Artigo: Mocidade Espírita – Fonte: Anuário Espírita de 1971
Os espíritas podem agora começar, como reais pensadores e filantropos, a trabalhar nas verdadeiras raízes da sociedade.
Estas palavras foram pronunciadas há 100 anos, quando o movimento de jovens espíritas foi iniciado em New York, no dia 25 de janeiro de 1863. São, todavia, tão atuais como se tivessem sido pronunciadas hoje pela manhã. Com elas Andrew Jackson Davis iniciou o movimento de jovens espíritas no mundo. Davis foi um extraordinário médium americano nascido em 11 de agosto de 1826, em Blooming Grove, Orange County, Estado de New York. Desencarnou em 1910.
Propagandista espírita e sensitivo de extraordinária faculdades, Davis foi levado, em transporte, a uma colônia espiritual que lhe disseram chamar-se Summerland. Ali deparou com uma organização social maravilhosa, destacando-se grupos de jovens em labor espiritual. Em confronto com o que viu, as escolas dominicais das diversas religiões na Terra pareceram-lhe verdadeiras aberrações onde as crianças encarnadas aprendiam toda uma série de idéias errôneas e perniciosas, capazes de torná-las limitadas e intolerantes, arruinando-lhes a vida.
Numa palestra realizada no Dodsworth Hall, nº 806, Broadway, New York, no dia 25 de janeiro de 1863, narrou o que viu e fez comparações com o que existia na Terra. Ao conjunto de seus pensamentos foi dado o nome de Harmonial Philosophy.
No mesmo dia foi iniciado o novo movimento, abrangendo jovens de todas as idades, dando começo ao que no Brasil denominamos “Curso de Moral Evangélica” e Mocidades ou Juventudes Espíritas. A isto Davis denominou Children’s Progressive Lyceum, flagrantemente homenageado a antiga escola ateniense onde Sócrates ministrava ensino aos seus discípulos. Assim nasceu o Movimento Liceumista no seio do Espiritismo. Dai para a frente, propunha-se que a criança e o jovem deveriam aprender as verdades do mundo espiritual mediante uma compreensão racional e não mais em conformidade com as rançosas prescrições da teologia ortodoxa.
As reuniões eram dominicais e nelas faziam-se promoções em torno da verdade, do amor, da beleza, da arte, da saúde, da ciência e da filosofia. Essa instrução, entretanto, deveria ser ministrada de quatro maneiras diferentes. Fisicamente por exercícios e diversões sadias; intelectualmente, pela leitura e o estudo; moralmente, pelo estudo da mente e o encorajamento ao aprofundamento de raciocínios; e com mais ênfase, espiritualmente, pelo exame das verdades que constituem o eixo da vida.
Um dos lemas do movimento era: Vivemos para aprender e aprendemos para viver. A Inglaterra foi o segundo país a acolher o movimento de jovens espíritas, levado à ilha por James Burns, editor do Medium and Daybreak. O avanço na Grã-Bretanha foi feito pelas cidades de Nothinghan, em junho de 1866 e Keyghley, no Yorkshire, onde, em 1853, com seus amigos owenistas(discípulos do líder socialista Robert Owen), David Richmond havia fundado o primeiro templo espírita da Inglaterra. Com o progresso do núcleo de Keyghley, fundado em julho de 1870, em outubro de 1884 fundava-se o terceiro em Sowerby Bridge.
Andrew Jackson Davis, o fundador do movimento de mocidades espíritas, foi uma espécie de João Batista , preparando o caminho para a Terceira Revelação já bem antes das Irmãs Fox e Allan Kardec.
O movimento liceumista floresceu extraordinariamente, até 1930, quando entrou em declínio. Os freqüentadores se tornaram mais raros e os núcleos se foram extinguindo. E é muito curioso notar que, ao mesmo tempo, a idéia como que se transferiu para o Brasil. A 22 de maio de 1932 moços espíritas se reuniam em São Paulo e ali, no Centro Maria de Nazaré, constituíam o primeiro núcleo de que se tem notícia em terras do Cruzeiro. Tal qual sucedeu com o movimento esboçado por Davis, a idéia se propagou. O segundo núcleo brasileiro parece ter sido em Santos, Estado de São Paulo, fundado a 14 de junho de 1934. O Andrew J. Davis brasileiro chamou-se Luís Gomes da Silva.
Tendo por modelo o grupo paulista, em 1936 outras entidades de jovens começaram a surgir no Rio de Janeiro.