Autor: Eurípedes Kuhl
Se fizermos ligeira pesquisa sobre “premonição” encontraremos casos de pessoas que, por exemplo, sonharam com determinada situação e ela aconteceu, ou que, certa vez, quando o telefone tocou, tiveram a certeza de que era o fulano e, no final, era realmente o fulano. A Doutrina Espírita considera esses casos como premonições? Como podemos diferenciar coincidências cotidianas de premonições verdadeiras?
Premonição
Consultando o dicionário vê-se que premonição é uma sensação, um sentimento, uma espécie de advertência de algo que irá (ou está para) acontecer, sem vestígios que o justificassem ou mesmo o indicassem.
Sem esforço e sem prejuízo do significado, pode-se afirmar que presciência, precognição, presságio, pressentimento, em linhas gerais, representam a mesma coisa.
Já pelo enfoque do Espiritismo, premonição seria a faculdade psíquica — espécie de mediunidade — que todos temos, em maior ou menor grau, a qual possibilita o conhecimento antecipado de fatos ou situações futuras.
A premonição ocorre em várias circunstâncias:
– pode representar um bom (ou mau) conselho de um Espírito desencarnado; obviamente, se bom, vem de um amigo; se mau, de inimigo, ou, às vezes, apenas de um zombador inconsequente, que se diverte com o medo ou euforia que provoca;
– antes de nascer, o indivíduo toma conhecimento do seu programa reencarnatório e aí, quando encarnado, conquanto brindado pela Bondade divina com o esquecimento do passado, à aproximação de fato marcante previsto naquele programa, visita-o ligeira impressão daquilo que está para acontecer;
– no sono, esse desdobramento proporciona emancipação parcial ao Espírito que, no plano espiritual, pode então se encontrar com Espíritos afins que lhe dão notícia de algo que está, de alguma forma, sendo engendrado em torno da sua existência, ou do seu círculo de parentesco ou amigos, ou no local em que reside e até mesmo relativamente ao plano terreno. Temos como exemplo dessa última hipótese as visões dos profetas, de todos os povos e em todos os tempos;
– relato o instigante caso de “premonição coletiva”, isto é, muitas pessoas tiveram a mesma visão antecipada de um acontecimento marcante na história da navegação marítima… Refiro-me, sim, ao navio “Titanic”.
Para ilustrar sonhos premonitórios, valho-me de um fragmento extraído do meu livro “Sonhos: viagens à alma”, (cap. 1 – Tipos de sonhos), editado em 2001, pela Butterfly Editora, SP/SP:
(…)
– premonitórios: de propósito, deixamos para encerrar este capítulo o fascinante e antiquíssimo “sonho humano” de interpretar os sonhos premonitórios, tidos desde sempre à conta de sobrenaturais.
O encantamento de que se revestem os sonhos premonitórios induz-nos a uma atitude de máximo respeito com os pensadores antigos, modernos e contemporâneos, que se debruçaram e se debruçam na investigação de como é que eles, os sonhos, podem acontecer.
Uma coisa é certa: a todos aqueles pesquisadores, exclusive os que são espíritas, acometem ardentes perguntas irrespondidas, dando causa a redobradas reflexões, teses e hipóteses, sem que o consenso seja alcançado.
Só para exemplificar, vejamos alguns:
Sonhos sobre tragédias
Existem sonhos que são mesmo impressionantes: noticiam tragédias com antecipação, com detalhes.
Titanic: Talvez o acontecimento trágico humano que mais predições teve foi o afundamento do navio “Titanic”, em 14.abril.1912, no qual morreram mais de mil e quinhentas pessoas:
– Um jornalista inglês, William Thomas Stead escreveu uma reportagem fictícia na década de 1880 sobre um grande navio de passageiros que afundara no meio do Oceano Atlântico. A reportagem foi publicada no “Pall Mall Gazette”. Em 1892, escreveu outro artigo citando uma imaginária colisão de um navio com um iceberg, no Atlântico. Em 1910, fez uma palestra, sempre citando a necessidade dos construtores de navios equipá-los com botes salva-vidas suficientes, do contrário, haveria tragédias. Na palestra, citou que ele próprio se via morrendo afogado nas águas geladas, vítima de um naufrágio. Stead, sabendo que a “Cia. White Star” estava construindo um transatlântico, que se chamaria “Titanic”, resolveu consultar vários videntes. Um deles (W. de Kerlor) sonhou que Stead faria uma viagem aos EUA e o via junto a mais de mil pessoas, afogando-se e pedindo socorro. Stead sequer pensava em viajar.
Mas acabou mesmo como náufrago do “Titanic”…
Em 26.abril.1912, isto é, doze dias após o naufrágio do “Titanic”, o Espírito Stead, pela mediunidade da Srª Coates, em Glanberg House, Escócia, comunicou-se. Sabia-se já desencarnado. Pedia preces pelos demais náufragos, aos quais ele próprio não podia ajudar, pois que ainda sentia dificuldades. Citou que a maioria dos náufragos, desconhecendo a vida após a morte, sofria terríveis angústias, aturdidos ante a situação inesperada. A seguir faz exortação evangélica, recomendando o não engrandecimento pelos bens terrenos. Informou que, a seu pedido, os músicos de bordo tocaram “Perto de Ti, meu Deus, mais perto de Ti!”. Narrou que tanta foi a emoção dos músicos executando aquele hino, que logo ouviram-se Espíritos cantando-o em voz melodiosa, espargindo, em profusão, eflúvios de luz suavíssima.
De fato, sobreviventes da tragédia do “Titanic” relataram que William T. Stead, ante a iminência da morte, nos terríveis momentos que precederam à morte inevitável, amparava e confortava seus companheiros de desdita. (Admirável!).
A mensagem mediúnica de Stead foi publicada no “American Register”, por iniciativa do Sr. James Coates, marido da médium;
– Morgan Robertson, autor nova-iorquino, em 1898, após ter entrado em transe, segundo declarou, escreveu e publicou um romance, a que deu o título Futilidade. No livro, descrevia que um navio, numa noite gélida de abril, com velocidade imprudente devido às brumas, com três mil passageiros, chocava-se com iceberg. Nome do navio: “Titan”…;
– Um negociante de Londres (J. Connon Midleton) sonhou, duas noites seguidas, que estava vendo os destroços do “Titanic” e os passageiros e tripulação nadando ao redor do navio. Cancelou a viagem que havia programado naquele transatlântico…;
– Anos após a tragédia do “Titanic”, pesquisadores concluíram que eram autênticas, pelo menos, dezenove premonições, através de sonhos, transes, visões e vozes.
Premonição e formas-pensamento
A psicosfera terrena (atmosfera astral da Terra) está e é, toda ela, permeada e entrecruzada de formas-pensamento, de Espíritos encarnados e desencarnados, e aí, algumas pessoas, uma ou outra vez, na vigília ou no sono, em uma ou outra sintonia, pode estar com seu canal psíquico (estado mental) receptivo e captar fragmentos do conteúdo de fatos ou situações futuras inevitáveis que já são do conhecimento de outros Espíritos — testemunhas ou os que engendram tais fatos ou situações. Quanto mais abertura mental, mais precisão na premonição (detalhes – quando, onde, com quem etc.).
Premonição e instinto
O instinto (sublime ferramenta de sobrevivência de todos os seres vivos) responde por grande número de pressentimentos; nesse caso, a forma absolutamente autônoma como o instinto opera torna totalmente imprevisível seu mecanismo, não sendo, pois, passível de ser “administrado” (processado, desenvolvido, aumentado).
Premonição e intuição
Já a intuição, que tanto maior será em razão da elevação moral, também justifica e contempla o conhecimento de fatos futuros, por situar o indivíduo em sintonia mais ou menos permanente com os Espíritos evoluídos responsáveis pela realização de tarefas neste planeta. Se me permitem, imagino que a intuição é a depuração máxima do instinto: quanto mais depuração moral, ocorrerá aumento intuitivo e decréscimo instintivo; assim, quanto mais virtuoso for o Espírito, maior será sua intuição e, inversamente, menor seu instinto.
Premonição e “dupla vista”
A “dupla vista” (o indivíduo, na vigília, ver com os olhos da alma fatos distantes ou futuros) pode também proporcionar pressentimentos. Voltando a falar dos profetas, parece-me que foi pela dupla vista de vários profetas que temos registros históricos de vários perigos que foram afastados ou, ao menos, minimizados. Como exemplo podemos citar a interpretação exata de incontáveis sonhos bíblicos: José – in Gênesis 41:15-30, 47-49, 54; Gideão – in Juízes 6:11, 7:13-22; Nabucodonosor II – in Daniel 2:1-9, 29-45; e 4:10-17; José, pai de Jesus – in Mateus 1:20-21; 2:13; 2:20.
Quer-me parecer que a “dupla vista” é atributo de Espíritos evoluídos, sendo que Jesus é o exemplo máximo de Espíritos que a possuem, como, aliás, de todas as demais faculdades e dons morais.
Coincidências cotidianas
No exemplo citado (da pessoa “saber” antecipadamente quem está ao telefone que tilinta) nada objeta supor que isso acontece pelos mesmos insondáveis, conquanto frequentes, casos de telepatia (comunicação direta de duas mentes, sem intermediários). Uma coisa, porém, parece governar tais ocorrências: que os dois Espíritos sejam afins e estejam sintonizados numa mesma faixa vibratória.
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Pode-se dizer que uma pessoa que tem premonições é médium? Qual é a definição de médium?
Não. Não pode. Médium, em linhas gerais, é um indivíduo que possui a faculdade mediúnica orgânica que o possibilita ser intermediário do plano espiritual com o terreno, comunicando-se com Espíritos desencarnados. Há casos, mais raros, de comunicação de Espíritos inter vivos, isto é, encarnados ambos: o médium e o locutor, o qual, nesse caso, onde estiver estará desdobrado pelo sono (dormindo), ou, no mínimo, em lassidão.
Por oportuno, registro que “mediunidade” é faculdade orgânica, variável de existência terrena para existência terrena, e constitui bênção divina, verdadeira ferramenta evolutiva para ser usada a benefício do próximo, jamais como usufruto de quem a tem; já “dom” é conquista individual, patrimônio inalienável, que demonstra mérito aquisitivo, fruto de não poucas vitórias ante toda sorte de dificuldades ou adversidades próprias do roteiro evolutivo terreno. Num e noutro caso, inexoravelmente prevalece o livre-arbítrio do detentor, episódico (da mediunidade) ou definitivo (do dom), para o uso que fizer disso… respondendo, porém, por tal opção, segundo a Lei de Ação e Reação.
Como o Espiritismo explica que algumas pessoas tenham a faculdade de prever acontecimentos futuros e outras não?
A premonição (previsão de acontecimentos futuros) é faculdade que apresenta “n” graus. As pessoas que a têm em alto nível se tornam marcantes. Mas, via de regra, todos temos essa faculdade, por isso é que aparentemente há quem não a possua…
Pessoas que têm a faculdade da premonição também podem ter visões de Espíritos? Uma coisa está necessariamente relacionada à outra?
Sim, para a primeira pergunta; não, para a segunda.
No Espiritismo, como uma pessoa que tem a faculdade da premonição ou da clarividência aprende a conviver com essa faculdade?
Essa pessoa será a responsável única pelo emprego que fizer dessa faculdade. Explicam os Espíritos Superiores, relembrando Jesus, que deve ser dado de graça, tudo aquilo que de graça for recebido… O melhor emprego, evidentemente, será pautado pelo bom senso: muito tato, para não desandar a contar tudo o que pressente, evitando causar desconforto ou inaugurar preocupação em quem quer que seja; divulgar só aquilo que promova o bem, coletivo ou individual, ou que resulte em atitudes de precaução, de prudência, de vigilância.
Como uma pessoa pode ter a certeza de que ela é médium? Existem alguns sinais que indicam isso?
Obs.: Responderei essa pergunta, conquanto ela não se enquadre no estudo da premonição, até porque nada objeta que um médium eventualmente tenha alguma premonição, não necessariamente advinda de mediunidade.
Normalmente não se poderá e nem se deverá afirmar “a priori”, de imediato, que é médium aquele indivíduo que apresenta alguma anormalidade psíquica ou comportamental, ou que esteja sendo visitado por acontecimentos estranhos, inusitados, inexplicáveis.
Existem, sim, alguns sinais ou sintomas que podem, subjetivamente, serem indicativos — apenas indicativos — de eclosão da mediunidade.
Prudente, nesses casos, será aguardar a repetência ou continuidade dos sintomas e que esse indivíduo passe a frequentar um Centro Espírita, para ser orientado por espíritas estudiosos e prudentes, detentores de experiência mediúnica ou doutrinária, os quais analisarão o caso, sem emitir diagnósticos apressados, do tipo “é mediunidade a desenvolver!”. Aí, com observação fraternal e contínua, o próprio tempo definirá se realmente se trata de mediunidade ou se a pessoa deve ser encaminhada à Medicina terrena — outra grande bênção neste planeta. Só no primeiro caso, essa pessoa deverá ser matriculada em cursos de mediunidade, passar a assistir palestras doutrinárias, receber passes, engajar-se em alguma atividade filantrópica, para então, mais tarde, ser convidada a participar de grupo mediúnico.
O consolador – Ano 10 – N 471