Autor: Ricardo Orestes Forni
O convite é sério, embora possa não parecer. Você irá entender após a história que vou narrar com as minhas palavras e que pertence à literatura espírita. Vamos lá.
Conta-se que um Espírito chegou às elevadas esferas da espiritualidade para adentrar as regiões celestiais dos bem-aventurados, da qual ele se fizera merecedor, segundo os seus cálculos. Vestia-se com uma túnica branca resplandecente de luz. De tão elevado se apresentava que os seus pés não tocavam o chão, volitava.
Dirigiu-se ao Emissário divino responsável por aquelas paragens celestiais e solicitou a permissão para entrar naquele local de bonança indescritível. O emissário, porém, de olhar arguto e com longa experiência, disse ao postulante àquelas paragens de luz que antes precisava fazer algumas perguntas a ele para confirmar o direito ao qual se julgava merecedor. O candidato à felicidade indescritível não se fez de rogado e colocou-se à disposição das indagações a ele endereçadas.
Perguntou-lhe então, o Emissário, se ele tinha incorporado as grandezas do amor, e a resposta foi afirmativa. Em seguida foi-lhe perguntado sobre o dom da sabedoria que também recebeu a mesma resposta. Indagado sobre o exercício da caridade e da paciência, o candidato confirmou suas experiências. Sobre a fé não havia nenhuma dúvida, ele sempre confiara na Providência Divina. No combate aos vícios, o postulante não deixava nada a desejar.
Entretanto, ao Emissário divino, algo estava errado com aquele candidato ao paraíso. Num momento de inspiração fez uma pergunta muito direta ao interessado: você, meu irmão, que se veste de roupas muito alvas, por acaso já trabalhou no inferno?
“Como?!” – indignou-se ele. “Então eu poderia ter trabalhado em tal lugar e manter-me na pureza em que me apresento nessa ocasião?!”.
O Emissário divino percebeu que tinha acertado na mosca! Incontinente respondeu à indignação daquele Espírito: “Meu irmão, Jesus, o lírio de Deus, trabalhou junto ao inferno moral da Humanidade, e da Terra partiu sem nenhuma mácula! Seremos nós melhores do que Ele?”
Mas não se dando por satisfeito, completou: “O sol, todos os dias, apesar de estar a uma distância de 150 milhões de quilômetros, lança seus raios aos mais infectos pântanos da vida sem macular-se! Por que haveríamos nós de nos comprometermos por trabalhar no inferno dos homens necessitados de nossos préstimos?”
E continuou a esclarecer: “É isso que está faltando para você adquirir o direito a regiões celestiais. Quem conhece o amor, precisa descer ao planeta para amar aos semelhantes, mesmo que tal decisão represente trabalhar no inferno! Quem possui a sabedoria, precisa descer ao inferno da ignorância para ensinar os que sabem menos! Quem possui a fé sólida, precisa socorrer aos aflitos do mundo no inferno da incredulidade em que vivem. Por isso, meu amigo, é preciso descer ao inferno daqueles que estão em situação piores do que a nossa e socorrer sempre! Boa viagem de regresso!”
Por isso que no início fiz o convite para trabalharmos no inferno. Não sei quanto a você que me lê, mas já ouvi muitas vezes as seguintes frases: “Não aguento mais o inferno dessa vida! Essa mulher é um verdadeiro inferno que me acompanha! Não sei onde estava com a cabeça para casar com o inferno desse homem! Esses filhos são um inferno a trazer-me problemas para resolver! Nesse emprego parece que vivo em um inferno! Esse patrão existe para fazer da minha vida um inferno!”
Ora, se é trabalhando no inferno que nos candidatamos às regiões elevadas da espiritualidade, vamos aproveitar se já estamos nele!
Sua esposa, seu marido, seu emprego, seus filhos, seu patrão, seus parentes se constituem em inferno para você? Ótimo! Estamos tendo a oportunidade de galgar nossos degraus para regiões felizes onde moram a felicidade e a paz verdadeiras.
Se você, de alguma forma, sente-se no inferno em qualquer lugar onde a Providência Divina o colocou na atual existência, e, se ela nunca se engana, agarre a oportunidade com as duas mãos. Está aí o convite para você se fazer merecedor de regiões elevadas da espiritualidade superior. Se for bem-sucedido poderá apresentar-se ao Emissário divino que irá liberar sua entrada aos páramos de luz!
Curta seu inferno meu amigo, ele é o prenúncio do céu!
O consolador – Ano 10 – N 492