Autor: Jorge Hessen
Podemos conceituar o pensamento como um fluxo de ideias, símbolos e associações, cujos elementos consistem em agrupar e coordenar imagens, em lhes apreender as conexões constituídas, a fim de retocá-las e agrupá-las em novas correlações mais ou menos originais ou completas, segundo a maior ou menor potência intelectual do indivíduo, junto com a capacidade de percepção e comparação, para promover a associação de ideias.
O processo pelo qual se opera o fenômeno do pensamento é problema que a ciência oficial não pôde, até hoje, desvendar. Podemos interpretar o “pensamento” como algo que se tem “em mente”, quando se reflete com o propósito de se conhecer algo e entender alguma coisa. Quanto à mente, é algo abstrato, equivalente ao espírito, à inteligência, e pela qual entendemos o que dentro dela se encontra sob a forma de ideia, de conceito e de representação.
O pensamento tem como objeto: as coisas, ou melhor, as ideias das coisas e é, sem dúvida, força criadora de nossa própria alma e, por isto mesmo, é a continuação de nós mesmos. Através dele, atuamos no meio em que vivemos e agimos, estabelecendo o padrão de nossa influência, no bem ou no mal.
Filosoficamente, observemos que há a realidade que depende da existência de um observador e a realidade que independe do observador para existir. Elementos como átomos, força, gravidade, fotossíntese são exemplos do que existe independentemente do observador – é a realidade natural. Em contrapartida, dinheiro, propriedade e governo são exemplos que dependem de nós para existir – é a realidade social, cultural, existencial. O peso que as ideias ou palavras exercem sobre nossas ações, sobre nossos estados emocionais, sobre a construção de nossas vidas, quase sempre é imenso.
O pensamento atua à feição de onda, com velocidade muito superior à da luz, e a mente é o dínamo gerador de força criativa. Sendo matéria, a onda mental é formada por corpúsculos, os quais André Luiz denominou de “partículas mentais, a se expressarem como ONDAS e FORMAS MENTAIS”. (1) Em situações extraordinárias da mente, excitação dos micros “núcleos atômicos mentais”, quais sejam, as emoções profundas, as dores indivisíveis, as laboriosas e aturadas concentrações de força mental ou as súplicas aflitivas, o domínio dos pensamentos emite raios muito curtos, teoricamente semelhantes aos que se aproximam dos raios gama.
Decididamente, muito de nossas ações só acontece porque pensamos alguma coisa, desejamos algo, acreditamos em qualquer coisa, tememos algo, ou seja, há um estado subjetivo que provoca um tipo de movimentação no mundo concreto. Se isso é fato – e é difícil, empiricamente, duvidar desse fato -, então, a interferência do que pensamos sobre o que vivemos é muito maior do que, habitualmente, imaginamos. Desta forma, o dito popular, “cuidado com o que você pensa”, possui um sentido muito mais amplo.
A rigor, nossos pensamentos interferem e determinam nossas ações, nossos posicionamentos, e o mundo em que vivemos se constitui a partir da interferência dessas nossas ações sobre ele.
Temos, então, pensamentos que geram ações, que geram pensamentos, que geram ações. Ações que geram o mundo que gera ações. O pensamento do outro que constitui o meu pensamento, que constitui o pensamento do outro. Quais os limites, as linhas divisórias entre esses elementos? Creio não ser possível estabelecer esses limites, ou seja, quando um elemento termina e o outro começa. Não há fronteiras, territórios específicos do pensar, do agir, do eu, do outro.
A constatação da fluidez de nosso pensar e, consequentemente, de nossas ações, enfim, daquilo que somos, talvez permita uma melhor compreensão de como viver em um mundo, onde não haja uma única possibilidade, mas todas as possibilidades, ou seja, onde tudo seja possível.
Sob o ponto de vista espírita, “nosso espírito residirá onde projetarmos nossos pensamentos, alicerces vivos do bem e do mal”. (2) Os pensamentos negativos corrompem os fluidos espirituais, como os miasmas deletérios corrompem o ar respirável, ou seja, o otimismo é expansão da luz e o pessimismo é condensação da sombra. Os infelizes imaginam que o vento geme; os alegres e cheios de otimismos confirmam que ele canta, até porque a vida tem o colorido que lhe damos, pois, o mundo é como um espelho: devolve a cada pessoa o reflexo de seus próprios pensamentos.
Os fluidos que envolvem os Espíritos obsessores, ou que estes projetam, são viciados, variando de acordo com o grau de imperfeição de cada um, ao passo que os que envolvem os Benfeitores espirituais, ou que eles emitem, são puros, tanto quanto comporta o grau de perfeição moral que tenham conquistado. “O pensamento é o gerador dos infracorpúsculos ou das linhas de força do mundo subatômico, criador de: correntes de bem ou de mal, grandeza ou decadência, vida ou morte, segundo a vontade que o exterioriza e dirige.” (3)
Outro aspecto a considerar é que tanto os bons pensamentos quanto os maus, emitidos por um ser encarnado, afetam, consideravelmente, as mentes de irmãos, também encarnados, em faixas mentais equivalentes. É imprescindível compreender que, depois da morte do corpo físico, prosseguimos desenvolvendo os pensamentos que cultivávamos na experiência carnal.
Como disse, os nossos pensamentos geram as nossas ações e nossas ações geram os pensamentos dos outros. Toda carga que o pensamento exterioriza e projeta, alcança aquele a quem vai direcionada. Quando benigna e edificante, ajusta-se às Leis que nos regem, criando harmonia e felicidade. Todavia, quando desequilibrada e deprimente, estabelece aflição e ruína.
Em outras palavras: o pensamento age e reage, carreando para o emissor tudo que o sustenta, como, também, tudo que arremessa a quem pretenda atingir. Determina para cada criatura os estados psíquicos que variam segundo os tipos de emoção e conduta a que se afeiçoe. “Essa corrente de partículas mentais se exterioriza de cada espírito com qualidade de indução mental, tanto maior quanto mais amplos se lhe evidenciam as faculdades de concentração e o teor de persistência no rumo dos objetos que demande.”(4)
O sentimento de amor cristão pode impulsionar o correto pensamento, sem os quais adoecemos pela insuficiência de equilíbrio íntimo, imprimindo no corpo físico as distonias e as variadas patologias que lhe são consequentes. Para termos saúde, é importante saber como estamos pensando.
Os pensamentos negativos operam em nosso estado íntimo determinada perturbação, instaurando desarmonias de grandes proporções nos centros da alma e provocando lesões funcionais variadas.
Deste modo, estabelecem fulcros mórbidos de natureza singular no arcabouço físico, impondo às células a desarmonia pela qual se vulnerabilizam os recursos de defesa, sedimentando-se campo fértil à proliferação de bactérias patogênicas nos tecidos menos propensos à defesa. Quaisquer enfermidades surgem como efeitos, residindo a causa no desequilíbrio dos reflexos da vida interior, uma vez que os sintomas mentais depressivos influenciam as células fisiológicas.
É óbvio que, no desleixo da nutrição, o corpo paga pesados tributos de sofrimento, posto que possibilita a infestação de grande quantidade de micro-organismos patogênicos que, em se instalando nas células orgânicas, podem induzir às moléstias infecciosas de múltiplos caracteres. Porém, não é somente dessa forma que se originam os processos patológicos multiformes. Nossas emoções mais profundas, quaisquer que sejam, geram, também, agudas enfermidades.
Os reflexos dos sentimentos e pensamentos menos dignos que alimentamos se voltam contra nós mesmos, depois de transformados em ondas mentais, tumultuando nossas funções neurológicas, e esses reflexos inconsequentes, derramando-se sobre o tecido cortical, gestam alucinações que podem variar do medo manifesto ao estado neurótico, situação em que os obsessores nos atingem com sugestões destruidoras, diretas ou indiretas, conduzindo-nos a deploráveis fenômenos de descontrole psicoemocional.
O mais importante é não esquecermos, em tempo algum, de que somente o amor cristão pode impulsionar o correto pensamento e nos fazer libertos. Sem o amor de plenitude, adoecemos, espiritualmente, pela insuficiência de equilíbrio íntimo, imprimindo no corpo físico as distonias e as variadas patologias que lhe são consequentes.
Por isso, devemos ter muito cuidado com o que pensamos.
Referências
(1) Xavier, Francisco Cândido/Vieira Waldo. Mecanismos da Mediunidade, ditado pelo Espírito André Luiz, Rio de janeiro: Ed FEB 2000.
(2) Xavier, Francisco Cândido. Pão Nosso, ditado pelo Espírito Emmanuel, Rio de Janeiro: Ed FEB 1999.
(3) Xavier, Francisco Cândido. Roteiro, ditado pelo Espírito Emmanuel, Rio de Janeiro: Ed FEB 1972.
(4) Xavier, Francisco Cândido/Vieira Waldo. Mecanismos da Mediunidade, ditado pelo Espírito André Luiz, Rio de Janeiro: Ed FEB 2000.
O consolador – Ano 10 – N 503