Autora: Teresinha Olivier
O homem sempre teve a intuição da vida após a morte. É inata no ser humano a crença na continuidade da vida. Isso se verifica em todas as civilizações, em todas as culturas, em todas as épocas.
Por que, então, o homem tem tanto medo da morte?
Deus criou leis perfeitas, leis que visam a evolução do espírito e, uma dessas leis é a do instinto de conservação. Sob essa lei, os homens preservam suas vidas, protegem-se dos perigos, procuram não se expor a situações em que possam colocar suas vidas em risco. É uma lei natural. Se não fosse por essa lei, morreriam com muito mais facilidade.
A encarnação do espírito, a vida material com seus percalços, seus desafios, suas lutas, é necessária para que o espírito desenvolva aptidões, qualidades morais, progrida em inteligência e, gradativamente, através de múltiplas encarnações, vá adquirindo faculdades morais e intelectuais cada vez mais elevadas, cumprindo assim os desígnios de Deus, que o criou para ser espírito perfeito um dia.
É inata também no homem a crença no sofrimento ou na felicidade após a morte, de acordo com o bem ou o mal praticado nesta vida. Essa crença é também antiga na humanidade.
Porém, devido à imperfeição moral e intelectual do espírito na sua caminhada evolutiva, sua imaginação foi criando ideias fantasiosas, e até mesmo grotescas, quanto à realidade da vida após a morte. Essas ideias, alimentadas pela religião, estavam de acordo com o grau de entendimento que as criaturas haviam alcançado, por isso, as situações após a morte criadas pela imaginação e sustentadas pelas religiões, refletiam aquilo que os afligiam ou o que promoviam prazer.
Assim, por exemplo, o efeito da dor que o fogo pode provocar no corpo físico, foi imaginado como sofrimento sem remissão para a alma culpada, que sofreria eternamente num local, criado para esse fim, os efeitos do fogo sem a consumir. Portanto, a própria religião contribuiu muito para que o homem desenvolvesse o medo da morte.
As ideias materialistas também não contribuem em nada para diminuir ou anular o medo da morte. A ideia do nada provoca angústia e medo na medida que o momento da partida deste mundo se aproxima. Tudo o que se conquistou em termos de conhecimentos, os afetos construídos durante a vida, os valores morais e intelectuais adquiridos à custa de experiências muitas vezes desafiadoras, tudo será perdido num grande vazio. Essa perspectiva não é nada confortadora.
Allan Kardec, em O Céu e o Inferno, declara que o medo da morte diminui à medida em que a certeza (e não simplesmente a crença) na continuidade da vida e nas condições da vida após a morte forem ficando mais claras e mais coerentes para os homens.
Segundo o Espiritismo, não existe, no mundo espiritual, sofrimento físico, não existem locais circunscritos de sofrimento ou de felicidade. O sofrimento é moral, como consequência das imperfeições morais ainda não superadas, mas sempre com a oportunidade de reformular a caminhada, de renovar pensamentos, sentimentos e atitudes.
Na erraticidade, situação do espírito que aguarda e se prepara para uma nova encarnação, ele tem a oportunidade de rever sua trajetória e projetar uma nova experiência na matéria com vistas a vencer suas imperfeições e continuar em sua caminhada evolutiva.
O espírito leva consigo as conquistas morais e intelectuais que amealhou com a sua vontade e determinação. Essa conquista vai ser de grande valia para ele no mundo espiritual e nas suas próximas encarnações.
A compreensão profunda do Espiritismo dá a certeza da continuidade dos laços afetivos. Nossos entes queridos não estão perdidos, mas continuaremos ligados e com a certeza do reencontro um dia.
Nada é perdido para o espírito, tanto no campo moral como intelectual.
Quando o espírito inicia uma nova encarnação, ele não é uma página em branco, começando do zero, mas uma alma que já viveu, aprendeu, sofreu, amou, foi amada, errou, acertou, e isso em muitas e muitas experiências no mundo material. Em cada uma dessas experiências, ele parte do que já conquistou para seguir adiante na sua busca de mais e mais elevadas oportunidades de crescimento.
“A Doutrina Espírita muda inteiramente a maneira de encarar o futuro. A vida futura não é mais uma hipótese, mas uma realidade. O estado das almas após a morte não é mais uma teoria, mas o resultado da observação. O véu se levantou: o mundo espiritual nos aparece em toda a sua realidade prática.”
“Não sendo mais permitida a dúvida sobre o futuro, o medo da morte não tem mais razão de ser: enfrenta-se a morte a sangue-frio, como uma libertação, como a porta da vida, e não como a do nada.” (O Céu e o Inferno – cap. II – O medo da morte)
Com o entendimento aprofundado da Doutrina Espírita, o homem adquire a certeza, o medo da morte não o atormenta mais, pois não apenas crê, mas sabe que continuará aprendendo e crescendo como espírito imortal.
Contudo, não desejará partir daqui antes da hora, porque ele também tem a certeza da importância de aproveitar todas as oportunidades de aprendizado e de crescimento espiritual que a encarnação oferece, até o último instante da sua vida na Terra.