fbpx

Recordando

Autor: Casimiro de Abreu (espírito)

*

Meu Deus, deixai que eu me esqueça

Da minha vida de agora,

Que apenas o meu passado

Eu possa alegre rever;

Deixai que me identifique

Com os raios da luz de outrora,

Daquela risonha aurora

Do meu passado viver.

*

Que eu sinta de novo a vida

Na infância linda e ditosa,

Na alegria inalterável

Do lugar onde nasci;

Quero rever novamente

A paisagem luminosa,

Sentir a emoção grandiosa

De tudo o que já senti!…

*

Ah! que eu possa hoje olvidar

Imensidades, esferas,

Concepções mais perfeitas

No progresso que alcancei;

Que das ruínas, dos escombros,

Minhalma retire as heras,

E contemple as primaveras

Da vida que já deixei.

*

Quero aspirar os perfumes

Dos cendais cheios de flores,

Na fresca sombra dos vales,

Sob a luz do céu de anil!

Rever o sítio encantado

Da minha estância de amores,

Meus sonhos encantadores,

Minha terra, meu Brasil!

*

Escutar os sinos calmos

Sob a alvura das capelas,

Enchendo as longes devesas,

De convites à oração;

Sentar-me no prado agreste,

Beijar as flores singelas,

Mirar a luz das estrelas,

Ouvir a voz da amplidão!

*

Correr sob o sol-nascente

Até que chegue o luar,

Procurando os passarinhos

E as borboletas tafuis;

Que esperança, que ventura!

Viver, sofrer, e amar

A campina, o Sol, o mar,

Campos verdes, céus azuis

*

Ser homem e ser criança,

Toucar-se a alma das galas

Da poesia inexprimível,

Da alvorada e do arrebol…

Oh! Natureza da Terra,

Que tesouros não exalas,

Na carícia dessas falas

Do passarinho e do Sol!

*

Eu gozo de quando em quando,

Revendo essa claridade,

Da existência transcorrida

Guardada no coração;

E dos cimos desta vida,

Na excelsa Imortalidade,

Verto prantos de saudade

A luz da recordação.

Nota

A poesia acima, psicografada por Francisco Cândido Xavier, faz parte do livro Parnaso de Além-Túmulo

Obra completa: https://www.febeditora.com.br/parnaso-de-alem-tumulo

spot_img