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Sinfonia  da  eternidade

Autor: Rogério Coelho

(…) Deus concede recursos iguais para todos, e nós facilitamos ou complicamos os processos de execução dos propósitos divinos a nosso respeito  

Bartolomeu dos Mártires [1]

No âmbito de atuação das Leis Divinas não existe privilégio ou regime de exceção para quem quer que seja… O posicionamento de qualquer Espírito dentro da hierarquia espiritual será logrado exclusivamente por honra e mérito de seus próprios esforços, lutas e conquistas.

Assim, os Espíritos alocados no topo da hierarquia espiritual são exatamente aqueles que obtiveram sucesso em suas experiências palingenésicas, enquanto que os que se situam nos baixios evolutivos são os detentores de bagagem espiritual incipiente, ou, com certeza, os fracassados de todo matiz…   Sem embargo, a porta da oportunidade, isto é, a senda da reversão de sua situação de miséria moral e consequente pobreza evolutiva em que jazem está sempre aberta e à disposição, como muito bem o demonstra a inolvidável “Parábola do Filho Pródigo”.

Ensina Bartolomeu dos Mártires1: “(…) Realizemos quanto nos cabe no tempo, ou voltaremos à lide com o tempo, a fim de criar, refazer ou reaprender…

À custa do calor na forja, converte-se o ferro bruto em utilidade; sofrendo a chuva e o vento, entreabre-se a flor numa festa de cor e de perfume; o óleo na candeia se transforma em luz, consumindo-se; o brilhante é o co­ração da pedra que se deixou lapidar. Cada criatura observa a Criação de acordo com as experiências que já acumulou.  

‘Conquista-te! Aprende! Cresce! Ilumina-te!’ — eis as sugestões da Natureza, em toda parte.  Portanto, quando o homem adquirir ‘olhos de ver’ e ‘ouvidos de ouvir’, perceberá a beleza da Espiritualidade vitoriosa e distinguirá a Sinfonia da Eternidade. Tudo depende de nós: A sombra e a claridade, a cegueira ou a visão, a fraqueza e o fortalecimento surgem em nosso caminho, segundo a direção que impusermos às sagradas correntes da Vida.

Deus é Amor, é Criação, é Vida, é Movimento, é Alegria, é triunfo… 

Dirijamos nosso sentimento para a Vontade do Senhor e o Senhor naturalmente nos responderá, santificando-nos os desejos”.

A Vida Imperecível é a perene Sinfonia da Eternidade, e a conquista dos alcandorados Cimos da Espiritualidade está franqueada a todos indistintamente.

 Em emocionante depoimento, desabafa Sílvia Serafim[2]: “(…) Como não enxergar as mãos de Deus, nos menores trilhos do mundo, amparando-nos a alma frágil e desafiando-nos, com doçura, a escalar os íngremes e empedrados caminhos que conduzem à perfeição?!…

Formei-me nas fileiras dos que se pavoneiam de fortes, sendo fracos, e que se presumem justos quando não passam de instrumentos da injustiça, e rolei no vale fundo e sombrio do sofrimento, presa de meus próprios conflitos interiores.

(…) Só agora, do ponto de vista do Mundo Espiritual, compreendo a imposição fatal da lágrima no mundo: o sofrimento é criação nossa, fogueira constante em que buscamos consumir os resíduos de nossas imperfeições…

Ó Deus, socorre o entendimento das criaturas, favorecendo-lhes a penetração na realidade! Ao toque de Teu Amor, o homem reconhecerá, enfim, a grandeza da Lei!…  A estrada luminosa da evolução e da redenção está aberta.   Bem-aventurados os que a percorrerem, aceitando o obstáculo por lição e a dor por mestra, porque no dia que se despedirem da carne terão encontrado, em verdade, a grande libertação!…”.

Entendemos tal “grande libertação” como a situação dos Espíritos que lograram conquistar, a duras penas, sua alforria espiritual, domiciliados agora nas muitas felizes Moradas da Casa do Pai, que, segundo Allan Kardec, são:

“(…) os mundos que chegaram a um grau superior, onde as condições da vida moral e material são muitíssimo diversas das da vida na Terra. Como por toda parte, a forma corpórea aí é sempre a humana, mas embelezada, aperfeiçoada e, sobretudo, purificada. O corpo nada tem da materialidade terrestre e não está, conseguintemente, sujeito às necessidades, nem às doenças ou deteriorações que a predominância da matéria provoca. Mais apurados, os sentidos são aptos a percepções a que neste mundo a grosseria da matéria obsta. A leveza específica do corpo permite locomoção rápida e fácil: em vez de se arrastar penosamente pelo solo, desliza, a bem dizer, pela superfície, ou plana na atmosfera, sem qualquer outro esforço além do da vontade. Os homens conservam, a seu grado, os traços de suas passadas migrações e se mostram a seus amigos tais quais estes os conheceram, porém, irradiando uma luz divina, transfigurados pelas impressões interiores, então sempre elevadas. Em lugar de semblantes descorados, abatidos pelos sofrimentos e paixões, a inteligência e a vida cintilam com o fulgor que os pintores hão figurado no nimbo ou auréola dos santos. A pouca resistência que a matéria oferece a Espíritos já muito adiantados torna rápido o desenvolvimento dos corpos e curta ou quase nula a infância. Isenta de cuidados e angústias, a vida é proporcionalmente muito mais longa do que na Terra. Em princípio, a longevidade guarda proporção com o grau de adiantamento dos mundos. A morte de modo algum acarreta os horrores da decomposição; longe de causar pavor, é considerada uma transformação feliz, por isso que lá não existe a dúvida sobre o porvir. Durante a vida, a alma, já não tendo a constringi-la a matéria compacta, expande-se e goza de uma lucidez que a coloca em estado quase permanente de emancipação e lhe consente a livre transmissão do pensamento.

Nesses mundos venturosos, as relações, sempre amistosas entre os povos, jamais são perturbadas pela ambição, da parte de qualquer deles, de escravizar o seu vizinho, nem pela guerra que daí decorre. Não há senhores, nem escravos, nem privilegiados pelo nascimento; só a superioridade moral e intelectual estabelece diferença entre as condições e dá a supremacia. A autoridade merece o respeito de todos, porque somente ao mérito é conferida e se exerce sempre com justiça. O homem não procura elevar-se acima do homem, mas acima de si mesmo, aperfeiçoando-se. Seu objetivo é galgar a categoria dos Espíritos puros, não lhe constituindo um tormento esse desejo, porém, uma ambição nobre, que o induz a estudar com ardor para os igualar. Lá, todos os sentimentos delicados e elevados da natureza humana se acham engrandecidos e purificados; desconhecem-se os ódios, os mesquinhos ciúmes, as baixas cobiças da inveja; um laço de amor e fraternidade prende uns aos outros todos os homens, ajudando os mais fortes aos mais fracos. Possuem bens, em maior ou menor quantidade, conforme os tenham adquirido, mais ou menos por meio da inteligência; ninguém, todavia, sofre por lhe faltar o necessário, uma vez que ninguém se acha em expiação. Numa palavra: o mal, nesses mundos, não existe.

(…) Entretanto, os mundos felizes não são orbes privilegiados, visto que Deus não é parcial para qualquer de seus filhos: a todos dá os mesmos direitos e as mesmas facilidades para chegarem a tais mundos. Fá-los partir todos do mesmo ponto e a nenhum dota melhor do que aos outros; a todos são acessíveis as mais altas categorias: apenas lhes cumpre a eles conquistá-las pelo seu trabalho, alcançá-las mais depressa, ou permanecer inativos por séculos de séculos no lodaçal da Humanidade”.

Referências

[1] Xavier, F. Cândido. Falando à Terra. 3. ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 1974, p.p. 155-156.

[2] Idem, ibidem, p.p. 157-158.

O consolador – Ano 9 – N 446

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