Entrevistadores: Thiago Rosa e Rodrigo Prado
Pegue um gravador.
Estes mesmos da antiga tecnologia das fitas magnéticas, K7, e aperte o “rec”. Não faça barulho e deixe assim por alguns minutos. Pronto! Rebobine a fita e aperte o “play”. Ouviu alguma coisa? Não!?
Mas saiba que você pode ouvir. Pode até ser a captura de algum som externo, alguma rádio pirata, mas também pode ser o que chamamos de Transcomunicação. Que nada mais é que a comunicação dos espíritos através de algum meio tecnológico como a televisão, gravadores, computador, celular e por aí vai.
Nós do FM!, meio que curiosos com este tema fomos assistir a palestra da Sônia Rinaldi, 54, que já tem 20 anos de experiência neste assunto. E é claro que não poderíamos deixar de bater um papinho com ela e matar ainda mais nossa curiosidade com algumas perguntas. Confira a nossa entrevista:
Nos conte um breve histórico seu até se envolver neste tema da Transcomunicação
Há cerca de 20 anos atrás eu me interessava mais por esta parte investigativa, de questionar se o espiritismo era real, se a religião era verdadeira, porque eu não queria gastar algum tempo da minha vida em alguma coisa que eu não conseguisse provar e que conseguisse acreditar que fosse verdade. Pra mim seria uma perda de tempo, se eu não conseguisse ter certeza daquilo que eu estou investindo o meu tempo. E neste período eu conheci o Dr Hernani de Guimarães Andrade que na época tinha o “Instituto Brasileiro de Pesquisa Psicobiofísica”, e neste instituto ele fazia investigação de vários tipos de fenômenos, como casos de reencarnação, poltergeist… Enfim, mas tudo levantado e documentado. Ele fazia investigação destes casos que as pessoas chamam de casas mal-assombradas, de cobustão espontânea, que até aparecem na televisão; ele ia até o local, entrevistava as pessoas, tirava fotos e ia atrás da parte científica dos fatos. E este tipo de visão, foi o que me fascinou. Então foi neste instituto que começamos a fazer as primeiras gravações, pra ver se o negócio funcionava ou não,e, depois de um tempo, descobrimos que funcionava.
Você é espírita? É ligada a algum tipo de religião ou crença?
É “sim” e “não”! E eu explico porque: quando a gente fala em espírita dá uma impressão daquela coisa de frequentar o centro espírita e etc, e frequentei durante muitos anos sim. Mas por outro lado as provas que eu tenho, todas endossam as propostas do “Kardecismo”. Só que justamente eu não vejo pelo lado religioso. Então se você me perguntar se eu sou uma espírita, daquela que vai para o “Centro”, não, não sou. Mas é verdade o que diz o espiritismo? Não tenho nem como duvidar, nem que eu quisesse. Pra mim o espiritismo não é uma religião, pra mim ele é uma verdade, e a verdade tem que estar acima de todas as religiões.
A proposta do Kardec era inicialmente em busca de resposta científica…
Exatamente, a proposta real era esta que ele tinha e é o que a gente, nesta parte, estamos tentando fazer.
Esta parte de áudio, como é que você explica que não pode ser alguma interferência externa?
Bom, até se for uma interferência externa já seria ótimo porque indica que alguma coisa já está ocorrendo. Mas conseguimos comprovar que é autêntico pelas evidências que, eu não sei, mas que a família inteira sabe como apelidos, particularidades que só as pessoas mais próximas do comunicante sabiam. Isso é uma forma de comprovar que é realmente autêntico. E também, nós temos uma questão aí moral, uma respeitabilidade pelo nome. Digamos que há 20 anos que eu faço isso e, feliz ou infelizmente, eu não ganho nada pra isso, então eu acho que é aquela história assim: para que uma pessoa fraude é necessário que ela tenha um motivo, normalmente ou é dinheiro ou fama. Dinheiro infelizmente não entra e fama eu fujo. No que eu puder não ir eu não vou. Na verdade cada vez que eu vou a algum lugar, se for na televisão é pior ainda, um número enorme de pessoas me procura e isso estraga o nosso trabalho. Então na verdade, quanto mais não me acharem é melhor. Nós não temos motivo para criar uma realidade que não existe. E outra prova muito importante também que endossa que o trabalho é real, é que eu não sou a única é que faço isso. No exterior, tem um monte de sites de pessoas que gravam. Não é uma particularidade da dona Sônia, felizmente.
Você já foi muito questionada a respeito disso, de alguém querer provar que você está falando inverdades?
Se alguém falar isso eu viro as costas e vou-me embora porque eu não tenho tempo pra perder com pessoa que não se dê ao trabalho de investigar. Porque o cético real ele age como eu ajo, ele vai à luta, ele vai à busca se a coisa é verdadeira ou não, ele não vai ficar atormentando o outro. E este tempo eu não tenho. Agora se uma pessoa vai necessitada, se ela quer informação, todo o meu tempo é dela. Mas não vou perder meu tempo com pessoas que estão duvidando. Se está duvidando ela vai seguir o caminho dela, ela vai procurar nos sites ou gravar por si própria, que é melhor ainda.
Por outro lado, existem pessoas que te seguem porque acham que você tem uma mensagem diferenciada, como um dom próprio?
Não, graças a Deus eu não tenho. Eu até cortaria esta maluquice. Nosso trabalho busca ser uma comprovação científica e não tem a menor intenção que alguém venha atrás do que eu falo e nem nada disso. Isso não é uma religião. Aliás, ao contrário, eu acho que o dia que o planeta não tiver religiões, nós teremos dado tantos passos à frente que nós nem mais nos reconheceremos.
Nós tivemos muitos filmes recentemente falando a respeito do assunto, mesmo com um toque comercial para vender. Isso ajuda ou prejudica?
No caso prejudicou um pouco. Um dos últimos filmes mais conhecidos, como “Vozes no Além”, prejudicou no seguinte sentido: pessoas que nunca ouviram falar sobre o assunto passaram a ter medo. Já tem várias religiões que pintam o próprio espiritismo como coisa do demônio, e com este filme ainda veio ajudar a pensar que quem faz este tipo de gravação morre. Eu, graças a Deus, ainda continuo firme e forte. É uma bobagem muito grande o que eles fizeram, uma coisa totalmente anticientífica, nada que possa ser comprovado e, no entanto, vendeu bastante porque o pessoal adora este tipo de filme que causa uma adrenalina.
O espiritismo (sociedade espírita) tem aceito bem este assunto?
O espírita, e não o espiritismo, se agarra muito ainda na coisa religiosa. E muitos ficam com receio que nosso trabalho vai descadeirar o médium, que é outra imensa bobagem. Então ficam um pouco inseguros e tudo mais. Mas não veem que a comprovação matemática, científica daquilo que ele acredita, pode levar o espiritismo para o planeta. É a única forma que você tem como mostrar para as outras religiões que existe vida depois da morte, que a comunicação é possível… é pela parte científica, porque pela parte religiosa você criaria uma verdadeira guerra santa e venceria quem tem mais poder econômico, e nunca que seria o espírita mesmo, porque normalmente ele não tem dinheiro. Então o espírita deveria torcer para haver um embate científico para, este sim, cair como uma realidade dentro da humanidade. Por exemplo, assim como Darwin comprovou que a evolução da espécie é realidade e que não foi Deus quem criou o homem (como diz na bíblia), e que na época foi um terror para a igreja católica, porque desestruturava as propostas deles. Então hoje o que acontece!? Isso é totalmente aceito nas escolas e todo mundo engole numa boa. A mesma coisa vai ser quando a sobrevivência for comprovada e vai ficar evidente que se vive depois da morte. O que nós estamos procurando fazer é plantar.
Quando a gente fala de comunicação com os espíritos, dentro do centro espírita tem sempre uma preocupação de preparo, das pessoas estarem aptas e do ambiente. Não se recomenda fazer trabalho mediúnico dentro das casas das pessoas. Neste seu trabalho, qual o preparo e preocupação que você tem?
A ideia de que o semelhante atrai semelhante vai funcionar tanto para a parte mediúnica quanto para nossa forma de contato. Eu acho que o preparo de última hora não é uma coisa que nos preocupa. Tanto que com qualquer pessoa que vai lá em casa e a gente vai fazer uma gravação é assim: “- Então vamos gravar?” “- Vamos”. Senta e pronto! Digamos que a nossa vida é tão intimamente ligada a isso, a minha vida está tão ligada à esta ajuda ao outro lado do que o de cá, que é uma conexão permanente, de 24h mesmo. Você vai aprendendo quando começa a lidar com um fenômeno muito concreto, você vai se liberando com uma série de “salamalenques”, que você passa a ponderar racionalmente: “é preciso ou não é preciso?”; “é preciso me preparar ou não é preciso?”. Poxa, se eu sou uma pessoa boa e estou fazendo isso para ajudar, será que vai ser um “Pai Nosso”, uma “Ave Maria” que vai resolver a parada? Ou é assim: “ -Eu sou uma pessoa boa e quero ajudar, pronto, liga o gravador”. Não se apega a esta coisa religiosa, esta coisa… Você vai enfrentando uma realidade bastante crua, mas que é na verdade um pouco mais próximo do que possivelmente é verdade…
Você tem a prova, você ouve a voz, ele fala com você, tem pessoas que falam com a entonação que tinham quando vivo.
Como é feito o trabalho de evocação dos que já “se foram” dentro do seu método? Como é feito o chamado daqui para lá?
A gente sempre começa a gravar e eles começam a falar. Nada mais simples.
Nenhum pensamento?
Nada.
E os meios tecnológicos que conseguimos utilizar neste processo?
Os comuns. O gravador, por exemplo.
Quais os mais comuns que existem?
Eu não uso mais gravador fazem muitos anos. É um recurso bastante “pobrinho”. Eu uso direto o computador onde concentro de tudo, para gravar imagem, áudio, pra tudo. E até porque nós geramos arquivos que hoje são muito mais passíveis de serem analisados, por programas mesmo. A forma digital já leva para facilidade das próprias análises. Uso câmera de vídeo, televisão para chuvisco… estas coisas. Nada que as pessoas não tenham em casa, que se quiserem comprovar está na mão.
Você acredita que no futuro as pessoas podem utilizar este mecanismo como uma forma de entender melhor a questão da vida após a morte?
Eu acredito que muita coisa vai mudar até lá. Mas com certeza vai ser uma rotina. Eu penso que o dia que a coisa ficar comprovada e que, queiram ou não, terão que engolir, vai se tornar cada vez mais comum a pessoa falar: “ – Será? Então quero falar com minha avó”. E aí arrisca daqui e arrisca de lá e possivelmente até usar aparelhos de rotina vai permitir este tipo acesso, mas não estamos falando de uma humanidade como é hoje. Acredito que o ser humano vai ter mudado muito, imagino que isso ainda vai se levar muito tempo para acontecer.
Fala MEU! Edição 63, ano 2008