Autor: Osmar Maciel
A tarde era suave e calma. Um velho sábio, montado em seu cavalo, companheiro de muitos anos, saiu de casa e foi pela estrada deserta, rumo à vila, para adquirir suprimentos.
De repente, ouviu um gemido. Estacou, apeou pressuroso e foi descobrir o doente à beira do caminho.
Era, porém, um ladrão, que se levantou de um salto e se apoderou do cavalo.
O sábio, com dor profunda no coração, segurou as rédeas antes que o malfeitor escapasse e disse, lentamente:
– Sou velho, nada posso fazer para impedir-te de levar minha montaria. Pagaste o bem com o mal. Nada importa.
Dou-te o cavalo, com uma condição; não diga a ninguém o que fizeste.
E diante do olhar de incompreensão do assaltante, completou:
– Porque amanhã poderá alguém cair no meio da vala e ninguém o socorrer por medo de ser assaltado.
O ladrão, envergonhado da má ação, apeou do cavalo e restitui-o ao sábio.
– Sua sabedoria e bondade me tocaram o coração. Vá em paz com o que lhe pertence, e que Deus me ajude a ser doravante, um homem de bem, como o senhor.
Sim amigos ! São fatos notórios as incríveis ciladas armadas pelas pessoas de má-fé, em se tratando de roubar os incautos. E quando utilizam-se de expedientes semelhantes aos da estória, raramente são mal sucedidos, porém, geram estados de desconfianças tais, que ao ver alguém agonizante caído na calçada, muitos “passam ao largo” até que apareça – para sorte do infeliz – um samaritano de plantão.
Insensibilidade? Não.
É medo mesmo.
Moral da história
Aqueles que passem por tal experiência, impotentes para impedir que o malfeitor se apodere de seus pertences, a exemplo do sábio, não permita que lhe roubem também a esperança e a certeza da perfectibilidade do gênero humano; pois, como diz Lacônico, um velho amigo:
Ninguém é roubado. Apenas devolve.