Autor: Astolfo O. de Oliveira Filho
À vista do que a pandemia do coronavírus causou e continua a causar em nosso mundo e vendo o que está ocorrendo no Afeganistão e novamente no Haiti, acometido de novo terremoto, vale a pena refletir acerca de uma antiga questão: Por que encontramos na Terra tanto sofrimento?
Essa pergunta é mais comum do que se pensa e, também, frequente na história da Humanidade. Assim é que vemos no livro de Jó (3:20 e 23) o grande varão da terra de Hus a perguntar ao Senhor: “Por que foi concedida luz ao miserável, e vida aos que estão em amargura de ânimo?”
Atualizando a preocupação daquele que é considerado o símbolo da paciência, pergunta-se com razão por que morrem pessoas no vigor da vida, enquanto enfermos idosos se debatem anos a fio em um leito de hospital.
As aflições humanas e suas causas mereceram de Allan Kardec, o Codificador do Espiritismo, um capítulo inteiro – o capítulo V d´O Evangelho segundo o Espiritismo – no qual ele nos fala sobre as causas atuais e anteriores dos dissabores que acometem a criatura humana.
Sintetizamos em dois tópicos, de forma bem resumida, as considerações feitas por Kardec a respeito do tema:
1 – Muitas pessoas, se examinassem o que têm feito na atual existência, concluiriam sem dificuldade que muitas de suas aflições ou dificuldades são o resultado de suas ações e poderiam deixar de existir se outra tivesse sido sua conduta. Entre essas causas, todas relacionadas com a presente existência, citam-se a imprevidência no agir, o orgulho, a ambição desmedida, a falta de ordem e perseverança, o mau comportamento, a vaidade, os excessos na mesa, os vícios como o tabagismo e o alcoolismo, a negligência na educação dos filhos etc.
2 – Existem, no entanto, aflições e dificuldades inúmeras que nenhuma relação têm com os atos da presente existência e radicam-se, por conseguinte, em nossas existências passadas. Com efeito, como justificar à luz do comportamento atual de uma pessoa a perda de entes queridos, a orfandade precoce, os acidentes que nada pôde evitar, os reveses da fortuna para os quais a pessoa não contribuiu, os flagelos naturais, as doenças de nascença e a idiotia?
Os estudos publicados por Kardec em 1864, quando deu a lume o livro acima referido, receberam inúmeras comprovações já no ano seguinte com a edição do seu livro O Céu e o Inferno, que nos apresenta uma coleção extraordinária de casos, em sua imensa maioria diretamente relacionados com as vivências anteriores de seus personagens.
Os anos passaram e várias décadas depois a mesma tese foi reafirmada nas obras de autoria de André Luiz, sobretudo as constantes da chamada Série Nosso Lar. E nesse meio tempo, entre o período da codificação do Espiritismo e o advento da série escrita por André, surgiu no cenário editorial um dos clássicos da mediunidade – Memórias do Padre Germano, publicado por Amalia Domingo Soler –, que nos apresenta inúmeros exemplos a respeito do assunto e, em sua parte final, a comovente história, psicografada por Chico Xavier, relacionada com o conde Henoch e sua linda mulher Margarida, que envenenou o esposo para, dois anos depois, casar-se com seu cúmplice.
Padre Germano mostra, no livro, a vida de Margarida no plano espiritual, onde durante vinte e cinco anos sofreu muito, e sua reencarnação como Fera, nome pelo qual era conhecida a mulher andrajosa que, embora jovem, fazia rir quem lhe contemplasse o rosto monstruoso, sendo importante enfatizar que o mesmo Espírito envergara no passado, na personalidade de Margarida, um corpo belo e exuberante.
Os homens, obviamente, gostariam de ser felizes e ver-se, desse modo, livres de quaisquer aflições. Ocorre, porém, que o problema da felicidade humana, que constitui uma aspiração válida e natural da Humanidade, não pode ser examinado sem se levar em conta a Lei divina que determina que cada um deve colher no mundo o resultado de sua própria semeadura.
Uma existência corpórea na Terra é, como sabemos, uma passagem muito curta. O homem geralmente se esquece de que, animando um corpo perecível, existe uma alma imortal. E por desconhecer ou desprezar esse fato é que temos situado a felicidade em valores equivocados ou em situações em que, como regra geral, jamais nos encontraremos.
O tema é examinado na Doutrina Espírita em três questões sucessivas d’ O Livro dos Espíritos, a saber:
920. Pode o homem gozar de completa felicidade na Terra?
“Não, porque a vida lhe foi dada como prova ou expiação. Dele, porém, depende a suavização de seus males e o ser tão feliz quanto possível na Terra.”
921. Concebe-se que o homem será feliz na Terra, quando a Humanidade estiver transformada. Mas, enquanto isso se não verifica, poderá conseguir uma felicidade relativa?
“O homem é quase sempre o obreiro da sua própria infelicidade. Praticando a lei de Deus, a muitos males se forrará e proporcionará a si mesmo felicidade tão grande quanto o comporte a sua existência grosseira.”
922. A felicidade terrestre é relativa à posição de cada um. O que basta para a felicidade de um, constitui a desgraça de outro. Haverá, contudo, alguma soma de felicidade comum a todos os homens?
“Com relação à vida material, é a posse do necessário. Com relação à vida moral, a consciência tranquila e a fé no futuro.”
O caso Ismália-Alfredo, narrado no cap. 17 do livro Os Mensageiros, de André Luiz, ilustra o ensinamento contido nas questões mencionadas. Alfredo, um homem bem casado e socialmente bem posto na vida, pôs de repente tudo a perder, em face de uma decisão precipitada de que depois iria arrepender-se amargamente, em face das tristes consequências que seu ato impensado causou.
A mensagem espírita é, por isso, bastante clara: Não podemos perseverar nos erros e nos fracassos do passado.
Emmanuel, a esse respeito, adverte: “O tempo não para, e, se agora encontras o teu ontem, não olvides que o teu hoje será a luz ou a treva do teu amanhã.” (Prefácio que abre o livro Entre a Terra e o Céu, de André Luiz.)
Somos, ensina o Espiritismo, construtores do nosso próprio destino.
Tudo seria para nós bem mais proveitoso se nos lembrássemos de que, consoante atesta a lição evangélica, a semeadura é livre, mas a colheita é compulsória e que, praticando a lei de Deus, a muitos males nos forraremos, proporcionando a nós mesmos uma felicidade tão grande quanto nos seja possível na presente encarnação.
O consolador – Artigos