Autora: Eugênia Pickina
Nunca ajude uma criança enquanto ela estiver executando uma tarefa na qual ela sente que pode ser bem-sucedida
Maria Montessori
Nenhuma criança nasce sendo um tirano, mas existem pais que não agem como adultos educadores e, por isso, fazem todo o tipo de concessões para não ter problemas e, no final, o que geram é um problema e assim se tornam reféns de seus filhos (pequenos ou grandes).
Sobre os filhos tiranos, os pais reféns se justificam: “ele só come o que quer…”, “ela fica assistindo à TV até tarde e só dorme de madrugada…”, “ele chora e faz birra quando não fazemos o que ele quer…”. “Ele detesta ser interrompido quando está no celular.” E “ele” ou “ela” diz respeito a crianças de 2, 3, 4, 8, 9 anos…
Muitos pais e mães precisam entender que um pressuposto básico relacionado à maternidade ou à paternidade significa assumir responsabilidade pela vida de uma criança, guiando-a durante seu crescimento, pois a infância é um período crucial na formação da personalidade de uma pessoa, de sua autoestima, ou seja, da visão de mundo e de hábitos que vão estruturar seu modo de gerir mais tarde a própria vida e definir seu papel na sociedade.
Educar não é permitir tudo. Regras de conduta e proibições são essenciais para o desenvolvimento de uma criança. Ademais, não dar aos filhos uma clara consciência de limites significa criar pessoas egoístas, intolerantes, despreparadas e, ainda, extremamente suscetíveis a graves riscos e dificuldades no futuro.
A quem enganar? Crianças não têm maturidade suficiente para decidir pautas sobre o seu cotidiano, saúde, bem-estar. Não têm noção, por exemplo, sobre a hora adequada para dormir, o que precisa comer no desjejum ou no jantar; o lanche ideal para levar à escola; o tempo que pode passar diante da televisão… Nem crianças na segunda infância ou adolescentes, na realidade, têm total capacidade de decidir essas coisas sozinhos. Os filhos necessitam, por isso, de alguém que tenha condições de orientá-los com bom senso e disciplina, e também de repreendê-los quando cometerem erros, pois é essa dinâmica que contribuirá para que se tornem pessoas capazes de cuidarem de si mesmas e agregarem na vida adulta valor à sociedade…
É importante deixar claro que educar é saber dizer “sim”, mas também conseguir, sem medo, dizer “não”. Pois crescer significa também passar por frustração, decepção, raiva, tristeza. Pais que amam, pais suficientemente competentes não temem contrariar a vontade do filho com três ou onze anos.
Obviamente, bons pais são atenciosos e presentes. Sabem, no entanto, que é um erro dar poder a uma criança ingênua, que precisa ser orientada. Sem usarem da rigidez, são firmes, coerentes e se dedicam com paciência a ajudar o filho ou a filha a crescer bem e se tornar um ser humano consciente de seus direitos e deveres.
De um modo simples, mas persistente, a clareza de limites e barreiras, o reforço positivo e, principalmente, a presença atenciosa dos pais dará aos filhos a segurança para desenvolverem-se como pessoas autônomas e felizes.
Notinha
Em um artigo para o jornal britânico The Independent, o jornalista Steve Connor fala de um “exército chinês de pequenos imperadores”, fruto da superproteção do filho único por parte de pais e avós, que querem dar-lhe os luxos e privilégios que a eles foram negados. Isso, somado ao aumento da renda per capita das famílias, multiplicou os “pequenos tiranos” até limites imprevistos. Connor afirma que as crianças chinesas atuais são “menos altruístas e confiantes, mais tímidas, menos competitivas, mais pessimistas e menos atenciosas com os demais”.
O consolador – Ano 13 – N 641 – Cinco-marias