Autora: Eugênia Pickina
Os educadores precisam compreender que ajudar as pessoas a se tornarem pessoas é muito mais importante do que ajudá-las a tornarem-se matemáticas, poliglotas ou coisa que o valha
Carl Rogers
Demonstrar amor ou proteger é distinto de superproteger. Certas atitudes, aparentemente inofensivas, prejudicam o desenvolvimento dos filhos. Por exemplo, quando fazemos pelo filho a tarefa que ele já tem capacidade de fazer sozinho – comer, vestir-se etc. – postergamos o desenvolvimento da maturidade e da independência.
É certo que os pais não querem que os filhos sofram. No entanto, superproteção e facilidade constante não implicam felicidade, não são garantia de bem-estar. Ao contrário.
As crianças necessitam, e desde cedo, fazer escolhas, cometer erros, enfrentar desafios, experimentar frustração. Quando não permitimos que os filhos façam as coisas por si mesmos, que não exercitem suas habilidades e competências, interferimos de modo negativo em seu crescimento e, também por isso, não é sem motivo que filhos superprotegidos sofram por falta de confiança ou se tornem tiranos…
Muitos familiares cercam a criança de proteção com medo de que se machuquem – fazendo coisas ou brincando. Com essa atitude, acabam por impedi-la de correr riscos, de desvendar as coisas por si mesma.
Quando há superproteção, ao invés de buscar as próprias respostas, a criança é ‘treinada’ para crescer esperando que seus problemas sejam resolvidos pelos outros e isso, na realidade, é guiar o filho rumo a uma fantasia… Mais tarde, sofrimentos diversos serão suportados por conta desse engodo básico e produzido nos anos iniciais… E, ainda, superproteção não é só impedir que algo aconteça, como o filho pequeno cair da bicicleta ou se machucar, mas também não deixá-lo ter contato com limites, descobertas, dilemas, frustrações. Aliás, é nos momentos de frustração que as crianças aprendem a encarar seus desafios, solucionar problemas e ter responsabilidade diante da vida.
Ao fazer tudo pelos filhos, resolvendo suas questões, antecipando suas ações, os pais, na realidade, acabam desorientando os filhos, pois crianças superprotegidas tendem a tornar-se pessoas mais inseguras, dependentes e com baixa tolerância às críticas. Além disso, filhos superprotegidos correm mais risco de na adolescência (e na vida adulta) se refugiarem nos mundos ‘alternativos ‘ – os videogames e a internet, apresentando, não raramente, dificuldades de comunicação/socialização.
Reflita sempre sobre a maneira como se porta em relação ao seu filho pequeno, e procure, no dia a dia, manter um equilíbrio entre a proteção e o desenvolvimento de sua autonomia. Certamente, é importantíssimo cuidar, dar carinho, ouvir, conversar, dar afeto para os filhos, mas sem esquecer de ensiná-los também a cuidarem de si mesmos…
Notinhas
Superproteção é distinto de proteção. Superproteger é viver pelo filho, anular sua autonomia, torná-lo prisioneiro de escolhas que não sejam as dele. Superproteção é privação do crescimento. São implicações da superproteção: atraso no desenvolvimento; dependência emocional; isolamento social; dificuldade de lidar com frustrações. São sinais de pais superprotetores: medo excessivo que o filho se machuque (brincando ou fazendo coisas); falar de maneira infantilizada com o filho ou a filha; tratar o filho de uma maneira que não corresponde com a sua idade – a criança tem 8 anos, mas o pai/mãe, responsável, a trata como se tivesse 5 anos.
Pais superprotetores infelizmente criam filhos dependentes e incapazes. Além disso, crianças superprotegidas estão mais sujeitas à ansiedade/depressão.
O consolador – Cinco-Marias