Autora: Cristina Sarraf
Variando as causas e a intensidade, todos sofremos. O que indica ser uma característica dos Espíritos habitantes da Terra, em suas nuances evolutivas.
Procurando mais estudo e reflexão, recorremos a nossa coluna mestra, os Princípios do Espiritismo; três deles se destacam: os elementos constituintes do universo (Espírito e Matéria), evolução dos Espíritos e livre arbítrio. Ou seja, somos Espíritos com dois corpos materiais, quando encarnados; sempre estamos evoluindo, também desencarnados; e por sermos humanos, já desenvolvemos o raciocínio lógico e com ele o arbítrio, que corresponde à evolução de cada um.
Com essas bases de raciocínio, podemos distinguir dois tipos de sofrimento: o físico e o moral. Distinção fundamental para nossas vidas!
O sofrimento físico se faz no corpo físico, porque qualquer ferimento ou lesão, doença ou algo que o tire do natural equilíbrio, é reconhecido pelo sistema nervoso, nosso fiel guardião, que acusa o fato através da dor. Sinalizada, podemos tomar as devidas providências e manter a vida nesse corpo.
Em forma de dor maior ou menor, o sofrimento físico é inerente aos seres orgânicos que tenham sistema nervoso.
Nós humanos, temos feito uma grande mistura entre dor física e dor moral, tomando uma pela outra; por isso mantendo-nos presos, psicologicamente, a sofrimentos, nem sempre justificáveis, na realidade dos fatos. Mas tudo depende de nossa maneira de pensar. Pois, na exata medida de nossas experiências, entendimento e grau de lucidez, usamos o raciocínio lógico, ainda limitado, e o arbítrio que podemos ter.
Se o sofrimento físico é inalienável alerta para a manutenção da vida do corpo, o sofrimento moral é uma consequência particular do arbítrio de cada um.
Aprendido como conduta social desejável: Oh! como sofre! Coitado! “Perdeu” tal pessoa! Ofenderam ele! Quem aguenta! Com essa idade! … sempre o sofrimento moral depende apenas e exclusivamente de como pensamos. Pois nele a “dor” está na alma, e pode ser eliminada ou administrada pela autoanálise, que descobre se é necessário, útil ou bom mantê-la.
Se a pessoa tem uma postura mental heterônoma, ou seja, de submissão, medo e conformismo, não terá estímulo para promover essa autoanálise. Tendo postura mental autônoma, buscará caminhos para sofrer menos ou por menos tempo.
É claro que quando cometemos erros, descuidos e enganos, ficamos mal conosco mesmos. Manter essa “dor”, essa frustração ou mágoa por anos a fio, promoverá disfunções e doenças físicas. O sofrimento é moral, mas o corpo sendo regido por leis deterministas, ao receber as vibrações mentais condenadoras, cria substâncias no interior das células, correspondentes ao teor do pensamento; as quais, não fazendo parte natural do metabolismo, vão criar problemas orgânicos.
No processo evolutivo, os instintos geram as emoções que são reações fisiológicas (vindas do nosso modo de “ver” a vida), ao que ocorre fora de nós. Tendo as mesmas emoções que nós humanos, os animais por serem naturais, sentem-nas e deixam de sentir quando o motivo cessa. Humanos, nós, com personalidade complexa, distantes da Natureza pelos preconceitos psicológicas e psíquicas, costumamos guardar as emoções após passar a causa, por tempos; o que representa sofrimento moral e consequentes disfunções físicas, ou seja, sofrimento físico também.
Analisar as causas, as consequências, e se está valendo a pena a “dor” de nos mantermos fixados em acontecimentos ruins, em atos ruins de outra pessoa para conosco, nos ajuda a desenvolver postura mental autônoma, que é libertadora. Desfaz a opressão…
Quem não quer sentir-se leve, em paz interior, administrando bem os aborrecimentos comuns da vida e tendo alegria de viver?
Iniciar essa postura mental enquanto encarnados, irá nos ajudar bastante quando desencarnarmos. Não teremos dores físicas, porque o perispírito não tem sistema nervoso… mas teremos dores morais, as mesmas que tínhamos, segundo nosso modo de pensar, conceitos e hábitos.
Podemos também, como muitos, supor que estamos com dores físicas, fruto da memória do tempo de encarnados, o que pode ser eliminado por si mesmo, ao tomarmos consciência da situação; ou, por ajuda externa, que nos alerte e promova exercícios de mudar o pensamento, lembrando que o perispírito não fere, não dói, não machuca, não adoece…
Há quem diga que sofrimento é escolha; parece agressivo, mas no fundo é verdade, embora sem essa conotação maldosa de “gostar de sofrer”. Escolhemos como pensar, reagir, sentir e o sofrimento vem ou não.
O convite é para uma reflexão sobre as causas de nossos sofrimentos morais. Precisamos deles?