Autor: Rodinei Moura
Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas! Sois como sepulcros caiados: por fora parecem belos, mas por dentro estão cheios de ossos de cadáveres e de toda podridão! Assim também vós: por fora, pareceis justos diante dos outros, mas por dentro estais cheios de hipocrisia e injustiça. Mateus, 23:27.
Nós, que não temos a autoridade moral de Jesus para repreender ninguém, podemos ao menos fazer uma reflexão, perguntando a nós mesmos diante do espelho de nossa consciência se não somos também, algumas vezes ou por toda uma vida, sepulcros caiados.
A doutrina espírita nos diz na questão 115 de O Livro dos Espíritos que fomos criados simples e ignorantes. Portanto, sujeito aos erros e acertos, dependendo de como usarmos nosso livre-arbítrio. Assim como nos informa em O Evangelho segundo O Espiritismo que estamos muito mais próximos da linha de saída do que da linha de chegada em questão de evolução. E até aí tudo bem.
Mas quando valorizamos apenas o politicamente correto, quando somos extremamente críticos, severos com a conduta alheia, não estamos nós sendo hipócritas? Primeiro, que não compete a nós julgar ninguém, ainda mais quando temos o conhecimento espírita que nos orienta a respeitar a todos; que nos ensina que temos, nós todos sem exceção, o livre-arbítrio. E que cada um deverá colher aquilo que tenha plantado; e que, até por isso, não existem injustiçados, não do ponto de vista espiritual, pois vivemos num mundo de provas e expiações.
Daí a importância de sermos sinceros conosco mesmos, pois somos nós os únicos prejudicados com uma eventual conduta hipócrita. E toda vez que julgamos alguém, nada mais fazemos do que fugir de nossa reforma íntima, de nos melhorarmos, de trabalharmos nossa evolução.
O ponto-chave: evolução. Não é uma disputa, não é uma corrida onde terá um vencedor. O grande projeto divino é um lugar onde estagiamos, fazemos o nosso curso, aprendemos a nossa lição e vamos embora. Levando conosco conhecimento em todos os setores da existência humana, embora não o obtenhamos todo de uma vez, e também os frutos de nossas ações. O amor que tenhamos colocado em cada atitude nossa é o que nos eleva.
Importante, então, nos atentarmos não somente para as nossas atitudes que são vistas. Mas principalmente por aquilo que nos leva a fazer o que fazemos. Qual é nossa intenção diante de qualquer atitude nossa. Importantíssimo refletir se fazemos o certo pelo certo e se já conseguimos sentir prazer nisso. E mesmo que façamos o bem apenas por ser o certo, com uma certa dificuldade, lutando contra nossas más tendências, é um sinal de melhora sim, como nos informa a questão 641 de O Livro dos Espíritos: Será tão repreensível, quanto fazer o mal, o desejá-lo? “Conforme. Há virtude em resistir-se voluntariamente ao mal que se deseja praticar, sobretudo quando há possibilidade de satisfazer-se a esse desejo. Se apenas não o pratica por falta de ocasião, é culpado quem o deseja”.
Pois como nos advertiu o sábio grego Aristóteles, em total consonância com a mensagem espírita, nós somos aquilo que fazemos repetidamente, repetidas vezes. E por essa razão a excelência vem do hábito. E não de um ato.
A questão 894 de O Livro dos Espíritos ainda nos esclarece sobre a importância de perseverar no comportamento que desejamos que se incorpore em nós: Há pessoas que fazem o bem espontaneamente, sem que precisem vencer quaisquer sentimentos que lhes sejam opostos. Terão tanto mérito, quanto as que se veem na contingência de lutar contra a natureza que lhes é própria e a vencem?
“Só não têm que lutar aqueles em quem já há progresso realizado. Esses lutaram outrora e triunfaram. Por isso é que os bons sentimentos nenhum esforço lhes custa e suas ações lhes parecem muito simples. O bem se lhes tornou um hábito. Devidas lhes são as honras que se costuma tributar a velhos guerreiros que conquistaram seus altos postos.
Fica evidente que vale muito a pena focar e reconhecer aquilo que temos de menos nobre, não nos preocupando apenas com a aparência, com o que pensam sobre nós. Pois somente assim poderemos, ao contrário dos sepulcros caiados, deixar brilhar a nossa luz, como também recomendou Jesus. (Mateus, 5:16)
O consolador – Artigos