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Suicídio dos animais

Revista Espírita, Fevereiro de 1867

“O morning-Postcontou, há alguns dias, a história estranha de um cão que teria se suicidado. O animal pertencia a um Sr. Home, de Frinsbury, perto de Rochester. Parece que certas circunstâncias o tinham feito supor estar atingido de hidrofobia, e que, consequentemente, se o evitava e era mantido longe da casa tanto quanto possível. Parecia sentir muita tristeza por ser tratado deste modo, e durante alguns dias notou-se que estava com o humor sombrio e tristonho, mas sem mostrar ainda nenhum sintoma de raiva. Quinta-feira foi visto deixar sua casinha e se dirigir para a residência de um amigo íntimo de seu senhor, em Upnor, onde recusaram acolhê-lo, o que lhe arrancou um grito lamentável.

“Depois de ter esperado algum tempo diante da casa, sem ser admitido ao seu interior, decidiu partir, e foi visto ir para o lado do rio, que passa ali perto, descer a margem com passo deliberado, depois, após ter retornado e ter produzido uma espécie de uivo de adeus, entrar no rio, mergulhar sua cabeça sob a água, e, ao cabo de um minuto ou dois, reaparecer sem vida na superfície.

Esse ato de suicídio extraordinário teve, disse-se, por testemunha um grande número de pessoas. O gênero de morte prova claramente que o animal não estava hidrófobo.

“Este fato parece muito extraordinário; sem dúvida, ele encontra incrédulos. No entanto, diz o Droit, ele não é sem precedente.

“A história nos conservou a lembrança de cães fiéis que se votaram a uma morte voluntária por não sobreviverem aos seus senhores. Montaigne cita deles dois exemplos tomados à antigüidade: “Hyrcanus, o cão do rei Lysimachus, seu senhor morto, permanece obstinado sobre o seu leito, sem querer beber nem comer, e no dia em que se lhe queima o corpo, ele toma seu curso e se lança no fogo onde foi queimado; como assim também fez o cão de um chamado Pyrrhus, porque não se mexeu de cima do leito de seu senhor desde que foi morto; e quando o levaram, deixou-se levantar e ele, finalmente se lançou na fogueira onde queimavam o corpo de seu senhor.” (Essais, liv. II, cap. XII.) Registramos mesmo, há alguns anos, o fim trágico de um cão que, tendo incorrido na infelicidade de seu senhor, e não podendo com isto se consolar, precipitou-se do alto de uma passarela no canal SaintMartin. O relato muito circunstanciado que então fizemos deste acontecimento jamais foi contestado e não deu lugar a nenhuma reclamação das partes interessadas.”(Petit Journal, 15 de maio de 1866).

O suicídio não é sem exemplo nos animais. O cão, como está dito acima, que se deixa morrer de inanição pelo desgosto deter perdido seu senhor, realiza um verdadeiro suicídio.

O escorpião, cercado por um círculo de carvão ardente, vendo que dele não pode sair, mata-se a si mesmo. É uma analogia a mais a se constatar entre o espírito do homem e o dos animais.

A morte voluntária num animal prova que ele tem a consciência de sua existência e de sua individualidade; ele compreende o que é a vida e a morte, uma vez que escolhe livremente entre uma e a outra; não é, pois, tão maquinai, e não obedece tão exclusivamente a um instinto cego, que se o supõe. O instinto leva à procura dos meios de conservação, e não de sua própria destruição.

Fala MEU! Edição 72, ano 2009

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