Autor: Rogério Coelho
(…) Chegarás à honra da paz, após a consciência liberada dos débitos e culpas.”- Joanna de Ângelis [1]
FRANCO, Divaldo. Após a tempestade
O sentimento de culpa é um ótimo “plug” para as incidências obsessivas, uma vez que ele é muito bem manipulado e dinamizado pelos agentes das trevas, causando graves prejuízos à nossa economia espiritual, além de tolher os passos de quem o acoroçoa, provocando quadros de pessimismo, desânimos e desconforto íntimo, podendo mesmo, em casos mais graves e crônicos, levar à loucura ou até ao decesso físico.
A nobre Mentora Joanna de Ângelis chega mesmo a afirmar[2] que “(…) entre os flagelos íntimos que vergastam o ser humano, produzindo inomináveis aflições, a consciência de culpa ganha destaque, pois se instala insidiosamente e, qual ácido destruidor, corrói as engrenagens da emoção, facultando a irrupção de conflitos que enlouquecem… Decorrente da insegurança psicológica no julgamento das próprias ações abre um abismo entre o que se faz e o que não se deveria haver feito, supliciando, com crueza, aquele que lhe sofre a pertinaz perseguição.
A culpa sempre deflui de uma ação física ou mental portadora de carga emocional negativa em relação a outrem ou a si mesmo.
Considerando a própria fragilidade, o indivíduo se permite comportamentos incorretos que lhe agradam às sensações, para, logo cessadas, entregar-se ao arrependimento autopunitivo, com o qual pretende corrigir a insensatez. De imediato, assoma-lhe a consciência de culpa, que o perturba. Perversamente, ela pune o infrator perante si mesmo, porém, não altera o rumo da ação desencadeada, nem corrige aquele a quem fere. Ao contrário, embora sendo cobradora inclemente, desenvolve mecanismos inconscientes de novos anseios, repetidas práticas e sempre mais rigorosa punição…
Atavismo de comportamentos religiosos, morais e sociais hipócritas, que não hesitavam em fazer um tipo de recomendação com diferente ação, deve ser eliminado com rigor e imediatamente”.
Em outra excelente obra, a Mentora explica[3]: “(…) a vida, em toda forma como se expressa, originalmente, é um conjunto que transpira harmonia. Desde as complexidades do macrocosmo como nas extraordinárias organizações microscópicas pode-se percebe o equilíbrio que a tudo comanda, estabelecendo ordem, disciplina e beleza. Mesmo quando o aparente caos surge em a Natureza, percebe-se um trabalho grandioso gerando renovação e produzindo estesia.
Desenvolvem-se os programas estabelecidos dentro de Leis que regem os acontecimentos universais de maneira providencial, dando campo à perfeição, que é a meta a ser alcançada, e só o ser humano, porque pensa e dispõe do livre-arbítrio, se permite a rebeldia, o atentado ao estabelecido, a audácia do erro, delinquindo quando contrariado, afrontando a própria Consciência Cósmica. Por efeito, sofre, tornando-se vítima de si mesmo tendo que recompor a experiência, a fim de aprender obediência, sensatez, direcionamento correto, e, por fim, conquistar a paz.
Desarmonizando o conjunto em que a vida se expressa, é convidado a reparar, devolvendo a estabilidade que foi atingida. A sua própria consciência, que desperta, encarrega-se de reexaminar a ação maléfica e, automaticamente, impõe-lhe o dever de resgatar, programando o roteiro reparador. Mesmo quando pessoa alguma tomou conhecimento do erro, ela o sabe e, porque está em sintonia com a Divindade, expressando as Leis de Deus que conserva inscritas, somente se harmoniza quando se desobriga do compromisso elevado, retificador.
Quando o tempo urge e não pode ser reparado, o prejuízo causado a si mesmo e ao próximo, à ordem geral e à vida, transfere de uma para outra existência, insculpido em forma de culpa e revela-se em manifestações psicológicas de comportamento inseguro, agindo de maneira receosa, sempre esperando enfrentar a realidade, a verdade de que se evadiu. Reencarnado, o Espírito culpado sofre-lhe a injunção, amargurando-se, embora o aparente êxito que esteja desfrutando, autoacusando-se e sempre ciente de que nada merece, inclusive, não pode ter o direito de ser feliz. E se não possui uma estrutura emocional forte ou razoável, derrapa no pessimismo e foge da realidade mediante a usança de alguma droga, pelo alcoolismo ou por aquelas de natureza aditiva, alucinógenas, embriagadoras, que mais complicam o quadro aflitivo.
(…) A ascensão é experiência grave que exige esforço e decisão imbatíveis. Qualquer desalento ou incerteza frustra o programa de crescimento íntimo, conspirando contra o prosseguimento da marcha… Não há, na Terra, pessoa alguma que se encontre sem haver passado pelo caminho do erro para acertar, da sombra para alcançar a luz, do sofrimento para melhor amar…
Consciência de culpa é porta aberta para a reparação e não para a descida ao abismo do sofrimento”.
Joanna de Ângelis, nas obras acima assinaladas, oferece-nos orientações para a PROFILAXIA E COMBATE AO FLAGELO DA CULPA:
“(…) Somente um meio existe para alguém liberar-se da consciência de culpa: é o trabalho de dedicação ao dever, de reconstrução interior mediante o auxílio a si mesmo e à sociedade, na qual se encontra. (…) Seja qual for o tipo de consciência de culpa que se apresente no ser, cumpre-lhe o dever inadiável de continuar a marcha, superando o conflito e permitindo-se o direito de haver errado, assim como agora desfruta a oportunidade feliz de reparar o equívoco”.
Portanto, podemos deduzir com a nobre Mentora que a atitude correta ante o sentimento de culpa é não nos utilizarmos de subterfúgios para escamotear a sua realidade dolorosa e afligente, uma vez que não é possível encobrir o Sol com peneira. Há que se ter a coragem da humildade para, em primeiro lugar, admitir o erro que, uma vez cometido, gera consequências que não podemos impedir. É, portanto, justo e oportuno o aconselhamento de Joanna de Ângelis quando nos conclama a que avaliemos adequadamente os efeitos do equívoco e que o reparemos quando negativo. E completa: “(…) Se a tua foi uma ação reprochável, corrige-a, logo possas, mediante novas atividades reparadoras. Se resultou em conflito pessoal a tua atitude, que não corresponde ao que crês, como és, treina equilíbrio e põe-te em vigília.
Quando justificas o teu erro com autoflagelação reparadora, logo mais retornarás a ele. Assim, propõe-te encarar a existência conforme é e as circunstâncias como se te apresentam; erradica da mente as ideias que consideras impróprias, prejudiciais, conflitivas e substitui-as vigorosamente por outras saudáveis, equilibradas, dignificantes… Pensa, portanto, com correção, liberando-te das ideias malsãs que te gerarão consciência de culpa e sempre que errares, recomeça com o entusiasmo inicial. A dignidade, a harmonia, o equilíbrio entre consciência e conduta têm um preço: a perseverança no dever. Se, todavia, tiveres dificuldade em agir corretamente, em razão da atitude viciosa encontrar-se arraigada em ti, recorre à oração com sinceridade, e a Consciência Divina te erguerá à paz”.
Por último, a Mentora ensinou[4]: “(…) O conhecimento dos postulados espíritas, notavelmente terapêuticos, por explicar as causas de todos e quaisquer acontecimentos, a responsabilidade que sempre decorre de cada ação praticada, eliminam a culpa e a necessidade de autopunição, desde que exista a consciência de si”.
Pedimos vênia ao confrade Gibson Bastos para terminar este artigo com as mesmas palavras que ele terminou o seu excelente e corajoso livro “Além do Rosa e do Azul”, levado a lume pela editora do C.E. Léon Denis do Rio de Janeiro: “(…) Conforme nos ensina o Espírito Hammed, no livro Dores da Alma, ‘os erros são quase que inevitáveis para quem quer avançar e crescer. São acidentes de percurso, contingências do processo evolutivo que todos estamos destinados a vivenciar’. Mas caso isso ocorra, não devemos estacionar na estrada e perder o tempo com lamentações infrutíferas. E para não nos deixarmos arrastar pelo desânimo, ouçamos a palavra enérgica daqueles que estão mais à frente: “Oh! Alma levanta-te e anda!”. E assumindo com humildade e coragem as consequências de nossas decisões equivocadas, busquemos reparar nosso débito para com a lei e o nosso próximo, e sigamos em frente, com determinação, em direção ao nosso destino, que é SER FELIZ” e perfeitos como perfeito é o Pai Celestial.
Referências
[1] FRANCO, Divaldo. Após a tempestade. 3. ed. Salvador: LEAL, 1985, cap. 12, p. 70.
[2] FRANCO, Divaldo. Momentos de saúde. Salvador: LEAL, 1993, cap. 9, p.p. 62-65.
[3] FRANCO, Divaldo. Sendas luminosas. E. ed. Votuporanga: Didier, 2002, cap. 11, p.p. 71-75.
[4] FRANCO, Divaldo. Encontro com a paz e a saúde. Salvador: LEAL, 2007, cap. 3, p. 73.
O consolador – Ano 7 – N 317