Conceito é a forma de pensar sobre algo, expressando suas qualidades, determinando o que é e seu significado. Há conceitos muito amplos,como o de bem e mal, por exemplo; o que faz com que haja uma gama imensa de entendimentos e interpretações, segundo os próprios conceitos pessoais de quem os utiliza. Mas há conceitos mais específicos, delimitando melhor o campo do entendimento, como o de mediunidade, à luz do Espiritismo.
Foi Kardec que criou a palavra mediunidade, para dar um significado espírita a essa capacitação humana de comunicar-se com os desencarnados. Ele sabia que cada ciência, cada filosofia precisa ter seus termos próprios, que a identificam e propiciam um entendimento correto de suas idéias e conceitos.
As bases filosóficas e científicas do Espiritismo não estão expressas de maneira complexa e inatingível, mas são diferentes do que se conhecia até então. O que requer do aprendiz, uma atitude, o mais possível isenta dos conhecimentos anteriores, como é o natural para quem quer aprender algo novo.
No caso da mediunidade, Kardec não a conceituou de uma forma didática, como muito bem disse o amigo Pedro Camilo, no livro Mediunidade para entender e refletir. Isto quer dizer que não há um trecho em que ele apenas conceitue a mediunidade, mas encontramos as idéias que formam essa conceituação, em vários locais de O Livro dos Médiuns e também quando ele conceitua médium.
Juntando as partes, temos o conceito espírita: Mediunidade é uma faculdade inerente ao ser humano, cuja finalidade é a comunicação com os desencarnados. Manifesta-se através do corpo físico, é independente de etnias, sexo idade e moral, não sendo privilégio de ninguém. A mediunidade não atrai Espíritos, sendo que isso se dá apenas pela forma de sentir e pensar da pessoa, segundo a lei das afinidades.
Se um conceito serve para conceituar, ou seja, para mostrar como se pensa sobre um assunto e se damos a Kardec a formulação das idéias básicas do Espiritismo, sem as quais haveria uma descaracterização da Doutrina, é de se pensar que o conceito de mediunidade devesse ser a base de todo pensamento dos espíritas sobre esse tema.
No entanto, não é assim que acontece, o que nos motiva a de novo examinar esse conceito, porque vemos nele todas as respostas a todas as perguntas que se possa fazerr sobre o que seja a mediunidade e como ela funciona.
Examinando bem esse conceito, observa-se que a mediunidade nada tem a ver, por exemplo, com achar que:
– É um dom divino
– Tê-la ativa é sinônimo de sermos devedores e faltosos
– Usando-a para o bem, nos livramos de certas consequências dos nossos atos
– “Decidimos” nascer médiuns para pagar culpas
– Animais e plantas são médiuns
– Entre desencarnados há mediunidade
– Passamos mal porque nossa mediunidade nos liga a Espíritos sofredores e maus
– Um bom médium é uma pessoa boa ou evoluída
– Está no corpo físico
– Atrai Espíritos
– Enlevar-se com a Natureza é expressão mediúnica
Todos esses “achamentos” representam idéias sobre a mediunidade que não foram checadas nem conferidas com o conceito espírita, que é o parâmetro. Achamos, outros acham, e fica-se nisso, nesse descompromissamento, dando á Mediunidade características e significados que não são seus e que não estão contidos em sua conceituação espírita.
Analisemos:
1. Se a mediunidade é uma faculdade, ou seja uma potencialidade dos seres humanos, claro que é uma capacitação que vem sendo desenvolvida nas fases anteriores à humana, mas só desabrocha nela. Por mais que os animais tenham percepções e sensibilidade, mediunidade não tem;
2. Sendo faculdade, pertence ao Espírito, porque a matéria é sempre e apenas instrumentos para evoluirmos, como está ensinado no Espiritismo;
3. Como a mediunidade existe para que possamos nos comunicar com os desencarnados, mas estamos encarnados, ela funciona apesar do corpo físico ser uma barreira. Isso porque só há um fato mediúnico se houver expansão perispiritual, o que quebra a refratariedade da matéria, como disse Erasto no início do item 236 de O Livro dos Médiuns.
Naqueles que cuja mediunidade está bem caracterizados, ou seja, já desenvolveram essa faculdade em vidas passadas, o corpo está equipado para facilitar a expansão perispiritual.
Aliás, todas as nossas capacitações manifestam-se através do corpo denso, porque é com ele que vivemos quando encarnados. E quanto mais uma capacidade está desenvolvida, mais ela se impregna no corpo, na época da formação embrionária; assim fica estabelecido um caminho de mão dupla, pois o corpo facilita sua manifestação e quanto mais ela ocorre, mais marca o funcionamento do corpo.
Cada um constrói seu corpo com as características que lhe são próprias, quando vai encarnar. Ver O livro dos Espíritos, questões 217, 370 e 370-a.
Sendo apenas instrumento para o progresso dos Espíritos, o corpo nada faz por si, por mais que já esteja adequado para algo. Por exemplo, grandes corredores, campeões, têm músculos apropriados à corrida. E se forem corridas longas ou curtas, há que ter músculos específicos, porque sem corpo adaptado não há como ultrapassar certo limite. Em tudo é assim. Por isso, quem quer obter alguma capacidade, treina e treina, trabalhando as características de que mais precisa. Poderá ou não, ultrapassar a mediocridade, e isto depende do que já trás de desenvolvimento nessa área. Jamais alguém que está zerado em um aspecto, por mais que se dedique, chegará aos píncaros. Além do aprendizado, há que vencer as resistências da matéria densa e adaptar mente e corpo ao que quer. Isso leva muitos a desistirem, o que só empurra para o futuro esse esforço de treinamento e superação de si mesmo.
Se os pesquisadores sérios confirmarem a glândula pineal como o local de acoplamento, no momento mediúnico, estarão certificando essa informação doutrinária de que no corpo há todas as características que fazem dele o instrumento adequado ao Espírito que o constituiu;
4. Fica também nítido, pelo conceito, que ninguém resolve nascer médium, na medida em que é preciso ter esse potencial desenvolvido e trabalhado, caso contrário, não funciona. Não se adquire a mediunidade e ninguém a dá para nós. Ela está na natureza humana, e seu desenvolvimento é gradativo, natural e passível de treinamento;
5. Como recurso de todos os seres humanos, a função da mediunidade é apenas a comunicação com os desencarnados, e nada tema ver com barganhar benefícios e muito menos de servir para pagamento de dívidas. E seria uma grande injustiça divina, se assim fosse, porque Deus estaria sendo parcial, ao facilitar que uns resolvessem seus problemas e outros não.
Ela existe para promover o progresso de encarnados e desencarnados, pelas trocas de aprendizado e observação, mantendo um constante contato consciente. É um dos instrumentos para entender a Vida e viver melhor, e não um passe de mágica, um dom secreto ou uma obrigação pesada, que se não for cumprida nos trará malefícios;
6. Também a mediunidade não enferruja, caso não a usemos. Aliás, somos dotados de Livre Arbítrio para fazermos o uso que queiramos de tudo que for nosso, incluindo a capacitação mediúnica, esteja no grau que estiver de desenvolvimento.
É sempre indispensável observar por que, para que, como, quando e com quem usamos nossos potenciais; e sempre fazer os devidos ajustes de rota, para manter nossos objetivos e bem estar. Porque as consequências naturais das escolhas, constantemente mostram o que nos faz bem e o que nos faz mal. E isso é independente da opinião dos outros;
7. A mediunidade não existe para que se faça caridade, iludidos que ganharemos pontos com Deus e nos livraremos de dificuldades. A disposição caridosa, ou seja, ver no outro um semelhante a nós e agir como gostaríamos que agissem conosco, pode ser exercida a qualquer momento e de inúmeras formas.
A prática mediúnica serve para dialogarmos, aprendermos, esclarecermos Espíritos e pessoas e entendermos de que jeito a Vida se faz. Kardec por exemplo, melhorou o mundo divulgando instruções vindas através de médiuns, as quais abriram nova fase do desenvolvimento humano;
8. A mediunidade também não é a causa de atrairmos ou nos ligarmos a Espíritos. Isso é feito pelo nosso pensamento, ou seja, nossa maneira de encarar a vida. O item 232 de O Livro dos Médiuns esclarece bem isso. A mediunidade nos mostra que companhias costumamos ter, sendo portanto, um excelente instrumento de discernimento.
Estamos com esse artigo convidando os espíritas que procurem examinar todos os aspectos relativos a Mediunidade, à partir de seu conceito espírita, cujos detalhes encontramos em vários pontos de O Livro dos Médiuns e de forma lúcida e sucinta, no início da dissertação de Erasto, sobre a mediunidade nos animais.
Essa postura abrirá uma série de reflexões e de raciocínios, separando o que é e o que não é da mediunidade.
Consideramos de alta importância essa reflexão e essa retomada de entendimento, porque muita mistura, muita confusão e muita perturbação grassam, pela falta de discernimento em relação a mediunidade.
Pedimos que os companheiros e amigos da nossa Doutrina, que se interessarem por esse assunto e que fizerem suas análises e experiências, possam trocar informações conosco, através do e-mail.
Queremos crescer juntos e utilizarmos cada vez melhor o Espiritismo em nossa vida.