Autor: Felipe Gallesco
Construir ou melhorar um modelo didático é assunto de fundamental importância, cuja discussão deve estar presente na pauta de todas as reuniões administrativas de departamentos da casa espírita.
Para compreender sua importância segue definição da palavra didática: “Didática consiste na análise e desenvolvimento de técnicas e métodos que podem ser utilizados para ensinar determinado conteúdo para um indivíduo ou um grupo. A didática faz parte da ciência pedagógica, sendo responsável por estudar os processos de aprendizagem e ensino”1.
O objeto de estudo da casa espírita é propriamente a doutrina dos espíritos, tomando como alicerce os cinco livros organizados por Allan Kardec. O primeiro livro intitulado de O Livro dos Espíritos foi publicado em sua primeira edição em 1857, exatamente há 161 anos, sendo organizado através de perguntas e respostas.
De lá para cá muita coisa aconteceu no mundo. A tecnologia surgiu, trazendo diferentes facilidades e melhorando a comunicação, o que também facilitou nas tarefas da casa espírita. Hoje, boa parte das casas utiliza data show nas palestras públicas, tornando mais interessante a explicação. Alguns assuntos administrativos são discutidos em grupos de WhatsApp, evitando que sejam marcadas reuniões presenciais para tratamento dos mesmos.
As gerações mais novas já estão sendo educadas para aceitarem e utilizarem a tecnologia para facilitar tarefas do dia a dia, principalmente na questão de educação. Hoje, muitas escolas já utilizam nas aulas ferramentas interativas onde o jovem, não somente observa o conteúdo, mas interage e o assimila com muito mais eficiência.
Participando e interagindo o jovem aprende mais, por isso é necessário que alguns departamentos da casa espírita repensem sua forma de trabalho e utilizem uma didática própria e diferente dos demais departamentos, principalmente na infância espírita, pré-mocidade e mocidade.
Tenho observado diversos grupos de mocidade se queixando da falta de participantes, de jovens perdendo a vontade de continuar frequentando a casa espírita ou ainda departamentos sendo fechados. Quando questiono a forma didática utilizada, frequentemente vem à resposta: Leitura do livro da codificação e abertura de espaço para discussão.
Esse método pode funcionar em outros departamentos, porém, coloque-se no lugar de um jovem de 14 anos, sentado na cadeira por 2 horas seguidas, lendo e pouco discutindo um livro de 161 anos. Parece atrativo?
A doutrina espírita é interessantíssima pelos assuntos abordados e clareza nas ideias, porém é necessário repensar a forma de trabalho e perceber que não se pode ficar preso nos modelos pedagógicos do passado. Toda facilidade deve ser observada e testada.
Existem ainda dirigentes espíritas que não perceberam que a mocidade espírita deixou de ser somente uma reunião!
Sim! Na reunião o jovem dedica geralmente 2 horas de seu tempo semanal para estudo da doutrina com seu grupo de mocidade.
Já aconteceu uma mudança neste cenário, pois boa parte das mocidades possuem grupos de WhatsApp e Facebook, fazendo com que as discussões dos temas continuem em diferentes dias e plataformas.
O compartilhamento de uma palestra do Youtube; a discussão em torno de um texto; a análise de alguma tragédia que saiu no jornal; um episódio de alguma série que trata de algum tema que pode ser discutido sob o ponto de vista espírita, são exemplos que já estão acontecendo em muitos grupos jovens.
O conteúdo está sendo assimilado através de diferentes canais e toda a comunicação está ocorrendo numa intensidade maior, comparada ao que existia nos últimos anos, sem essas facilidades.
É importante que os dirigentes façam uso desses recursos e repensem a forma de estudo, pesquisando no Google dinâmicas de estudo em grupo.
Por exemplo: sabendo que na próxima semana o tema será aborto, além do estudo das questões de O Livro dos Espíritos, pode-se organizar os participantes em dois grupos, com opiniões diferentes e promover um debate, pesquisando-se casos reais e depoimentos na Internet.
Ainda, é possível utilizar data show, ir compartilhando parte do conteúdo nos grupos de WhatsApp, passar depoimentos na própria tela do celular durante a reunião, utilizar músicas e outros recursos. Fazer o jovem construir e participar, respeitando as limitações de espaço e recursos da casa espírita.
O trabalho de preparo para montar a reunião será muito maior, mas os participantes terão muito mais recursos para assimilar o conhecimento e fortalecimento dos laços de amizade do grupo.
Infelizmente não tenho um número estatístico para apresentar, porém nas diversas casas que visitei para acompanhar o trabalho da mocidade, nestes últimos anos, eu pude observar que todo grupo que utilizava diferentes métodos didáticos funcionava bem, enquanto aqueles, presos somente na leitura de livros, permaneciam em constante dificuldade.
Discutindo este assunto com os mais jovens no grupo onde participo, tive como resposta que todos preferem o estudo de caso, ou seja, observar uma situação real, de realidade diferente daquela vivida pelos participantes, e relacionar com o conhecimento da doutrina.
Tomando como exemplo, no estudo sobre aborto, a temática começou com o seguinte texto:
“A mãe está grávida e tem tuberculose, o pai tem sífilis. Dos quatro filhos: o primeiro nasceu cego, a segunda filha morreu, a terceira é surda e a quarta é tuberculosa. Os pais estão dispostos a fazer um aborto, qual sua opinião sobre o que fazer?!”.
A partir desta discussão foi utilizado O Livro dos Espíritos e outros recursos.
Acredito que discutir e melhorar a didática na casa espírita seja o ideal, por causa de toda mudança que está ocorrendo no mundo, principalmente no campo das descobertas de aprendizagem. Se hoje repensar a forma de trabalhar é extremamente necessário para a mocidade espírita continuar existindo, acredito que chegará (se já não chegou) o dia onde os demais departamentos da casa terão a mesma questão.
referências:
1: https://www.significados.com.br/didatica/
Imagem em destaque: Arquivo de estudo do departamento de mocidade, distrital Tatuapé
