Autor: Flávio Ayres
Quando eu escolhi ser policial militar, me veio a pergunta: “Como posso ser um policial, que muitas vezes terei que usar de força física e talvez até ter que matar para não morrer, se na casa espírita eu prego junto aos jovens amor, paz, compaixão?”.
Foi aí que começou o dilema que corroía minha alma juvenil, pois sempre gostei e admirei a profissão policial, só que não me via batendo, ou mesmo, matando alguém que, como eu, tinha uma vida pela frente e uma família por trás, com uma mãe que muitas vezes não sabe o que o seu filho está a fazer na rua.
Recorri então ao “O Livro dos Espíritos” onde na Lei de Destruição, pergunta 749, diz: “O homem é culpável pelas mortes que comete durante a guerra?”.
Onde obtive a seguinte resposta: “Não, quando ele é constrangido pela força. Mas ele é culpável pelas crueldades que comete e ser-lhe-á levada em conta a sua humanidade”.
Encontrei nesta resposta uma luz, pois analisando o momento de transição em que vivemos é necessário que se tenha um órgão fiscalizador e que reprima com o rigor da lei os impulsos de violência que ainda assolam a humanidade. Percebi que “ser bom no meio dos bons é muito fácil, o difícil é ser bom no meio dos maus”.
Foi aí que procurei fazer a diferença. Confesso que muitas vezes me exaltei e quis resolver os problemas com minhas próprias mãos, fazer a dita justiça dos homens, quase que retornei às leis mosaicas: “olho por olho e dente por dente”, pois em alguns casos só com o uso de força para repelir a injustiça e agressão que se consegue restabelecer a ordem.
Certa vez em atendimento de uma ocorrência onde um jovem de 22 anos, de posse de uma arma de fogo, tomou de assalto uma moça e a agrediu fisicamente deixando um profundo corte em seu rosto e com certeza em sua alma. Este jovem, por infelicidade do destino, foi pêgo por populares que o detiveram e o lincharam, causando muitos ferimentos. Quando cheguei ao local presenciei uma cena horrível ao ver aquele rapaz parecendo um “Judas de sexta-feira santa”, todo rasgado com múltiplos ferimentos e deixando a sua musculatura a mostra com muito sangue. Consegui, depois de muito custo, usando até de força física, retirá-lo da multidão. Verifiquei os sinais vitais e prestei o socorro imediato levando-o para um hospital. Minutos depois chegou uma senhora de meia idade, mas aparentando ter o dobro, devido às marcas de uma vida cheia de lutas e privações. Esta senhora me chamou e perguntou: “- Foi o senhor que salvou o meu filho de ser morto?”. E com minha afirmativa ela se curvou diante de mim e disse: “-Sei que ele errou, mas sou mãe e não aprovo o que ele fez e sempre pedi a Deus que mandasse um anjo para ajudá-lo na hora derradeira e Deus mandou o senhor,um anjo de farda”.
Fui indagado por “amigos” porque eu não deixei ele morrer!? E respondi que se eu fizesse isso eu estaria me igualando a ele, e eu preferi fazer a diferença!
Mesmo indignado pelos ferimentos que ele causou à sua vítima, senti um alívio, pois havia agido dentro da legalidade e dentro dos princípios cristãos.
Eu não me igualei a ele naquela hora onde eu poderia ter “lavado as minhas mãos”.
Todas as profissões merecem respeito e, quando escolhemos uma, temos que nos entregar a Deus para que ele nos guie e sempre direcione as nossas atitudes nas horas extremas para que possamos então dormir sempre com a consciência tranquila.