Autor: Felipe Gallesco
A fim de compartilhar experiências, segue uma história fora do comum.
No ano de 2016, a Semana do Jovem Espírita do Tatuapé (SEJEST) foi realizada no mês de Julho e apresentou o tema “Quebrando Panelas”, mobilizando diversos jovens, adultos e casas espíritas.
O trabalho de palestras e arrecadações já havia acabado, porém a vontade de continuar com o trabalho ainda não. Nesse ano eu era um dos jovens envolvidos na organização do evento.
Conforme havia sido planejado em cronograma pelo Departamento de Mocidade no início do ano, e para manter a união dos jovens espíritas da região, criaríamos uma pós SEJEST. O evento seria uma espécie de curso, com duração de um dia, restrito para jovens espíritas e dando continuidade ao tema estudado durante a semana do evento.
Como de costume, dividimos a organização do evento em: equipe de doutrina (responsável por desenvolver o estudo, dinâmicas e interações) e equipe de organização (responsável pela recepção, limpeza, comida e que daria apoio às salas de estudo).
Na montagem do evento todos poderiam fazer um pouco de tudo. O trabalhador responsável pela limpeza poderia, além de sua tarefa, participar da construção do estudo que seria aplicado. A divisão de funções ocorre principalmente no dia do evento.
Estimávamos um total de 80 jovens participantes de 10 casas espíritas diferentes. No geral, essa era a média de participações para evento desse porte, no histórico do DM USE Tatuapé (grupo que estava organizando).
Fizemos uma grande divulgação pela Internet. Mandamos por e-mail sugestões de rotas para quem optasse pelo transporte público; preparamos lanche para 80 pessoas, pois o evento seria durante a tarde; os crachás já estavam cortados em cima da mesa da recepção e aguardando os nomes; os materiais que seriam utilizados na dinâmica de apresentação também estavam prontos; a prece realizada pelo grupo de trabalhadores já havia sido feita.
Só faltava uma coisa. Os participantes encarnados!
Aproximadamente 1 hora antes do evento, o tempo mudou completamente e caiu uma chuva torrencial. Como na cidade de São Paulo muitas ruas alagam, acreditamos que boa parte dos participantes resolveu não se arriscar.
Por parte da organização, quando percebemos a tempestade, já imaginamos que o número de comparecimento seria menor, porém não ter ido um único jovem foi surpresa.
O ânimo de todos mudou drasticamente, ao certo não sabíamos como nos portar. Em algum momento, um dos trabalhadores questionou como faríamos com os espíritos de jovens que poderiam estar ali. Tentamos, às pressas, adaptar todo o material para refazer o estudo em menor escala, mas sentimos dificuldade, pois todos os trabalhadores encarnados já haviam estudado bastante o assunto e discutirmos novamente entre nós seria chato e repetitivo.
Um pequeno grupo começou a brincar de adivinha, porém não era um adivinha comum, o tema era sobre super-heróis e vilões.
Em questão de minutos todos já estávamos empolgados na brincadeira. Nesse instante, veio outro questionamento: Podemos usar o espaço destinado para realização de um evento espírita somente para brincadeiras? O que seria do estudo com o qual havíamos nos comprometido a fazer?
Uma observação importante é que estávamos no salão de palestras de uma casa espírita. Muito raramente montamos algum trabalho de estudo fora da casa espírita, geralmente quando isso ocorre é devido aos centros espíritas disponíveis não terem capacidade física para receber tantos jovens. Nesses casos usamos geralmente escolas públicas.
Enfim, a conversa entre os jovens no salão foi retomada e desta vez o assunto era: o que devemos fazer com o evento sem participantes?
Na casa espírita em que estávamos existia um trabalho de yoga e, nessa altura do campeonato, já havíamos pegado os colchões e levado para o salão (ficar muito tempo em cadeiras de plástico pode ser desconfortável). Praticamente cada jovem ficou em um espaço diferente participando da discussão.
Acredito que descobrir o que falta na equação abaixo seja bastante fácil.
Chuva + lugar confortável + comida de sobra + vontade de aprender… Falta?
Acertou quem pensou filme!
Aproveitamos que o salão de palestras tinha data show e escolhemos assistir a um bom filme.
Praticamente todos ali já haviam assistido os principais filmes espíritas. Queríamos alguma coisa nova, que pudesse contribuir para uma discussão instrutiva.
Cada jovem encarnado presente deu um palpite e como não chegávamos numa opinião comum foi realizada uma votação.
O filme vencedor chamava-se ‘O doador de memórias’. Na narrativa é apresentada uma sociedade, aparentemente perfeita, que escondeu toda emoção e história da humanidade para manter-se em falso equilíbrio.
No final do filme todos gostaram e tivemos um debate, relacionando os assuntos com as ideias contidas nas obras básicas de Allan Kardec.
O evento chegou ao fim e contou somente com a participação dos trabalhadores. O clima de tristeza, bem como a chuva que ainda teimava em cair, foi esquecido.
No final a conclusão que chegamos foi:
Podemos nos planejar e antecipar diversas situações, porém ninguém sabe ao certo como tudo acontecerá. Imprevistos acontecem e a nossa vontade de ajudar e fazer o bem não pode depender das expectativas que criamos. Nada é fracasso e, às vezes, o que Deus espera de nós é que deitemos um pouco para assistir a um bom filme.
Gratidão aos amigos que compartilharam esse dia comigo!