Na sua vida científica, Camille Flammarion foi assistido por duas notáveis mulheres que, além de esposas foram dedicadas secretárias, que viveram e participaram do mesmo ideal de pesquisar e divulgar a Astronomia através da Société Astronomique de France.
A primeira delas foi Sylvie Petieux-Hugo, nascida em 28 de fevereiro de 1836, esposa de um notável médico, a quem deixaria em 1867 para se dedicar inteiramente a Flammarion, com quem se casou em 18 de agosto de 1874, ao se tornar viúva. A lua-de-mel do jovem casal foi uma viagem em balão, quando então Flammarion inicia seus estudos de Meteorologia.
A admiração de Sylvie por Flammarion, assim como a de Gabrielle Renaudot, sua segunda esposa, com quem se casou em 9 de setembro de 1920, após o falecimento de Sylvie, em 28 de fevereiro de 1919, iniciou-se com a leitura das obras filosóficas e científicas do astrônomo.
Gabrielle Renaudot se apaixonou por Flammarion quando ainda secretária do astrônomo na Société, em 1915. Graças a ela, a revista L ’Astronomie resistiu a todas as dificuldades de dois períodos de guerras, sem interrupção. O mais notável, entretanto, foi a compreensão de Sylvie, em relação a Gabrielle, por quem houve, segundo se conta, crises de ciúmes que foram ultrapassadas racionalmente, como confirma a indicação por Sylvie do nome de sua sucessora para o Prix des Dames em 1917, dois anos antes de sua morte.
Às vezes, o autêntico amor de duas mulheres ultrapassa a todo o ciúme recíproco, quando o ideal do homem amado as absorve totalmente. Esta é talvez a mais bela lição da vida amorosa de Flammarion.
Sylvie era neta de Estêvão Hugo, oficial do Império, condecorado por Napoleão I, parenta por parte de mãe de Victor Hugo, e sobrinha do general Carlos Hugo.
Incansável e sábia colaboradora de seu marido em trabalhos astronômicos de importância, foi agraciada com o prêmio Janssen, que recebeu das mãos do seu próprio instituidor, Presidente da Sociedade Astronômica e Diretor do Observatório de Meudon.
Não foi somente a infatigável colaboradora de seu marido na árdua tarefa da medida das estrelas duplas no Observatório de Paris, fato esse que vale ao ilustre astrônomo um justo renome; mas, principalmente, contribuiu para a criação do Observatório de Juvisy, obra de grande monta, devida à generosidade de um admirador de Flammarion.
Pelos seus trabalhos no Observatório de Paris, em colaboração com o marido, merecera as palmas de oficial da Academia, e, alguns anos mais tarde, a comenda da Instrução Pública.
Muitos anos antes da [Primeira] Guerra [Mundial] Mme. Flammarion fundara uma Sociedade de Damas cujo fim seria implantar pelo desarmamento geral o reinado da Paz sobre a Terra. Não lhe foi possível ver realizado esse generoso sonho.
Os despojos mortais dessa ilustre mulher foram sepultados, por uma exceção que somente os grandes méritos científicos permitem, no próprio Observatório de Juvisy, precedendo uma cerimônia puramente civil.
A Revista de Espiritualismo, de maio de 1919 assinalou: Profundamente sensibilizados com o profundo golpe que vem de sofrer o nosso caro Mestre com a partida da sua fiel companheira e colaboradora de quase meio século, compartilhamos sinceramente da sua grande dor e levantamos ao Alto as nossas preces ardentes, pela grandeza desse nobre Espírito que era todo o seu enlevo na Terra.