Autora: Cristina Sarraf
Somos Espíritos reencarnantes, evoluindo gradativamente e tendo arbítrio proporcional à evolução e não linear, porque ela também não é.
O arbítrio está representado na consciência (conhecimento íntimo, fruto das vivências), pensamento (modo de entender, considerar e “ver” cada detalhe da vida) e nos atos (consequência de como se pensa sobre…).
As leis universais estão em nossa estrutura espiritual e se desenvolvem gradativamente. Por isso funcionam conforme as condições pessoais e específicas de cada Espírito, seja qual for seu grau evolutivo.
O desenvolvimento se faz sobrepondo vivências e experiencias, boas ou ruins, sempre parciais, limitadas e tendenciosas, porque não acontece por degraus e sim detalhes e facetas. Mas sempre cumulativo e necessitando de reciclagem, conforme amadurece o entendimento sobre cada detalhe da vida.
Consequente ao modo de entender e pensar, nossas reações também são pessoais, por mais que sejam influenciadas por pessoas, Espíritos, situações e o inesperado.
Só observando-as podemos nos avaliar e “descobrir” o que temos feito de nós mesmos.
Observar é observar. Analisar é analisar. Condenar, culpar, absolver-se, terceirizar responsabilidades é outra coisa!
Se nossa relação conosco não for feita de nossas verdades, compreensão e amorosidade, é melhor ignorar-se e deixar “o barco correr”.
A consciência desperta para o processo evolutivo funciona de forma diferente do nublamento consciencial provocado pelo medo de Deus, dos Homens, de errar e de não ser moralmente inquestionável.
A saga do medo em nossa sociedade, ainda bastante ativa, provoca o uso do arbítrio apenas como repetição de condutas aprovadas socialmente e obediência aos considerados líderes familiares, espirituais ou sociais.
Usar o arbítrio dessa forma, delimitado e dependente, pode evitar certo tipo de dificuldades e até promover algumas conquistas, porque a força espiritual está posta no seguir regras e normas, de forma passiva e obediente. O que não estanca a evolução, é claro, porque sendo lei universal, não pode ser infringida. Mas retarda o autodomínio, as escolhas pessoais e o enfrentamento de suas consequências, que terão que existir algum dia.
Quem escolhe acerta e erra! E parece para quem só obedece e mantem rotinas e costumes, que as escolhas pessoais não devem ser feitas, por provocarem problemas.
Há até quem divulgue e quem aceite, que não há valor algum em agir e pensar bem, pois o único mérito reconhecido e premiado por Deus é temê-lo!! O temor de Deus e sujeitar-se a “sua” vontade, expressa por quem se diz seu representante, seria a maior das qualidades humanas!
Divergindo opostamente, o Espiritismo nos convida à autonomia, pela escolha diuturna de modos de entender e pensar, aprimorando ou desenvolvendo conceitos, ideias e condutas.
Nessa tarefa de auto-observação respeitosa e amorosa, é possível perceber se as circunstâncias externas e as internas, estão recebendo a necessária e justa carga emocional, e, portanto, fluídico-energética. Ou se há exagero ou falta.
Tudo que nos diz respeito ou envolve, de forma direta ou indireta, provoca uma reação diretamente proporcional o nosso modo de pensar e sentir a esse respeito.
Essa reação é espiritual, qualifica o perispírito de maneira igual e se caracteriza emocionalmente no corpo físico de forma determinista, por ele ser de matéria densa, ou seja, sujeito às leis físico-químico-biológicas, que funcionam sempre igual.
As emoções deixam resíduo orgânico, porque produzem substâncias intracelulares do seu teor, que no natural são eliminadas pelo metabolismo. É o que acontece com os animais. Nós humanos, por causa de ideias, conceitos, medos, traumas, imitação do comportamento de outros, questões psíquicas… costumamos conservá-las, por retermos psicologicamente suas causas, lembrando e repisando, o que acarreta uma contínua produção das substâncias correspondentes. E isso vai mudando o funcionamento de órgãos e sistemas, levando à disfunções e ao adoecimento. Por decorrência, comprometemos a mente e as condições espirituais, facilitando influências negativas e perturbadoras.
Sendo as emoções fruto de reações físicas, sempre segundo nosso modo de pensar, é esse modo, em suas nuances e detalhamentos sobre cada coisa, que precisa ser revisto, quando percebemos estar exagerando ou dando pouca importância para o que nos diz respeito ou nos envolve de alguma forma.
Excesso de carga emocional para coisas que precisam de pouco, ou pouco para o que precisa de mais, denota uma avaliação desequilibrada ou sem a devida atenção.
A solução está na auto-observação e respeitosa análise dos porquês e como, para tal ou qual causa damos maior ou menor intensidade energética. Sobretudo quando há repetição, ou seja, vai se tornando ou já é, um hábito mental.
O possível equilíbrio pessoal, independentemente de como agem e reagem os outros, traz autoconfiança crescente, aumento de sintonias positivas e bem-estar íntimo.
Vista como obrigação, essa avaliação torna-se um peso e um modo autolimitante de viver. Vista como um investimento a médio prazo, conquistado aos poucos, é um processo libertador e equilibrante.