguntou:
– Por que os pássaros voam?
Olhei para o menino, em seguida estendi meu olhar para o céu e, voltando minha atenção para aquela criança com sua curiosidade, indaguei:
– E qual é a sua resposta para essa pergunta?
Ele esfregou os olhinhos miúdos, pensou um pouco, e respondeu convicto:
– Os pássaros voam porque eles não têm medo de cair.
Satisfeito consigo, saiu apressado sem me dar tempo a qualquer palavra.
Então fiquei ali, pensando e olhando para o céu. Será mesmo que os pássaros voam porque não têm medo de cair, ou será por outro motivo?
E por que o homem anda? E também posso perguntar: por que os peixes nadam? E poderia fazer mil perguntas aparentemente desconexas, tudo porque preciso descobrir o que leva um pássaro a voar e sempre voar.
E o que tudo isso tem a ver com educação?
Somos pobres criaturas humanas chumbados ao solo pelas nossas preocupações imediatas, esquecidos que a cabeça está acima do pescoço para que possamos olhar para o céu. E quem consegue olhar para o céu é como o filósofo que, olhando os pássaros no céu, se pergunta sobre a vida e tenta descobrir os segredos existenciais que não estão escritos em palavras, mas que devem ser sentidos e apreendidos pela alma.
Todo educador precisa ser um filósofo, um perguntador, um curioso e um escutador de emoções, não apenas dos outros, mas principalmente as emoções próprias, deixando aflorar sentimentos e procurando entendê-los. Em outras palavras, todo educador precisa ser um pesquisador da vida, começando por se conhecer, para depois conhecer a razão que leva os pássaros a voarem.
O autoconhecimento é a essência da educação.
Com o autoconhecimento é possível fazer a autoeducação.
Com a autoeducação é possível dar ao educando aquilo que somos, pois em não sendo assim apenas poderemos dar aquilo que temos, mas esse não é o verdadeiro ato educativo.
Mas a pergunta persiste: por que os pássaros voam?
Tenho por mim, contrariando a sabedoria popular, os poetas e o menino que me levou a estas reflexões, que os pássaros voam porque não têm medo de subir.
Será que, enquanto educadores, sabemos voar para não cair na tentação do tradicional, do burocrático, do sempre foi assim e assim sempre será?