Autor: Felipe Gallesco
Meu nome é Sofia, e gostaria de compartilhar com vocês a jornada extraordinária que vivenciei há algum tempo. Tudo começou em um momento de grande turbulência emocional em minha vida. Após passar por uma experiência traumática, coisas estranhas começaram a acontecer ao meu redor. Sombras se moviam nos cantos dos meus olhos, vozes sussurravam em meus ouvidos, e uma presença inexplicável me acompanhava. Aquilo me assustou profundamente, e a sensação de estar sendo observada era constante.
Decidi contar o que estava acontecendo a uma amiga íntima, Isabela, que, ao ouvir minha história, ficou preocupada comigo. Ela sugeriu que eu buscasse ajuda em um centro espírita próximo, onde poderia encontrar orientação e compreensão.
– Sofia, talvez seja uma mediunidade que está se manifestando em você. Os espíritos podem estar tentando se comunicar. – disse Isabela, preocupada.
– Mediunidade? – repeti, com um misto de medo e curiosidade. – Mas isso é tão assustador!
– Eu sei que pode ser assustador, mas você não precisa enfrentar isso sozinha. No centro espírita, encontrará pessoas que entendem e podem te ajudar. – explicou Isabela, tranquilizando-me.
A princípio, hesitei, afinal, aquilo tudo era muito assustador para mim. Minha timidez sempre me acompanhou, tornando difícil interagir com estranhos, e lidar com o mundo espiritual parecia uma tarefa assustadora. Mas, com o passar dos dias, o medo de continuar enfrentando aquelas experiências estranhas tornou-se maior que a insegurança de me abrir para algo novo. Resolvi, então, seguir o conselho de Isabela e fui até o centro espírita.
Ao adentrar o lugar, senti um calafrio percorrer minha espinha. O ambiente era tranquilo, com luzes suaves e pessoas conversando em tom baixo. Fui recebida com acolhimento e compreensão por todos os membros presentes.
– Seja bem-vinda, querida. Como podemos ajudá-la? – disse uma senhora sorridente, de olhar sereno.
– Oi, meu nome é Sofia. Eu estou passando por algo estranho… Eu vejo e ouço coisas que não consigo explicar – respondi, sentindo um nó na garganta.
– Não se preocupe, Sofia. Muitos de nós já passamos por situações semelhantes. Isso pode ser um sinal de mediunidade sensitiva. – explicou a senhora gentilmente. – Venha, vamos conversar em uma sala reservada.
Sentada em uma sala tranquila, contei detalhadamente as experiências que vinha enfrentando. A senhora, que se chamava Laura, escutava atentamente e com empatia.
– Sofia, o que você está vivenciando pode ser mediunidade. Existem diferentes tipos de mediunidade, e a sensitiva é uma delas. Isso significa que você tem a sensibilidade para perceber a presença de espíritos e até mesmo se comunicar com eles. – explicou Laura.
Suas palavras me trouxeram alívio e um lampejo de compreensão. Talvez aquilo que eu considerava estranho e aterrorizante fosse, na verdade, um presente especial.
– Mas… mas isso é tão assustador! – exclamei, sentindo meus olhos marejarem.
– Eu entendo perfeitamente sua apreensão. No início, pode ser realmente desafiador. Porém, aqui, encontrará apoio e compreensão para lidar com suas habilidades de forma equilibrada. – disse Laura com um sorriso tranquilizador.
Laura me recomendou estudar mais sobre o espiritismo, suas bases e práticas. Entre os diversos livros sugeridos, escolhi iniciar minha jornada com “O Livro dos Médiuns”, de Allan Kardec. Ao mergulhar na leitura, cada página daquela obra era uma revelação para mim. À medida que avançava, eu sentia meu coração se encher de esperança e entendimento.
O livro abordava os fundamentos e a prática da mediunidade, apresentando conceitos que me ajudaram a compreender melhor minhas experiências sensitivas. Descobri que a mediunidade é uma faculdade inerente a todos nós, que pode ser desenvolvida de forma ética e amorosa, com o objetivo de auxiliar ao próximo.
Com o tempo, o medo que me assombrava começou a diminuir, dando lugar a uma curiosidade genuína sobre o mundo espiritual. Tive a certeza de que aqueles espíritos que eu via e ouvia não eram seres ameaçadores, mas sim almas que buscavam ajuda e compreensão.
Inspirada pelas lições do livro e pelo apoio do centro espírita, decidi me aprofundar nos estudos e nas práticas. Participava das palestras, grupos de estudo e atividades de caridade promovidas pelo centro. Aos poucos, fui desenvolvendo minha mediunidade de forma consciente e equilibrada.
– Sofia, fico muito feliz em ver o seu progresso. Você tem um dom maravilhoso. – disse Laura, após uma das palestras.
– Obrigada, Laura. Mas ainda me sinto insegura às vezes. A timidez acaba atrapalhando um pouco. – confessei.
– É normal sentir-se assim, minha querida. A timidez é apenas uma parte de quem você é, e não precisa deixar que ela a impeça de seguir seu propósito. – disse Laura, encorajando-me.
No entanto, uma grande prova ainda estava por vir. O centro espírita estava enfrentando sérias dificuldades financeiras e precisava arrecadar fundos para se manter em funcionamento. Camila, como uma das líderes, propôs a realização de uma feira beneficente para angariar recursos.
A ideia da feira me entusiasmou, mas também despertou um novo sentimento de insegurança. Afinal, organizar um evento desse porte significava interagir com muitas pessoas, e a timidez me deixava apreensiva.
– Sofia, sei que é um grande desafio para você, mas acredito que pode nos ajudar muito com suas habilidades como médium. – disse Camila, confiante em mim.
A responsabilidade que me foi dada encheu meu coração de gratidão e determinação. Eu sabia que era uma oportunidade para mostrar tudo o que aprendi e superar meus medos. E assim, mesmo com o coração acelerado, aceitei o desafio.
A preparação para a feira foi intensa. Com a ajuda dos outros membros, organizamos stands, atividades e tudo estava sendo montado com amor e dedicação. Enquanto ajudava na decoração do espaço, senti uma presença ao meu lado. Olhei em volta, e uma energia amistosa pareceu envolver o local. Era como se os espíritos estivessem ali, apoiando e incentivando nossos esforços.
– Você está indo muito bem, Sofia. – disse Laura, enquanto colocávamos os últimos enfeites. – Sua dedicação é inspiradora.
– Obrigada, Laura. Ainda estou nervosa, mas vou fazer o meu melhor. – respondi, com um sorriso tímido.
O grande dia chegou, e o centro espírita estava repleto de pessoas. A feira estava um sucesso, e cada atividade trazia sorrisos aos rostos dos visitantes. Eu me sentia extremamente tímida no início, mas à medida que as horas passavam, a alegria contagiante do evento me envolveu.
– Sofia, está tudo correndo perfeitamente! – exclamou Camila, visivelmente feliz com o sucesso da feira. – Agradeço muito por toda a sua ajuda.
– Fico feliz em ter contribuído, Camila. – disse, com um brilho de satisfação nos olhos.
Então, algo inesperado aconteceu. Enquanto estava em meu stand, realizando leituras intuitivas para os visitantes, senti uma presença espiritual muito forte. Era como se uma mensagem importante quisesse ser transmitida. Respirando fundo, deixei a timidez de lado e me permiti conectar com essa energia.
– Posso ajudar em algo? – perguntou uma senhora de meia-idade, aproximando-se do meu stand.
– Claro, com prazer. Sente-se aqui, por favor. – convidei, oferecendo-lhe uma cadeira.
As palavras fluíram de mim, como se eu estivesse sendo guiada por mãos invisíveis. A mensagem que entreguei trouxe conforto e esperança àquela mulher, que estava passando por um momento difícil.
– Muito obrigada! Essas palavras foram exatamente o que eu precisava ouvir. – disse ela, com lágrimas nos olhos.
Ao término da leitura, os olhos daquela pessoa se encheram de gratidão.
– Obrigada por ter compartilhado isso comigo. Sinto que essas palavras vieram de algo maior. – ela disse, emocionada.
Naquele momento, eu soube que minha jornada não era apenas sobre vencer a timidez e desenvolver a mediunidade, mas também sobre servir como um canal de amor e auxílio para o próximo. Entendi que não se tratava apenas de lidar com minhas próprias inseguranças, mas de ser um instrumento de paz e consolo para aqueles que precisavam.
O sucesso da feira beneficente foi além do esperado, e o centro espírita conseguiu arrecadar os recursos necessários para continuar suas atividades. A jornada de superar a timidez e desenvolver minha mediunidade havia se transformado em uma jornada de autoconhecimento e amadurecimento espiritual.
Hoje, sou uma médium confiante e engajada nos trabalhos do centro espírita. Minha timidez ainda está presente em alguns momentos, mas aprendi que posso usá-la como uma ferramenta para me conectar com as pessoas de maneira mais profunda e empática.
– Você foi incrível, Sofia! – elogiou Camila, emocionada, ao final da feira.
– Obrigada, Camila. Foi uma experiência maravilhosa. – disse, sentindo meu coração transbordar de gratidão.
Essa jornada me ensinou que, ao enfrentarmos nossos medos e inseguranças, podemos encontrar um mundo de possibilidades e crescimento interior. E assim, caminho adiante, com a certeza de que a espiritualidade é uma jornada única para cada um de nós, repleta de desafios e aprendizados que nos impulsionam a evoluir como seres humanos e como almas imortais em constante busca pelo entendimento e amor.