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Reconhecendo a própria sensibilidade

Autora: Cristina Sarraf

Nas múltiplas reencarnações, nós Espíritos desenvolvemos a sensibilidade, a condição de perceber o que nos cerca.

As plantas já denotam essa característica, e à partir o reino animal existem os órgãos dos sentidos, que nada mais são do que o demonstrativo reduzido e materializado dessa especificidade espiritual. Por eles captamos e percebemos o que nos afeta, pela “linguagem” das sensações, sejam boas, agradáveis, estranhas, agressivas…

Esses órgãos funcionam captando os estímulos e levando-os ao sistema nervoso, que através de um processo eletroquímico os faz chegar ao cérebro que os processa e são percebidos pelo Espírito, através do perispírito.

Dizendo assim, pode parecer que o Espírito esteja longe do corpo, o que não é verdade. Estando encarnado, o Espírito está no corpo. E esse caminho: estímulo externo/interno àcaptação pelos órgãos dos sentidos à nervos à cérebro à Espírito, é automático e super ultra rápido, porque são níveis e não espaço físico.

Por exemplo: o olho capta algo, mas se estamos pensando em outra coisa, apenas vemos. Caso ponhamos atenção, vemos, entendemos e tiramos conclusões. Ou seja, há níveis de sensibilização, captação e percepção.

Desse modo, a sensibilidade humana é tocada por  estímulos que vem da matéria densa e da eterizada (fluidos/energia). Essa captação é natural, como naturalmente ouvimos os sons. E da mesma forma que embora ouvindo, podemos não entender o que é, pela falta de atenção, do ponto de vista fluídico ocorre o mesmo.

Se um Espírito se aproxima e nossa atenção está voltada às coisas do dia, não registramos essa presença. Mesmo sendo médiuns desenvolvidos, o hábito de pensar que tudo que sentimos é nosso, impede a percepção do que ocorre. É que a mente acostumada, condicionada a uma determinada forma de entender, fecha, limita e impede que as sensações sejam examinadas e que a razão encontre sua origem e significado.

No entanto, a nossa sensibilidade continua captando tudo. São milhares de sensações e estímulos por segundo, vindos do mundo físico e do astral, dos quais só percebemos uma pequena porção. O exemplo clássico é perguntar se estamos sentindo a manga da blusa no braço.  Qualquer pessoa nota que não estava ciente disso, mas ao ser questionada põe atenção e sente.

Mesmo distraídos ao que sentimos, o processo se faz, afetando o sistema nervoso e disparando “químicas” no interior das células, porque o mecanismo orgânico que nos caracteriza, funciona assim.

De modo que, desatentos ou atentos ao que nos chega, as reações físicas são inevitáveis, pelo fato de que embora sejamos uma individualidade, não estamos isolados e nem conseguimos ficar, do ponto de vista fluídico/energético. Nós fazemos parte do ambiente e ele faz parte de nós, numa interação total. Partilhamos nossas subpartículas atômicas, o ar que respiramos e todas as emanações dos corpos que nele são eliminadas, as energias, os pensamentos…

É por causa disso que pessoas desconhecedoras do que seja a mediunidade, entendem que ela cria problemas, doenças, atrai Espíritos perturbadores e deixa a vida sempre complicada.

O fato é que, além da sensibilidade natural e até um tanto mais expandida, os médiuns tem a sua forma de ser e de pensar. Quando um Espírito se aproxima, essa presença é registrada e determina uma alteração na sua vibração perispiritual, o que é captado por seu sistema nervoso, levando ao cérebro sensações que podem ser entendidas ou desprezadas, conforme ponha ou não atenção nelas. Se houver atenção – e estar numa reunião mediúnica deveria ser sinônimo de dar plena atenção às sensações e percepções- a pessoa médium poderá administrar o fato, entende-lo de alguma forma e dar-lhe o encaminhamento necessário. Se não houver atenção, o processo chega ao nível orgânico e a pessoa nem percebe ou pensa que são coisas suas. Nesse caso, realmente vive complicações que não precisaria ter, mas terá até compreender que mediunidade é apenas uma condição de entender os Espíritos e poder intermediar-lhes o pensamento. O demais, é sua sensibilidade que capta do ambiente e sua forma de ser e pensar que atrai e estabelece ligações com encarnados e desencarnados. E tudo isso produz sensações.

As impressões de que a mão inchou, a cabeça cresceu, muito frio, de que balança e vai cair, e mesmo taquicardia, sufocamento, e outras, que os médiuns costumam sentir, nada mais são do que registros físicos da alteração vibratória perispiritual, advinda da proximidade de Espíritos, trazidos ao corpo pelo sistema nervoso.

Caso a pessoa pense que essas e outras sensações, sobretudo as ruins, como dores, mal-estar, perturbação mental, pressão na cabeça, enjoo sejam seus, está dando uma ordem ao corpo de fixá-las e tornam-se suas, por impregnação (como se fosse “xerox”). Mas se as entende como sensações captadas de outrem, impede a impregnação e nada se fixa, desaparecendo após o afastamento da causa.

Pela mesma razão, Espíritos que se vinculam a alguém por sua inferioridade, baseados em vingança ou aproveitamento das energias da pessoa, e não são percebidos, mesclam-se com o encarnado de tal maneira, que passa a haver uma simbiose; então, as sensações que não são percebidas de outro e sim como coisa da pessoa, tornando-se realmente assim, no tempo, pela postura de adoção. Por isso o Espiritismo nos ensina que é a sintonia com os bons que nos afasta dos maus.

Porem, fazer pedidos nas preces não é a condição de nos sintonizarmos com Espíritos de melhor qualidade. Essa é uma ilusão que precisa ser desfeita, porque ela já nos trouxe muita desilusão e ainda não vimos por quê.

O peditório é uma prática que anula a sensibilidade, e está baseada na ideia de deus ser uma criatura manipulável, que barganha conosco.

Esse deus, que não é o ensinado pelo Espiritismo, só beneficia quem se comportar “bem”, segundo as normas religiosas. Semelhante ao papai noel, que traz brinquedos apenas às crianças boazinhas, como os pais querem.

A prece avalizada por Jesus, ao contrário, é um ativador da sensibilidade, um despertar para suas percepções e para a confiança nelas. Porque é uma atitude verdadeira, um posicionar-se intimamente, de maneira a ter a conduta e os pensamentos melhorados por ela, que vão gradativamente nos sintonizando melhor.

Vínculos dessa qualidade não se fazem de uma vez.

É a persistência, a seriedade em rever-se amorosa e pacientemente, inclusive nas recaídas, que leva ao reconhecimento dos níveis mais profundos dos condicionamentos mentais, e nos qualifica a superá-los.

Durante muito tempo solidificamos, pela repetição, condutas, conceitos e descaso com nossa sensibilidade, supondo que alguma autoridade fosse mais capaz do que nós, de saber o que se passa conosco. E como boa parte do que sentimos e pensamos não é nosso, a auto-observação é a melhor ferramenta de que dispomos, se quisermos reverter essa situação a nosso favor.

Sendo impossível nos isolarmos do astral, a não ser por momentos, funcionam muito bem os exercícios de centrar-se, ficar só em si. E que sejam acompanhados dos de desgrudar-se/desenganchar-se de pessoas e situações. Porque, nossas boas ou más relações não são sinônimos de fixação mental e auto descuido.

Praticar esses exercícios nos beneficia e muito.

Eles produzem uma descompressão energética que liberta a sensibilidade, abrindo o campo intuitivo e a flexibilidade mental, para encontrarmos o que está nos limitando, bem como as alternativas solucionadoras.

Jornal do NEIE

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