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Vansan: União entre música e palestra

Entrevistador: André Ribeiro Ferreira

Natural de Mogi das Cruzes (SP), onde reside e vive atualmente, Vicente de Paulo Fernandes da Costa (foto), o Vansan, costuma dizer em tom de brincadeira que hoje é apenas um ponto de referência, visto que frequentemente está viajando para palestras e shows. Nasceu numa família católica praticante, foi coroinha e participante das equipes litúrgicas da igreja que frequentava. O avô fundou, e o pai dirigiu em sua cidade, um abrigo para idosos desamparados, a Casa de São Vicente de Paulo, que atendia apenas idosos carentes e sem recursos.

Seu nome veio em homenagem ao santo. Mas a igreja não respondia, de forma convincente, às suas inquietações e dúvidas. Em torno de 1980 começou a ter sérias crises de enxaqueca, que os medicamentos não conseguiam aliviar, mas acabaram levando-o a buscar ajuda em uma casa espírita. Passou a frequentar, estudar e trabalhar na Doutrina Espírita, onde pôde dedicar-se à tarefa assistencial, mediúnica e artística.

Hoje está vinculado ao Núcleo Espírita Caminho da Luz, em Mogi das Cruzes.  É autodidata, toca violão e compõe desde os 8 anos de idade. É músico profissional desde 1978, professor de música e professor universitário na área de Comunicação Social. Realiza mais de 300 palestras literomusicais/doutrinárias por ano, utilizando a música, pelo Brasil e exterior,  em Casas espíritas, congressos e encontros. No exterior já se apresentou em Portugal, Espanha, Bélgica, Suíça, Alemanha, Itália, Estados Unidos, Canadá e em Moçambique. Já produziu e lançou 35 CDs e um DVD.

Vansan concedeu-nos a entrevista seguinte. 

O que o motivou a trabalhar com a arte espírita? Comente sobre suas obras e seus últimos trabalhos

Desde 1980, quando, por motivo de saúde, fui orientado pelo próprio médico a procurar uma casa espírita. Tendo recebido o precioso medicamento do evangelho de Jesus, desenvolvi o dom da mediunidade nos trabalhos práticos de desobsessão, de cura e na obras assistenciais da casa (sopa, atendimento fraterno,  e nos trabalhos de evangelização junto às comunidades carentes).  Mais tarde fui orientado a  cantar  e tocar violão durante os  trabalhos de cura contribuindo assim para a vibração. Paralelamente já participava como músico nas aberturas musicais de renomados palestrantes espíritas e  com a vibração da música nos trabalhos de grandes psicógrafos. Até que, por orientação espiritual, dei início à tarefa de evangelizar através da música – a TERAPIA MUSICAL DO AMOR –, trabalho que venho realizando há mais de dez anos e que me tem proporcionado grandes alegrias. 

Como surgiu essa tarefa?

A tarefa surgiu a partir de um convite para uma jornada de palestras de um  orador renomado, no interior de São Paulo, onde eu faria apenas a harmonização de ambiente da palestra. A jornada seria de 10 dias em cidades diferentes. Ocorre que o orador ficou adoentado e não pôde comparecer. Nosso anfitrião então me disse que ficasse tranquilo que ele faria  a palestra e eu ficaria com a harmonização. A primeira cidade visitada era muito pequena  e as pessoas muito simples ficaram magnetizadas com a música que eu cantava na harmonização antes da palestra. Ele se aproximou de mim discretamente e me disse ao ouvido – não vou quebrar esse encanto – a noite é sua – a lição do Evangelho hoje é sobre os laços de família – fale o que souber e cante dentro desse tema. Foi o que fiz intuitivamente e ficou muito bom, a ponto de ele me repassar a tarefa toda durante o restante da jornada. Nascia ali o EVANGELHO MUSICAL, onde discorro sobre temas doutrinários e ilustro com músicas que complementam as mensagens. As pessoas cantam junto e se envolvem na vibração. É muito gratificante  e agradeço a Deus todos os dias por essa tarefa a mim confiada. 

Fale-nos sobre o seu repertório

Na Seara Espírita, meu repertório é bem variado. Como nos orienta o Livro dos Espíritos, “o que vale é o teor da mensagem”. Escolho as músicas pela mensagem que trazem e pela melodia, de maneira a nos elevar os sentimentos. Canto canções de autores espíritas, de outras religiões e até de quem não se identifica em qualquer religião, além de muitas composições próprias e versões que faço de composições renomadas do cancioneiro popular internacional. O objetivo de nossa tarefa é levar consolo, paz, alegria e força, fazendo com que nossas canções e palavras sejam veículos de aproximação das pessoas a Deus.  

Você foi influenciado pela prática de alguma instituição ou tem iniciativa particular?

Sigo minha própria intuição, mas cada casa que visito contribui para meu aprimoramento. Há casas que, em virtude do foco de estudo daquela semana, me sugerem temas a serem explanados. Cada casa é uma história em particular. Procuro seguir minha intuição, dentro da condição vibratória do ambiente e das necessidades dos presentes. Não costumo definir um repertório previamente. A espiritualidade vai-me intuindo. E frequentemente ouço dos presentes: essa música falou pra mim o que eu estava precisando ouvir hoje!

Há muitos relatos de pessoas que estavam sentindo-se doentes, até mesmo com dores físicas, e que, através das canções, abriram espaço para o auxílio espiritual e se sentiram melhor. Outros, diversas vezes, que traziam no coração a dolorosa intenção do suicídio, ao participarem de nossa apresentação mudaram seus propósitos. Laços de ódio e desavença desfeitos. Reconciliação de familiares que não se falavam há muito tempo, por orgulho, e até mesmo grupos afastados dentro da própria casa espírita que se uniram novamente. E isso também ocorre entre os Espíritos. Muitos irmãos desencarnados são socorridos. É muito gratificante para mim e me estimula a prosseguir sempre.          

Como você vê a qualidade da produção musical espírita, em geral, no momento atual?    

Com a graça de Deus, vejo que vem crescendo em todos os sentidos. Não só na quantidade de grupos e composições, mas também na qualidade musical e doutrinária. Novos grupos surgindo a cada dia. Muitos inspirados pela  nossa tarefa. E cada vez mais voltados para a divulgação da doutrina e do Evangelho de Jesus. As pessoas recebem, com a música nas casas espíritas, uma dose importante de ânimo, de alegria, de fé e de esperança. 

Quais as facilidades encontradas e as principais dificuldades em sua tarefa?

As dificuldades são as mesmas de todo trabalhador espírita. Na maioria das vezes só encontro mesmo alegria, acolhimento, fraternidade por onde passo. A alegria de servir com Jesus. A grande facilidade que encontramos, antes de tudo, é o amparo espiritual. Dos mentores de nossa tarefa, mas também da espiritualidade das casas espíritas que visito. A acolhida que sempre nos dão os companheiros espíritas. E principalmente o carinho das pessoas que nos acompanham. As dificuldades são as mesmas de qualquer cristão. Vencer a barreira das imperfeições humanas, mas principalmente as nossas. Vigiar sempre e orar para que não venhamos a sucumbir na sedução da vaidade, do orgulho e do egoísmo que tanto nos assolam. Cuidar da sintonia mental e de nossas escolhas para que não venhamos a ser veículos de espíritos não bem intencionados e daqueles que desejam deturpar a nossa tarefa. Mas, acima de tudo, confiar. Jesus é a nossa grande fonte de inspiração.       

Qual o papel dos compositores, artistas, escritores, dirigentes e líderes espíritas na melhoria e preservação da qualidade das produções artísticas e dos conteúdos espíritas?

Muitas obras da literatura espírita nos falam da importância da música nos trabalhos espirituais. A música, quando elevada, é capaz de nos colocar em sintonia com o mundo superior e, associada à poesia, essa sintonia se completa. Cabe, portanto, aos artistas médiuns, que somos, vigiar e orar, cuidar de nossas escolhas e sintonias, para que nossa produção artística possa ser sempre esse canal de ligação com Deus. São muitos os irmãos, encarnados e desencarnados, que, sensibilizados pela arte, mudam seus propósitos menos felizes e se permitem receber ajuda e tornarem-se trabalhadores valiosos. A arte é a expressão do belo em seu mais complexo entendimento. O belo nos inspira a resgatar a nossa condição divina de seres criados para o amor.  

Quais os seus planos em relação ao futuro, em relação à arte espírita?

Prosseguir semeando. Vejo que hoje muitos grupos musicais estão surgindo, inspirados pelo trabalho que realizamos. Fico feliz ao ver que muitos jovens se interessam por essa tarefa. E é aí que vejo um ponto muito importante porque, em sua maioria, as casas espíritas estão envelhecendo com seus trabalhadores. Há ainda um interesse muito pequeno dos jovens pelos trabalhos das casas. E poucas são as casas que oferecem oportunidade para que eles possam participar mais ativamente. É a arte espírita o melhor caminho para atrair a juventude a assim garantir a continuidade  das tarefas. Os jovens que estão nessa condição são extremamente atuantes e participativos. Fico feliz por poder ser um ponto de inspiração para esses jovens.        

Sua mensagem final aos nossos leitores

Primeiramente queria agradecer a oportunidade oferecida por este importante veículo de divulgação espírita. Neste mês de março estou com intensa programação de apresentações em Brasília. Gostaria de dizer que é uma grande alegria, para mim, estar junto à comunidade espírita da região. Convido-os a nos prestigiar com sua presença, rogando a Deus que os ilumine e abençoe e que possamos todos prosseguir servindo com amor, união e fraternidade, guiados, inspirados e amparados por Jesus, nosso modelo e guia de perfeição.

O consolador – Ano 10 – N 507

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