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Reunião espírita faz lembrar um filme de ficção científica

Autor: Ivan Franzolim

Imagine você, leitor, participando de uma reunião em uma sala do Centro Espírita com as janelas completamente vedadas e, no lugar do palco no salão, tem uma cela de prisão feita com grossas barras de ferro e na frente uma cortina preta.

O dirigente da reunião explica que os Espíritos irão utilizar o ectoplasma para a realização de fenômenos. Trata-se de uma substância que todos possuem e que o médium tem a condição de liberar em maior quantidade. Ela detém o poder de atuar tanto no campo material como no âmbito espiritual. O ectoplasma é muito sensível à luz e para ser manipulado necessita da escuridão.

Os convidados de várias religiões e mesmo agnósticos entram e uma pessoa indica onde cada um deve se sentar. Todos acomodados, o médium de efeitos físicos entra na cela, está no lugar da habitual cabine, acompanhado por dois trabalhadores da casa. Senta em uma cadeira fixa que está presa no chão ao lado de um toca-discos. É algemado e acorrentado nos braços e nos pés. A cela é trancada, colocado um cadeado, uma corrente de metal e ainda um lacre. Ao saírem da cela, os trabalhadores polvilham talco no chão para depois verificarem a possível presença de pegadas, o que denunciaria fraude.

Logo no início apagam-se completamente as luzes conforme exige o protocolo desse tipo de reunião. Todos ficam na escuridão total, não enxergando nem a silhueta do companheiro sentado ao lado. Silêncio total. Faz-se uma prece e novamente o silêncio profundo e expectante.

De repente aparecem pequenas luzes coloridas que passeiam pelo teto da sala em trajetórias elaboradas. Ouve-se música vinda da vitrola que está dentro da cabine. Passados alguns minutos surge uma voz que saúda a todos e deseja uma boa reunião. Essa mesma voz agora parece também vagar acima das cabeças dos participantes, ora falando em um canto, ora falando em outro. Todos veem um tipo de corneta com cerca de meio metro de comprimento e pintada com cor fosforescente que o Espírito utiliza para aumentar sua voz, conforme explicado pelo dirigente.

A voz anuncia a vinda de outro Espírito e em seguida todos sentem um perfume característico que apareceu não se sabe de onde e logo desaparece da mesma forma. O Espírito saúda a todos. É um parente já falecido de um dos trabalhadores da casa. Deixa-se ver por instantes acionando um dial ligado por um fio a uma lâmpada de baixa intensidade e coloração vermelha. Fala palavras carinhosas para todos e se despede agradecendo a oportunidade.

Novamente se acende a fraca luz em frente à cela convidando todos a focarem na cortina preta que a circunda, outro item do protocolo para o exercício dessa mediunidade. A cortina se abre possibilitando a visão abrumada de uma pessoa vestida de branco, com mangas compridas e um tipo de túnica até ao chão. É um Espírito materializado que integra a equipe que costuma se apresentar nesse Centro. Ele está atrás das grades e devagar vai falando da necessidade de se cultivar a fé em Jesus e, ao mesmo tempo, todos veem o corpo e as vestes do Espírito transpassarem os sólidos canos da grade como se eles fossem desintegrados para permitir a passagem.

A entidade prossegue com seu discurso sobre o amor, bondade e a caridade entre os homens. Diz que deixaram para ela distribuir, entre os presentes, rosas para as mulheres e cravos para os homens. São cerca de 40 pessoas e, de súbito, todos sentem cair no colo, ao mesmo tempo, a flor correta para cada sexo. O Espírito se retira conclamando todos ao bem.

Outro Espírito comparece e a todos cumprimenta. Agora é alguém que gosta de brincar. Conversa e aperta as mãos dos trabalhadores e dirigentes do Centro demonstrando sempre muita alegria. Diz que gosta muito de uma música, principalmente de determinado trecho e então todos ouvem exatamente aquele trecho indicando que alguém colocou a agulha no disco no local preciso.

Esse Espírito avisa que vai pegar alguma coisa na sala ao lado que está trancada. Imediatamente diz que já pegou e convida os participantes a descobrirem o que é. As pessoas tentam, mas ninguém acerta. Era um guarda-chuva que a entidade parece ter feito passar através da parede.

O Espírito entra na cela e depois de um ou dois minutos em silêncio, nova entidade surge cumprimentando a todos. Abre a cortina, ascende a luz vermelha e deixa-se ver ao lado do médium que parece dormir. Sai da cela e comenta sobre algumas passagens do evangelho enquanto a corneta perambula pelo teto batendo levemente na cabeça de algumas pessoas.

Inesperadamente todos observam por um ou dois minutos luzes brancas e azuis serem irradiadas do peito do Espírito materializado, com intensidade suficiente para iluminar seu corpo sem precisar ligar a luz vermelha de baixa intensidade.

E nesse clima de sucessão de acontecimentos inusitados, a entidade se despede e pede o encerramento das atividades. O dirigente agradece aos Espíritos, faz uma prece de encerramento e pergunta se o médium está bem, para em seguida avisar que vai acender as luzes.

Acesas as luzes verificou-se que a cela estava como fora deixada. Quebrou-se o lacre da porta de grade, abriram o cadeado, retiraram a corrente e abriram a porta constatando que o talco estava intacto no chão.  O médium teve de ser desalgemado, aberto o cadeado que segurava a corrente em volta dos braços e o cadeado da outra corrente que mantinha os pés dele presos ao pé da cadeira fixa ao chão. Todos foram convidados a entrarem na cela e verificarem a possível existência de paredes e chão falsos, aberturas, alavancas e qualquer coisa que denunciasse fraude. Nada encontrado.

As pessoas então se despedem meio sem jeito, parecendo refletir a agitação de seus pensamentos e emoções misturados a impressões passadas, relativas à devoção religiosa com surpresas de show de mágica e as perspectivas de filmes de ficção científica. Que mensagens foram transmitidas? A imortalidade do Espírito? A possibilidade de se comunicar com eles? A reencarnação? A existência de outras dimensões? Gradativamente cada pessoa procura uma explicação para tudo o que aconteceu de modo a acomodar os acontecimentos à suas crenças e apaziguar seus sentimentos de volta ao cotidiano. (1)

(1) O autor pede informações de médiuns e casas espíritas que realizaram esse trabalho para a continuidade de suas pesquisas.

O consolador – Ano 9 – N 419

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