Autor: Marcus De Mario
Estamos vivendo tempos em que o ser humano está desencontrado consigo mesmo. Diante de crises econômicas, desestabilização social, pandemia, ideologias radicais e outros fatores, muitas pessoas estão deslocadas de si mesmas e da sociedade, no chamado vazio existencial. Não sabem responder qual é o sentido de suas vidas, o que devem fazer no dia a dia, nem mesmo posicionar seus valores existenciais. Vivem, mas não sabem porque, não tem objetivos solidamente edificados, o que as leva a sentir um vazio interior muito grande.
Essa situação leva à solidão. Sem objetivos, confusos nos seus valores de vida, retraem-se automaticamente, acreditando não pertencerem nem a este nem aquele grupo social, sentindo-se deslocadas nos ambientes que precisam frequentar. Podem estar rodeadas por outras pessoas, mas se sentem solitárias. Começam paulatinamente a se isolar, muitas vezes abrindo portas para a depressão e o suicídio.
O vazio existencial somado à solidão geram a ansiedade. O que vai acontecer comigo amanhã? Para onde caminha a humanidade? Terei emprego e salário no próximo mês? E a ameaça de uma guerra? Como a pessoa não consegue fortalecer laços de amizade, torna-se cada vez mais ansiosa, nervosa, imediatista, querendo garantir o que tem e prevenindo-se de um futuro incerto. Nessas condições aumenta o estresse, a possibilidade de um colapso nervoso e complicações em sua saúde.
Diante dessa realidade, perguntamos: o que a educação pode fazer para reverter esse quadro, que não é deste ou aquele povo, mas, de forma geral, distribuído pela população mundial?
Partindo do entendimento que a educação é a chave do progresso individual e coletivo, mas que a educação não é apenas transmissão e aquisição de conhecimentos culturais e científicos, pois deve considerar todo indivíduo como ser integral dotado de inteligência e sentimento, percebemos que é a educação o verdadeiro antídoto, a verdadeira vacina contra o vazio existencial, a solidão e a ansiedade.
Nisto temos um vasto programa pela frente que requer um novo pensamento sobre a educação, pois não se trata de apenas mudar metodologias e recursos didáticos, compreendendo antes revisitarmos a filosofia que rege a educação, o que queremos dela na formação das novas gerações, para então transformarmos o universo pedagógico das escolas e das famílias, pois professores e pais precisam trabalhar em conjunto, sob pena de falarmos em educação integral, ser integral e continuarmos a praticar uma educação compartimentada, distante do discurso e da realidade.
A grande crise humana que se assiste, atingindo todas as áreas, é, na verdade, uma crise moral, determinada pelo desleixo a que relegamos a educação nas últimas décadas, substituindo-a por um sistema de ensino voltado para a instrução de conteúdos curriculares pré-determinados, engessados e que muitas vezes nada tem a ver com a realidade da vida. Diante disso, e somando-se ao desleixo familiar, é de se espantar que tenhamos crianças e jovens perdidos, sem rumo, com valores invertidos e vivendo exclusivamente o momento presente?
Por mais que psicólogos, psicanalistas e psiquiatras se esforcem em ampliar a literatura e as terapias no atendimento a essa massa de indivíduos que bate em suas portas pedindo socorro para suas vidas, eles não podem resolver o problema sem o respaldo dos educadores, ou seja, da família e da escola.
A humanidade, neste momento, tem um futuro incerto, pois não sabemos que rumo dar à educação, ela que está soterrada pelas preocupações humanas de ordem econômica, política, comercial, de saúde, de segurança e outras Pouco se discute a educação, e quando ela é o foco, é vista através de lentes distorcidas, sem que se debata sua fundamentação filosófica e pedagógica, essenciais para um novo norteamento.
Contudo, apesar do quadro um tanto quanto sombrio, somos do mesmo pensamento de Rubem Alves: esperançosos em dias melhores, quando a educação será prioridade do ser humano, será a alavanca de uma humanidade ética e solidária. Nada melhor que a continuidade da esperança, do trabalho por esses dias melhores, e o tempo para pavimentar uma nova visão sobre o homem, a vida e a educação.