Autor: Marcus De Mario
Imagine a cena: professora conversando com a mãe de um aluno, recomendando que a mesma encaminhe o filho para o reforço/apoio escolar oferecido pela escola no contra turno. Escola com serviço de reforço escolar? Não é um contrassenso? Na verdade é atestado de falência do nosso sistema de ensino. Segundo pesquisa do Ibope Inteligência/Ação Educativa, 29% dos brasileiros são considerados analfabetos funcionais. Desse total 8% são analfabetos absolutos, ou seja, não conseguem ler palavras e frases. No total são 38 milhões de brasileiros entre analfabetos funcionais e analfabetos absolutos. Segundo a pesquisa, entre aqueles que terminaram o ensino médio, 13% são analfabetos funcionais, são jovens que não sabem ler e interpretar textos e que não conseguem dominar as operações matemáticas básicas, mas que ficaram pelo menos 12 anos na escola, considerando-se os 9 anos do ensino fundamental mais os três anos do ensino médio. E a escola fez o quê?
Precisamos urgentemente realizar um processo de ruptura com o atual sistema de ensino, que prova sua falência com esse índice astronômico de analfabetismo funcional, e com a prática do reforço ou apoio escolar. Precisamos romper com a sala de aula, com as carteiras enfileiradas, com o professor dando aula, com as metodologias burocratizadas e não participativas. O centro do processo educacional, do processo de aprendizagem, precisa ser o aluno, com uma escola feita por pessoas com pessoas, envolvendo a família e a comunidade.
Impressiona como os responsáveis pela educação em nosso país, mesmo diante de fatos, estatísticas e índices muito ruins, continuam a insistir em manter o mesmo modelo, as mesmas práticas, as mesmas metodologias, ano após ano repetindo o fracasso escolar, lançando na sociedade milhares de crianças e jovens despreparados, sem conhecimentos mínimos, sem desenvolvimento de suas habilidades cognitivas e, ainda mais preocupante, sem trabalhar o desenvolvimento emocional das novas gerações.
A escola atual não valoriza a família, não se aproxima dela e nem permite que os pais e responsáveis interajam com ela. E o mesmo faz com a comunidade em seu entorno. Como isso pode dar certo? Uma escola isolada da realidade social e cultural dos seus alunos, onde os professores trabalham sobrecarregados, e que agora entende que precisa de sistemas de segurança pública para bem funcionar, é o caos total. Assistimos, com espanto, um diretor de escola pública defender que seja aprovada lei estadual determinando que todas as escolas passem a ter detectores de metal e outros meios para salvaguardar a vida de alunos e professores. É uma escola ou uma penitenciária?
Lamentamos profundamente tudo isso, constatando o quanto a escola brasileira, com suas honrosas exceções, está afastada da verdadeira educação. E perguntamos: não está na hora de fazer das exceções – que dão certo – a regra geral?