Autor: Paulo Salerno
Quem quiser ser o maior, que seja o menor entre os servos
Jesus
Em todos os tempos da evolução da humanidade, o homem para melhor viver e alcançar seus objetivos necessitou de seus semelhantes; verificou através do ensaio e das experiências, meios de como alcançar o sucesso nos seus projetos; percebeu que o auxílio do outro e sua colaboração tornavam mais fácil a vida e a convivência.
No entanto, antes que esta aglomeração de pessoas diferentes venha a se constituir um grupo unido e cooperativo, o sentimento de fraternidade deveria embasar as atitudes, para tal, a liberdade de pensamentos e de opiniões surgiria como ponto de partida para a convivência saudável.
“A união é a força soberana que baixa a Terra, a fraternidade é a simpatia da união…; Precisais ser unidos para serdes fortes e serdes fortes para fundar uma instituição que não repousa senão sobre a verdade, tornada tão tocante e admirável, tão simples e tão sublime…” -Allan Kardec [1]
Para obter tal unidade de pensamento, foi preciso entender que divergir em ideias, não representa desunião, e sim, com indulgência e solidariedade, compreender que são através das divergências que se aprimoram as ideias, e é através de opiniões individuais que se conclui a ideia principal, sendo que união fortalecida entre pessoas, é convergir no interesse e no bem de todos.
“União, desse modo, para nós, não significa imposição do recurso interpretativo, mas, acima de tudo, entendimento mútuo de nossas necessidades, com o serviço da cooperação atuante, a partir do respeito que devemos uns aos outros.”. Emmanuel[2]
Verificamos que o apelo dos grandes emissários do alto, começando por Jesus, chegando aos dias de hoje por Bezerra de Menezes e outros – só será possível se a União estiver instalada no seio de um grupo de pessoas; entre eles deve imperar respeito, consideração, companheirismo, confiança e honestidade.
“Sem caridade não há salvação – sem fraternidade não pode haver União.” Allan Kardec[3]
A Doutrina Espírita, neste momento decisivo de evolução da Terra possui, em grande parte, adeptos conscientes dos conhecimentos já adquiridos. Em contrapartida, os vícios morais ainda presentes são significativos, mas deverão ceder lugar em beneficio da ideia de União e Unificação do Espiritismo, evitando desta forma, que estas imperfeições venham a interferir nos objetivos do movimento espírita, produzindo interpretações desalinhadas com a Doutrina.
O poder, o ter, a disputa, a imposição de ideias e diretrizes materialistas e sofistas, constituem-se entraves infelizes e danosos do processo evolutivo da Unificação; muitas vezes passam desapercebidos, sem análise, e corroem os sentimentos dos mais simples.
Em decorrência dos diversos níveis de consciência, o entendimento dos objetivos unificadores, nem sempre são compreendidos pelos espíritas engajados nas instituições, onde na maioria vemos a triste imposição de ideias individualizadas e disciplinadoras… “…não nos é lícito impor a proposta espírita libertadora ou não nos compete violentar consciência alguma”[4], correndo o risco de cercear ações nobres, com o objetivo de obter resultados positivos, dizendo-se assim, com um entendimento equivocado, estar cumprindo a ideia de Unificação.
Companheiros “…que se elegeram ou foram eleitos lideres por si mesmos, …vêm-se desviando dos conteúdos insofismáveis da Doutrina Espírita, … A presunção e a soberba elegem delineamento e condutas que recordam aqueles formulados pelos antigos sacerdotes, e que ora pretendem se encarreguem de definir os rumos que devem ser tomados pelo movimento… Apegam-se ao poder, como se fossem insubstituíveis… …ameaçam a unidade do corpo doutrinário, olvidando-se daqueles que não possuem títulos terrestres, mas que são, pobres de espírito, simples e puros de coração, em elitismo injustificável. Escasseiam o amor, a compaixão e a caridade. Críticas sórdidas, perseguições públicas, malquerenças grassam…” [5]
Assim a Unificação só será concretizada, se a união dos diversos grupos de pessoas, tenham por base virtudes indispensáveis que atendam ao coletivo, e o bem de todos. Conforme Allan Kardec “ um dos maiores obstáculos capazes de retardar a propagação da Doutrina seria a falta de unidade”[6] e que “somente do conjunto e da comparação de todos os resultados parciais podiam resultar a Unidade.”[7]
Lembremos que o Codificador alerta que, para que houvesse a homogeneidade na Unidade de ideias seria preciso a existência de grupos distintos, mas com os mesmos ideais.
“…a União dos Grupos, Centros ou Sociedades Espíritas que, preservando a sua autonomia e liberdade de ação, conjugam esforços e somam experiências, objetivando o mesmo fim.”
Kardec reafirmando a importância de vivenciar a doutrina espírita em todas as instâncias da vida, indica o caminho da fraternidade para superar os entraves e construir a união e a unificação espírita:
“… os centros que se acharem penetrados do verdadeiro espírito do Espiritismo deverão estender as mãos uns aos outros, fraternalmente, e unir-se para combater os inimigos comuns: a incredulidade e o fanatismo.”[8]
Para que possam se desvencilhar das ideias equivocados e distorcidas, aos que professam os ideais da Codificação, Bezerra de Menezes[9] ensina que “ – É indispensável manter o Espiritismo, qual foi entregue pelos Mensageiros Divinos a Allan Kardec, …sem personalismos deprimentes, sem pruridos de conquista a poderes terrestres transitórios” , corrigindo posturas, tendo o entendimento e a compreensão do que é difundido, estando harmônico com as diretrizes de Unificação de Kardec.
Estamos na Nova Era e neste momento
“ …essa adesão, comprovando a unidade dos princípios, será, além do mais, o laço que unirá os adeptos numa grande família, sem distinção de nacionalidades, sob o império de uma mesma fé, de uma comunhão de pensamentos, de modos de ver e de aspirações. ” (Kardec, Allan)[10]
Conclusão
Assim atendendo à programação evolutiva de nossa Terra, auxiliando com o esforço autoiluminativo, já consciente da Filosofia Espírita, razão e amor, Jesus e Kardec, sentindo-nos trabalhadores da Última Hora, com o dever de difundir a Doutrina Espírita – Consolador Prometido – faculta-nos procurar manter a Unidade e a Unificação Doutrinária.
Para tal, todos os trabalhadores da Seara do Mestre devem ter em mente a necessidade de acolher, e entender o outro em seus diferentes pensares. Que as ideias não sejam impeditivos da fraternidade e do amor que deve vigir em nossas células espíritas, bem como no nosso movimento. Que seja o nosso pensamento Unir em um mesmo objetivo, abdicando a postura do “eu” e multiplicar o “nosso”, para que a prática da “fraternidade”, seja a principal virtude, elo fortalecedor da sociedade. Se esta “virtude” não estiver implantada entre os espíritas, seguidores dos ensinamentos de Jesus, a ideia de União e de Unificação da Doutrina Espírita, será uma simples ideia utópica.
Nesta perspectiva a unificação dos espíritas deve se concretizar pela fraternidade, indo além do patamar das ideias e do conhecimento, mas principalmente pela vivência do amor incondicional.
“… temos que lograr a Unificação, mas essa Unificação dependerá muito da nossa União de uns com os outros como pessoas que somos. Se não formos capazes de nos tolerar uns aos outros, as Instituições que dirigimos não se vincularão uma às outras, por que as instituições, de alguma forma, são as pessoas que as dirige…” [11]
“Quem quiser ser o maior, que seja o menor entre os servos”. (Jesus)
Referências
[1] Allan Kardec/ Allan Kardec/ Revista Espírita, Número 11, nov. 1862, pag. 474
[2] Reunião pública de 7/10/60, Questão nº 334 (Seara dos Médiuns, 73, FCXavier, edição FEB)
[3] Kardec, Allan – A Prece Segundo o Evangelho, pag. 11 a 23 – FEB
[4] MENEZES, Bezerra (Mensagem recebida pelo médium Francisco Candido Xavier em reunião da Comunhão Espírita Cristã, em 0/4/1963-Uberaba-MG). Revista Reformador, FEB/ Ano 93, n° 1761. Rio de Janeiro Dezembro/1975, pág. 275
[5] Carvalho, Vianna de – Divaldo Franco, Espiritismo e Vida-Cap. 11
[6] (Kardec, Obras Póstumas, Projeto 1868)
[7] Kardec, Allan – Obras Póstumas Comissão Central – Item IV: o permanente fortalecimento e aprimoramento das suas atividades e do Movimento Espírita em geral. (CEI – Conselho Espírita Internacional)
[8] Kardec, Allan – Obras Póstumas – Constituição do Espiritismo – Item VI pág. 438. Ed. FEB: Rio de Janeiro/ RJ 2005.
[9] FRANCO, Divaldo P. Mensagem de Bezerra de Menezes, – “Unificação”, R. Ref. dez/1975-ago/2001
[10] Kardec, Allan – Obras Póstumas – Constituição do Espiritismo – Item VIII, pág. 444 Ed. FEB: Rio de Janeiro/ RJ 2005.
[11] Encontro com Divaldo Franco – Reformador- Revista de Espiritismo Cristão. Maio, 2005 n° 2114-A Anexo III.
Nota
Este artigo foi elaborado por Paulo Salerno e seus companheiros do Grupo de Estudo da Doutrina Espírita-GEDE, da Sociedade Espírita Luz, Paz e Caridade, de Porto Alegre (RS).
O consolador – Artigos