Autor: Batista Cepelos (espírito)
*
Eu fui pedir à Natureza, um dia,
Que me desse um consolo a tantas dores;
Desalentado e triste, pressenti-a
Cansada e triste como os sofredores.
*
Encaminhei-me à porta da Agonia,
Corroído por chagas interiores,
Buscando a morte que me aparecia
Como o termo anelado aos dissabores,
*
Desvendando esse trágico segredo
Que a alma decifra, pávida de medo,
Com ansiedade e temores dos galés…
*
Mas ah! que atroz remorso me persegue!
Choro, soluço, clamo e ele me segue
Nesse abismo que se abre ante os meus pés.
*
Ninguém ouve na Terra esse lamento
Da minha dor imensa, incompreendida,
Nas pavorosas trevas desta vida
Em que eu julgava achar o Esquecimento.
*
Tenebrosa, essa noite indefinida,
Cheia de tempestade e sofrimento,
No país do Pavor e do Tormento
Onde chora a minhalma enceguecida.
*
Onde o não-ser, a paz calma e serena,
Que me traria o bálsamo a esta pena
Interminável, rude, dolorosa?
*
Ninguém! Uma só voz não me responde!
Sinto somente a treva que me esconde
Na vastidão da noite tormentosa…
*
Sirva-vos de escarmento a dor que trago
Na minhalma infeliz e sofredora,
Este padecimento com que pago
O desvio da estrada salvadora.
*
Aqui somente ampara-me esse vago
Pressentimento de uma nova aurora,
Quando terei os bens, o brando afago
Da Luz, que está na dor depuradora.
*
Agora, sim! depois de tantos anos
De tormentos, em meio aos desenganos,
Espero o sol de novas alvoradas
*
De existências de pranto e de miséria,
Para beber no cálix da matéria
As essências das dores renegadas!
Nota
A poesia acima, psicografada por Francisco Cândido Xavier, faz parte do livro Parnaso de Além-Túmulo
Obra completa: https://www.febeditora.com.br/parnaso-de-alem-tumulo