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Responsabilidade sexual

Autor: Vinícius Lousada

“(…) Quis Deus que os seres se unissem não só pelos laços da carne, mas também pelos da alma (…).” (1)


Vivemos um período difícil na história de nossa civilização; estamos atravessando um ponto de mudança, de crise, em que ainda caminham lado a lado, na paisagem social, avanços e descompassos nas áreas da inteligência e da moralidade.

Inseridos num processo transformador, somos almas atreladas a programas reparadores, como, também, criaturas que dão vazão às suas inferioridades, às paixões descontroladas na busca irrefletida do prazer, sobretudo na área do sexo.

Não é de graça que a má conduta sexual tem ganhado estatuto nos meios de comunicação e o apelo ao intercâmbio sexual irresponsável vem recebendo o aplauso de grande parcela de nossa sociedade.

A coletividade de Espíritos que estagiam junto aos fluidos terrestres está enferma nesse sentido e, de fato, são raros os que hoje ou ontem não desviaram as forças criativas do sexo em posturas menos dignas.

Ademais, Emmanuel, mediante a psicografia de Chico Xavier, chega a anotar que: “(…) diminuta é, ainda, no Planeta, a percentagem de pessoas, em qualquer idade física, habilitadas a pensar em termos de autoanálise, quando o instinto sexual se lhes derrama do ser”. (2)

Alguns querem permanecer jugulados à sombra do homem velho, repetindo teimosamente comportamentos infelizes e, cada vez mais, insatisfatórios. Outros, cansados das ilusões e do vazio decorrente, buscam caminhar na direção de rumos libertadores, através da disciplina saudável, a fim de estarem no controle da sua energia sexual, canalizando-a alegremente, sem culpa ou outros transtornos emocionais de qualquer ordem.

Cabe ressaltar que o sexo não é coisa feia nem vil, como tem sido tratado por aqueles que o desenham de modo pejorativo nos discursos mofados e “igrejeiros”, ou tão animalizado como vivem e apregoam os defensores da libertinagem, arraigados aos conteúdos reducionistas do materialismo.

As energias criativas do sexo, transcendendo a fisiologia da aparelhagem genésica, são “criação esplêndida de Deus para propiciar a proliferação dos seres vivos na Terra, e para a manutenção da alegria de viver, da harmonia psíquica e pela nutrição emocional a que as trocas hormonais do sexo dão azo!” (3)

Em face do sofrimento ocasionado pelo desconhecimento do nobre valor do sexo e pela confusão que se faz entre desejo e amor, a revisão de conceitos e atitudes em torno da sexualidade, aproveitando-se o enfoque espírita da questão, se configura numa necessidade premente.

A relação sexual é um encontro sagrado entre os seres que se unem. Nela acontece uma permuta emocional, fluídica e hormonal que consiste numa verdadeira complementação psíquica e física, quando experimentada por almas que se amam – no sentido profundo do termo –, gerando bem-estar e contentamento interior em cada parceiro. Dada a sua gravidade, precisa ser considerada parte da realização afetiva e não a sua única razão.

Então, a interação sexual deve ser compreendida como elemento resultante de uma afeição madura, estabelecida a partir da convivência regida pelo amor, onde aqueles que estão vinculados já se conhecem bem, compartilham as suas histórias de vida e se comprometem com a felicidade um do outro.

Na convivência amorosa – em virtude de nossas conquistas evolutivas no campo do sentimento – surge a atitude de cuidado que lhe é inerente. E, sendo o cuidado também uma característica essencial do Espírito, pode ser significado como “a atitude de desvelo, de solicitude e de atenção para com o outro”, ou ainda, “de preocupação e de inquietação, porque a pessoa que tem cuidado se sente envolvida e afetivamente ligada ao outro”. (4)

Mas, no “ilusionismo” da sociedade consumista, internalizamos seu modus operandi, inclusive na vida conjugal e no âmbito familiar, descuidando-nos daquela pessoa que está ao nosso lado, comungando a existência conosco.

Em geral, não dialogamos, gritamos e sequer ouvimos atentamente o outro, passando a perder o elo de comunicação com o nosso par.

Assim, produzimos distanciamento afetivo, solidão e sofrimento, quando deveríamos falar a linguagem do verdadeiro amor, via escuta profunda e fala amável, objetivando edificar o entendimento e a paz no lar.

Egoisticamente, queremos carinho, abnegação e prazer, o que é compreensível até certo limite.

Entretanto, o bom senso nos orienta que a felicidade mora no coração daquele que procura fazer o outro feliz, anulando, pouco a pouco, as exigências do ego infantil, amadurecendo espiritualmente na medida em que se entrega a um relacionamento orientado pelos valores éticos sedimentados na própria consciência.

Amando-se, o casal é capaz de estender esse amor aos filhos e de aprender, na renúncia que a convivência familiar suscita, ou seja, a caridade na sua modalidade doméstica.

Atendendo aos desafios da vida em família, educamo-nos uns aos outros e descobrimos o amor em função do sacrifício sistemático dos desejos animalizados, na promoção do carinho, do respeito e da solicitude que a coexistência nos leva a empreender pelos nossos entes.

Responsabilidade sexual é diretriz de felicidade que pode ser alcançada no momento em que abrimos mão da sensualidade e do desequilíbrio para vivermos o amor, a disciplina e o cuidado.

Desse modo, observemos a necessidade de alicerçarmos as ligações afetivas no reconhecimento da nossa verdadeira natureza espiritual, no mútuo apoio, na ausência de dominação e na mais manifesta gratidão.


Referências

(1) O Evangelho segundo o Espiritismo, Cap. XXII, item 3.

(2) XAVIER, Francisco C.. Vida e sexo. Pelo Espírito Emmanuel. 14 ed. Rio de Janeiro, RJ: (4) Federação Espírita Brasileira, 1993, p. 18.

(3) TEIXEIRA, J. Raul. Nos passos da vida terrestre. Pelo Espírito Camilo. Niterói, RJ: Fráter Livros Espíritas, 2005, p. 120.

(4) BOFF, Leonardo. Saber cuidar: ética do humano – compaixão pela Terra. Petrópolis, RJ: Vozes, 1999, p. 92.

O autor é educador, escritor e palestrante espírita residente em Porto Alegre (RS).

O consolador – Ano 2 – N 102

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