Autor: Guaraci de Lima Silveira
Toda a natureza se comporta de alguma forma. Naquelas em que o instinto vige, o comportamento parece uniforme, com pequenas variações de acordo com a parcela da inteligência rudimentar que começa a surgir. Exemplo rápido, algumas espécies de macacos que já conseguem utilizar pequenas ferramentas para melhor conseguirem seus alimentos. Uma infinidade de estudos pode ser empreendida nos comportamentos dos irracionais. Sempre impressionam pela sutileza, multidiversidade e sofisticação. Como viemos de lá, desde cedo lidamos com este assunto. Nós humanos nos comportamos de acordo com nossas culturas, tradições, pressões e histórico individual. Cada qual tem sua história. Cada qual tem suas respostas.
Verdade é que vivemos dentro do nosso universo particular. O que já conseguimos perceber de tudo o que nos cerca significa o reflexo dos avanços que já fizemos em nossa maneira de olhar e entender e racionalizar a partir da lógica. Tudo o que ocorre à nossa volta faz parte do lado de fora de nós. Para esta relação nos utilizamos dos cinco sentidos. Eles nos capacitam a ver, tocar, cheirar, ouvir e sentir o gosto das coisas, de tudo aquilo que nos rodeia. Temos uma estrutura psíquica formada desde milênios nas múltiplas experiências vividas a partir da mônada divina quando se desprendeu de Deus e foi buscar sua evolução. Como somos singulares em Deus, cada qual vivenciou no tempo à sua maneira. Isto é particular de cada ser, donde não podemos exigir que o outro faça exatamente o que fazemos. Todos podem chegar a um resultado único seguindo caminhos diferentes. É isto que torna a evolução satisfatória e diferente para cada ser.
Ora, segundo Jung, o ego é o centro da consciência e um dos maiores arquétipos da personalidade. Ele fornece um sentido de consistência e direção em nossas vidas conscientes. Ainda, de acordo com Jung, a princípio a psique é apenas o inconsciente. O ego emerge dele e reúne numerosas experiências e memórias, desenvolvendo a divisão entre o inconsciente e o consciente. É, pois um estágio de transição entre o que já foi vivido com o despertamento do self, o “eu interno” ou o “em si mesmo”. O ego assume várias personas que são as máscaras criadas para cada situação. Eis aí a grande diferença entre os indivíduos. Tudo vai depender da forma como cada qual trabalha seus recursos mnemônicos e suas libertações dos mitos, ritos e tabus, ou não. Daí a enorme diferença entre as pessoas. Cada qual vivenciando o que já se autoconstruiu.
Não raro estamos condicionados a vários tipos de comportamento padrão, existentes no meio social ao qual pertencemos, colocando ainda a herança familiar nos quesitos da ética e da moral, lições de berço. Como somos Espíritos reencarnados, cada qual traz um projeto e um histórico. Ao adentrarmos o seio familiar e concomitantemente o social, começamos a reagir de acordo com nossas tendências. Assim é que as crianças muitas vezes têm um início de encarnação totalmente diferente do que vai ser quando chegar à adolescência e à fase adulta. Muitos educadores e pais buscam encontrar um modelo de educar. Muito difícil tal tentativa. Cada criança deve ser observada em suas reações. Assim, pais e educadores necessitam agir como cientistas que trabalham em seus laboratórios, num processo empírico, às vezes, solitários, de experimentação e anotação dos resultados. Quando vemos um cérebro e lemos André Luiz dizendo que ele é o ninho da mente, é bom que aprofundemos um pouco mais nossas definições acerca dos comportamentos. A mente vem de longe. O cérebro é, de agora, agente que reflete o que cada um é.
Dentro deste complexo chamado evolução, cada qual está num grau. Minha avó dizia que “os dedos da mão não são iguais”. Ela estava certa. Os filhos se diferem. As lições padronizadas do bem ou do mal sofrem alterações quando entram no universo de cada um. Segundo Paolo Pieri da Associação Internacional de Psicologia Analítica da Universidade de Florença, Itália, “… os procedimentos racionais são efeitos do inconsciente de reconduzir todo elemento psíquico que observa aos saberes que ela própria já constituiu”. Então cada pessoa reagirá a um estímulo de acordo com seu patrimônio psíquico. É sempre bom relembrar que vemos e presenciamos tudo de acordo com as expansões da mônada divina que somos.
Os comportamentos partem dessa premissa. Um indivíduo que ainda não vivenciou as possibilidades dos aprendizados de grande estrutura cognitiva não consegue entender o que outro já entende com facilidade. Da mesma forma as reações comportamentais seguirão a ordem dos processos ético-sociais e morais que já aglutinamos e depuramos ao longo da nossa milenar experiência evolutiva. Dentro da Pedagogia de Jesus verificamos que o Mestre sempre propunha. Suas lições de alto grau de profundidade podem ser apreendidas por todo tipo de mente no degrau evolutivo em que se situe. Há pessoas que entendem que “dar a outra face” significa virar o rosto para que o agressor bata no outro lado. Há outros que entendem que Jesus dizia das faces de uma moeda ou um papel. Se alguém lhe jogar pedras, devolva-lhe flores, correspondendo à outra face daquela ação.
O prof. Carlos Torres Pastorino sabiamente colocou no livro: Impermanência e Imortalidade, psicografia de Divaldo Franco, que “um comportamento dinâmico sob inspiração dos sentimentos do ser profundo não opera cansaço nem sofreguidão, não produz inquietação, nem marasmo, porque é sempre renovador em face da vitalidade que possui”. Eis um conteúdo que pode alavancar nossas mudanças de comportamentos. Comumente se acha que mudar paradigmas é tarefa difícil. Imaginemos alguém que reencarna no Brasil vindo de um país que ainda pune com chibatadas alguns tipos de comportamentos. Essa pessoa certamente terá dificuldades em viver aqui desde o início da sua encarnação. Possivelmente terá um comportamento arredio, medroso, especulativo. Precisará conhecer a nova sociedade. Precisará se envolver com novas formas de práticas religiosas aqui existentes e, certamente, buscará aquela que mais se aproximar da sua antiga crença, quiçá, retorna a ela através de reencontros com pessoas da sua antiga etnia. Quantas vezes nos deparamos com irmãos quase que alienados do contexto social vivido aqui. Não conseguem se adaptar e levam tempo para tal ou até mesmo nunca conseguem e desencarnam sem mudar antigos hábitos, remanescentes do seu passado. O lado contrário também. Um brasileiro reencarnado numa região do oriente médio certamente terá grandes dificuldades em adequar-se às leis que regem aquelas sociedades, tendo em vista que o islamismo, diferente das religiões aqui praticadas em grande escala, é, ali, quase religião oficial. Seria um brasileiro, renascido naquelas terras, um rebelde comportamental? No outro exemplo seria um antigo islâmico, também aqui renascido, um desajustado social? São as tais diferenças que necessitam estudos e não julgamentos tácitos, apriorísticos.
Por isso mesmo que Jesus propôs a fundação do Seu Reino na Terra. Quando isto ocorrer, as pessoas falarão uma mesma língua comportamental, pois que o Cristianismo, além de informar, liberta. Além de instruir, expande consciências. Atualmente o que se vê é um conjunto de comportamentos setorizados seguindo mais ou menos um padrão. E, dentro desses núcleos comportamentais, seus membros diferem da lei geral, motivados por seu livre-arbítrio. Quando nos é proposta a reforma íntima, os objetivos a serem alcançados são uma melhor justaposição dos membros sociais, adequando-os não só para a vida como encarnados e sim após a encarnação. Sabemos que os planos espirituais mais evoluídos respeitam o livre-arbítrio, mas seus moradores participam de um modelo superior de consciência pela racionalização, pela lógica e pelos sentimentos elevados.
De novo vamos citar o Prof. Pastorino, agora na obra: Técnica da Mediunidade. Segundo ele são vários os planos que nos permeiam. A começar pelo mais puro, temos o Plano Divino, depois o Plano Monádico, habitado por consciências que já despertaram em si o Cristo Interno. Após, o Plano Espiritual, onde residem os seres transcendentes. Depois o Plano Mental, onde residem os Espíritos que estão no estágio de Homem para cima, noutra faixa da evolução. Em seguida temos o Plano Astral, que nos rodeia. Mais conhecido como plano espiritual, para onde a grande maioria da humanidade vai quando desencarna ou que ali se encontra aguardando sua encarnação e, por último, o Plano Físico, este em que nos encontramos. Ou seja, estamos envolvidos num processo de interpenetração onde cada qual comporta de acordo com seu estágio.
Dialogando com as páginas daquele livro, concluímos que o importante é que todos nós passemos a nos nutrir de bons pensamentos, que vão gerar boas palavras e boas ações. Como aqueles campos são regidos por faixas de frequências, estaremos atraindo as mais altas frequências que nos capacitarão a maiores entendimentos da vida e suas propostas. O tempo de passar pela vida deixando que ela nos leve já está perdido. Kardec nos diz em A Gênese, capítulo 18, item 27, que: “… No dizer dos Espíritos, a Terra não deve ser transformada por um cataclismo que anulará subitamente uma geração. A geração atual desaparecerá gradualmente, e a nova lhe sucederá do mesmo modo, sem que nada seja mudado na ordem natural das coisas…”.
Novos Espíritos mais evoluídos já estão renascendo. Serão eles os precursores da nova civilização. Eles mudarão o projeto de educar, pois necessitarão mais e exigirão muito. Eles varrerão o uso das drogas lícitas ou não, por elas não se fazerem representar em seus conteúdos ético-morais e transcendentes. Eles erguerão as novas balizas sociais. E já se encontra entre nós uma grande quantidade desses irmãos vindos dos planos superiores da Terra, ou, como disse Manoel Philomeno de Miranda em “Transição Planetária”, virão de outros orbes. E como não têm história gravada por aqui, serão livres para obrarem, uma vez que não terão adversários formais em seus encalços. É necessário e de bom senso anexar estas informações aos nossos conteúdos vivenciais diários e em nossos projetos futuros.
Vejamos quais são os nossos comportamentos atuais. O que mais gostamos, desejamos e buscamos. Observemos qual a relação deles com o Evangelho de Jesus. Não o Evangelho religioso e sim o crístico. Ou seja, o Evangelho que toca nossa intimidade e nos convida a modificar ações. Analíticos dizem que predomina atualmente nos meios sociais a geração Z – aqueles renascidos entre 1993 a 2010. Estão hoje entre um ano a dezoito anos de idade. Segundo dizem é uma geração privilegiada porque recebeu muita coisa pronta e desde criança podem manipular informações de forma digital, bem como buscar conhecimentos. São empreendedores e adoram quebrar paradigmas e com senso crítico muito apurado. São estes os novos irmãos que estão chegando ao plano físico. Como os estamos recebendo? É preciso nos adaptar. Com todo respeito ao dizer, mas existem pessoas que não mudam uma vírgula dos seus hábitos. São os famosos “teimosos”, “cabeças duras”, “intransigentes”, que fazem da sua palavra uma lei, dos seus “achismos” a mais absoluta verdade. Será que chegarão à velhice como ranzinzas e estorvos para os filhos e netos? Há pessoas que não se completam de forma alguma numa atividade de cunho religioso ou assistencial. Não suportam ouvir uma palestra espírita. Não aguentam ou não têm tempo para assistir a um documentário televiso que fale dos progressos das ciências e tecnologias, que quase nunca buscam ler um livro edificante para aprimorar seus conteúdos espirituais e cognitivos, dizendo que não têm paciência para tal, que dormem durante a leitura. Ora, se eu durmo perante uma aula, significa que tenho que me cuidar.
A Terra é uma grande escola. São pessoas que não arredam pé das suas posturas vindas desde gerações passadas. Não saem do homem de antanho, repetitivo nas encarnações e ultrapassado no tempo atual. É bom que se diga que não estamos aqui falando de avanços comportamentais que maculam a idoneidade moral dos seres, como os inúmeros portais da sensualidade, dos alcoólicos, da gula desenfreada pelo atual e crescente glamour da culinária. Da falta de respeito social e familiar, das intransigências pessoais, da busca deliberada do enriquecimento a qualquer custo, da política exercida a seu próprio favor etc. Em tudo se deve buscar a verdade com a bússola do bom senso. Sebe-se que a verdade absoluta é Deus refletido em Suas Leis Naturais.
Comportar-se regiamente significa estar de pleno acordo com as aludidas Leis Naturais, instituídas por Deus, dentro do seu tempo social e espiritual. Quando o indivíduo se entende como observador “ele se curva diante da mente superior que dá a essa energia modos de realidade com que ainda temos de sonhar em nossa existência. Nós ainda entendemos essa energia como caos, mas sua ordem é definida. Está acima de nós. É mais profunda”. Quem nos fala assim é Ramtha, da Escola da Mente nos EUA. Sim, nos tornarmos observadores do contexto no qual estamos inseridos é dar um passo à frente para a quebra de paradigmas. É dar um avanço no quesito: mudança de comportamentos. Daqui a pouco muitos de nós estaremos do lado de lá suplicando a possibilidade da volta. E voltaremos como? Velhos avós em crianças novas? Mas também não se coloca remendo velho em roupa nova. Vai desconfigurar aquilo que acaba de nascer ou ser criado. O velho hábito do ganhar mais no menor tempo e com o menor esforço não prevalecerá dentro em pouco. Em poucas décadas as sociedades terão que modificar sua maneira de interagir, pois que os pobres poderão ir às tribunas exigir seus status. E o farão com justiça. Outros grupos raciais subjugados poderão reivindicar sua posição certa de filhos de Deus. E para esses grupos não vale aqui o conceito de reencarnantes necessitando reparos. Não. Muitos deles são Espíritos luminares lutando pela igualdade social. É preciso saber observar o fruto para conhecer a árvore, como disse Jesus.
“Há o progresso regular e lento que resulta da força das coisas. Mas, quando um povo não progride suficientemente rápido, Deus lhe suscita, de tempos em tempos, um abalo físico ou moral que o transforma”. O Livro dos Espíritos – questão 783. Tudo nos leva a pensar seriamente como estão nossas opções e nossas ações. Bom para refletir. Bom para analisar. Bom para modificar sempre e sempre para melhor.
O consolador – Ano 6 – N 272