Autor: Marcus De Mario
Sonhamos com aquele dia em que as manchetes jornalísticas não sejam mais a corrupção, a violência, o tráfico, a injustiça. Sonhamos com uma sociedade onde se possa andar na rua com tranquilidade, onde as relações tenham por base a solidariedade. Sonhamos com menos competição e mais colaboração. Sonhamos com o despertar num dia onde o respeito ao meio ambiente será lugar comum, onde o capitalismo selvagem terá cedido lugar a uma justa distribuição da renda. Então despertamos do sonho com aquele enunciado popular: “pois vá sonhando, que nem tão cedo isso vai acontecer”, ou com este outro: “isso até pode acontecer, mas dificilmente você vai conseguir vivê-lo”, ou seja, vai morrer antes, de tanto tempo que vai levar para acontecer. Será mesmo? Tudo bem, talvez não dê para ver essa nova sociedade e esse novo mundo em vida, mas que podemos acelerar esse processo, disso não tenho dúvida.
Você já está formulando as perguntas: como? qual o caminho? Não existe um único caminho, mas sim vários caminhos que devem convergir para o mesmo fim, pois nossa sociedade está de tal forma doente e repleta de anomalias, que deveremos caminhar ao mesmo tempo pelo social, pela segurança pública, pela saúde, pela educação. Um conjunto de ações, constantes, para determinar um novo homem e uma nova sociedade.
Mas nada dará certo se o nosso objetivo não for o homem ético e a sociedade humanizada. E não estamos falando apenas das próximas gerações, mas de nós mesmos, aqui e agora, que devemos nos transformar para a ética, a honestidade, o amor e a fraternidade. Afinal, nossos governantes apenas representam o que somos. Eles fazem em maior escala o que fazemos em menor escala, ou mesmo em grandes proporções, como temos visto fazer os grandes empresários. Eles são retrato de nós mesmos, que os elegemos, que os escolhemos.
Há uma teimosa complacência nossa com tudo o que estamos assistindo, pois não reagimos, não nos decidimos atacar o mal pela raiz, mas isso é bem compreensível, pois teríamos que agir na nossa zona de conforto, e poucos são os que querem transformar a si mesmos para dar o bom exemplo aos demais. Queremos que os outros se transformem, pior que isso gritamos contra governantes e políticos, mas se sobrar uma vaga, quem dirá que vamos fazer diferente?
Então um caminho primordial é relegado às traças, é constantemente falseado: a educação. E lá vai ela nublada por provas, testes, notas, cotas, apostilas, confundindo-se qualidade com quantidade, ensino com memorização de conteúdos e assim por diante. A escola, sua legítima representante, não recebe verbas adequadas, fica engessada em burocracias, é obrigada a seguir metodologias obsoletas, vive sucateada, roubada e vilipendiada. E a família, outra instituição fundamental na educação, fica desorientada entre intenso tiroteio de gênero e outras questões, já não mais sabendo os pais o que fazer, e lotam-se salas de psiquiatras e neurologistas em busca do elo perdido da vida.
Para onde vamos se a educação é descaracterizada?
Felizmente temos luz no fim do túnel e mesmo no seu caminho. São projetos como os da Escola da Ponte, do Projeto Âncora, da Escola do Sentimento, entre outros, que nos dão alento a continuar a falar da educação humanizada, transformadora, criativa, ética, afetiva e formadora da autonomia moral, como principal caminho para termos uma nova sociedade.