Autor: Marcus De Mario
Jovem e idealista, ela estudou, formou-se e fez concurso público para o magistério na rede estadual de ensino. Passou e, apesar de morar na capital do estado, foi indicada para trabalhar numa escola em cidade do interior. Não pensou duas vezes: fez as malas e pôs os pés na estrada, como se diz, viajando para onde deveria realizar seu sonho de ser professora.
Chegou, conheceu a cidade, arrumou onde se hospedar e se apresentou na escola. A diretora e a coordenadora pedagógica, percebendo o entusiasmo da novata e sua quase nenhuma experiência, a encaminharam para uma turma que reunia crianças repetentes e analfabetas, rejeitadas pelas outras professoras. Ela aceitou o desafio.
Início do ano letivo e o desafio de alfabetizar crianças que já deveriam saber ler e escrever, além de saber as operações matemáticas básicas. Nossa professora estudou, planejou, preparou atividades e deu início ao trabalho. Em breve tempo percebeu que um dos alunos era muito passivo, não participativo e bem pouco desenvolvido em habilidades, normalmente ficando a um canto da sala, arredio às atividades propostas.
Esse aluno era o Michael Jackson, nome herdado do famoso cantor norte-americano, do qual o pai era fã. E por falar no pai, tinha ido embora de casa, abandonado a família, e a mãe tinha morrido de desgosto. Como os avós eram idosos, ele vivia entre os tios, que cuidavam dele como podiam: eram todos pobres, sem recursos, e pouco sabiam sobre educar uma criança.
A professora não desistiu. Aproximou-se, deu carinho, e estava sempre incentivando: “venha, Michael, eu lhe ajudo”; “você consegue, Michael”; “tenta, Michael, vamos…”. Mas, qual, ele não reagia. Entrava mudo e saía calado.
Conversando com suas colegas professoras ouvia que não adiantava perder tempo com ele, era caso perdido, não tinha mais jeito. Não se conformando com essa análise, procurou novos métodos, novas atividades e… nada! Michael Jackson simplesmente não se modificava, parecia não ter interesse por coisa alguma.
E assim passou o ano, e passou o segundo ano, e finalizou o terceiro ano. Desesperada, deprimida, a professora chegou à conclusão que ela era um fracasso e que devia mudar de ares, antes de enlouquecer. Pediu transferência e foi trabalhar em escola de outro município. Mas aquele “fracasso” a acompanhou e, tempos depois, abandonou o sonho de fazer carreira no magistério. Voltou para a capital e se acomodou.
Certo dia, voltando para casa depois de fazer compras no supermercado, viu-se frente a um jovem que lhe sorria, a dizer:
“Professora! Que prazer em revê-la.”
Ao que ela respondeu:
“Desculpe, mas não sei quem é você.”
“Bem, eu estou bastante modificado. A senhora me conheceu quando criança, lá na turma de analfabetos da escola.”
“Pode ser, mas quem é você?”
“Sou o Michael Jackson.”
Ele contou que a nova professora não quis saber dele, então, recordando a jovem professora que passara três anos tentando que ele se desenvolvesse, reagiu e, finalmente, conseguiu sair de si mesmo e crescer.
“Muito obrigado, professora, devo à senhora o que hoje sou.”
A ex-professora chegou em casa, enxugou as lágrimas e escreveu:
“Se nós, professoras, acreditássemos mais no que fazemos, teríamos muito mais histórias bonitas para contar, do que queixas para fazer.”