Autora: Isabel d’Andrade Marques
Vamos imaginar um grande terminal de aeroporto onde as partidas e as chegadas são uma constante diária. Quando nos vamos despedir de um ser querido que vai viajar para um país distante, já perdidos de saudades que se começam a sentir mal o pesado “pássaro de ferro” se ergue em direção ao azul do céu, ficamos parados na janela do hangar a vê-lo descolar e a transformar-se num pequeno ponto perdido entre as nuvens, até desaparecer na imensidão do céu.
Algures num outro terminal de aeroporto, num outro país, alguém num outro hangar admira emocionado um pequeno ponto branco que surge entre as nuvens e que ao aproximar-se da zona de aterragem se vai transformando num enorme avião que transporta o seu ser querido, que sonhava abraçar há muito tempo.
No ponto de partida ficou a tristeza, a saudade, a incerteza de um novo reencontro; no ponto de chegada abre-se o sorriso, correm as lágrimas de alegria, a felicidade do reencontro.
E porque é que estamos a falar da vida diária de um aeroporto? – pergunta o querido leitor.
É uma analogia com o momento da nossa desencarnação.
Imaginemos mais uma vez, que após termos completado a nossa estadia no planeta Terra, onde por misericórdia Divina nos foi permitido ensaiar mais uns passos na nossa evolução, chegou a hora da partida, de viajarmos para a nossa verdadeira casa, o plano Espiritual. Levamos connosco a bagagem necessária para o nosso regresso, e esta não é constituída por roupa ou joias, nem por nada daquilo que nos foi emprestado por Deus para cumprirmos a nossa missão neste mundo. A nossa mala é o coração e nele estão contidos todos os tesouros que “nem a traça rói nem o tempo enferruja”: tudo o que aprendemos, todo o bem que fizemos, todas as virtudes que conseguimos adquirir e/ou desenvolver.
Este é o passaporte que temos de apresentar na volta a casa: o que conseguimos crescer, tanto em virtude como em amor. Deste lado, fica a saudade da presença, das conversas, dos carinhos e dos sorrisos. Abre-se, assim, muitas vezes, as portas para a tristeza e para o desespero para quem fica e, por sua vez, para quem parte.
Mas Emmanuel mostra-nos o que fazer nessas horas, o saber “bem sofrer”:
“Ante as lembranças queridas dos entes amados que te precederam na Grande Transformação, é natural que as tuas orações, em auxílio a eles, surjam orvalhadas de lágrimas.
Entretanto, não permitas que a saudade se te faça desespero.
Recorda-os, efetuando por eles, o bem que desejariam fazer.
Imagina-lhes as mãos dentro das tuas e oferece algum apoio aos necessitados.
Lembra-lhes a presença amiga e visita um doente, qual se lhes estivesses atendendo a determinada solicitação.
Distribui sorrisos e palavras de amor com os irmãos algemados a rudes provas, como se os visses falando por teus lábios e atravessarás os dias de tristeza ou de angústia com a luz da esperança no coração, caminhando, em rumo certo, para o reencontro feliz com todos eles, nas bênçãos de Jesus, em plena imortalidade”. [1]
Imaginemos a alegria do reencontro ao serem recebidos pelos corações amigos que os precederam e por todos os outros cujo amor foi construído na passagem dos séculos e que por vezes a evolução separou, esses que tanto sofreram com as nossas quedas e se alegraram com as nossas vitórias. Também eles esperaram anos, décadas e até séculos para poderem abraçar aqueles que voltaram da escola terrestre.
Que a nossa saudade possa ser construída de orações pelos que partem, ajudando-os assim a serenar e a adaptarem-se à nova realidade.
Não nos esqueçamos que um dia, quando chegar a hora da nossa viagem, serão eles que estarão à nossa espera ansiosos por nos abraçar. Com amor.
Referências
[1] livro “Saudade e Amor”, psicografia de Francisco C. Xavier/Espírito Emmanuel.
Revista Verdade e Luz, Portugal – O jovem na Casa Espírita