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Vítor Santos: Trabalhos de um poeta espírita

Entrevistador: André Ribeiro Ferreira

Vítor Bruno de Sá Santos (foto), natural de Barcelos, Portugal, atualmente reside em Évora. Licenciado em Direito, é espírita desde 2002 e atualmente atua como palestrante e facilitador do estudo em grupo na casa espírita das seguintes obras de Allan Kardec: O Livro dos Espíritos, O Livro dos Médiuns e O Evangelho segundo o Espiritismo. É associado do Centro Espírita Luz, em Coimbra, da Associação Espírita de Évora (sócio fundador), do Centro de Estudos de Filosofia Espírita de Moura e da Federação Espírita Portuguesa. Para falar sobre suas múltiplas atividades nas lides espíritas, ele concedeu-nos a seguinte entrevista.

Fale-nos sobre suas atividades na seara espírita

Tudo começou enquanto estudava na faculdade, aos 21 anos, quando tomei contato com a doutrina. Desde aí, vim desenvolvendo um trabalho nas seguintes áreas: palestrante; facilitador do estudo das obras de Allan Kardec; organização de eventos, palestras, cursos e conferências e outros aspetos relacionados com o funcionamento e atividades da casa. Faço também transmissão de palestras espíritas em direto na internet e tenho colaborado em vários grupos espíritas e em páginas na internet, como administrador, editor e moderador, além da divulgação diária de mensagens, artigos e poesia espírita nas redes sociais.    

O que o motivou a escrever poemas espíritas e a criar a página “Espírito poético”?

A página é uma homenagem ao meu benfeitor espiritual, a quem carinhosa e respeitosamente decidi chamar Espírito poético. Foi um processo que se iniciou há bastante tempo, apesar de só ter criado a página em fevereiro de 2017. O que me motivou a escrever foi uma voz que se começou a insinuar cada vez mais à minha sensibilidade espiritual. Foi ficando cada vez mais presente e persistente, ganhava vida. Se começou a insinuar mais ostensivamente por volta de 2010. Antes de escrever meu primeiro poema, o primeiro verso era repetidamente enviado em minha direção. Um dia eu disse, já sei isso, já ouvi centenas de vezes. O que desejas? E o resto? E aí ele liberou a primeira quadra, num momento que jamais esquecerei. Eu corri buscando papel e caneta. Desde a í, nunca mais parei de exercitar a escrita, num processo de parceria com o Espírito que me inspira.

Como é o seu processo de produção? Tem influência direta da espiritualidade?

O processo é singular, demorei anos para atingir um certo estado de maturidade. Eu recebo ou capto a informação intuitivamente, diferentemente do que acontece na psicografia mecânica. Nada é oferecido sem esforço, antes de escrever, li com fervor a literatura espírita clássica. Todo o processo é um conjunto. Antes dos poemas surgirem, a voz interior que se tornou familiar apenas me incentivava a criar uma biblioteca espírita e a estudar. Antes do escrever, veio o ler, e foram centenas de livros. Tudo aconteceu gradualmente. Penso que existe influência do meu benfeitor espiritual no que diz respeito a esta aventura poética, pelo que só faço aquilo que sinto merecer a sua aprovação. Sua presença espiritual que eu nunca vi, mas senti, me provocava profundo respeito. Durante anos a fio estudei arduamente para cumprir o meu sonho, conhecer o meu benfeitor, o meu guia, algo que atualmente já aconteceu e pela qual sou profundamente grato a Deus.

Foi influenciado pela prática de alguma instituição ou tem iniciativa particular?

No que diz respeito à minha atividade nas redes sociais e na internet em geral, desenvolvo por iniciativa particular, aproveitando o tempo livre que disponho. Quanto à criação, os estados que antecedem a escrita já são por mim conhecidos. A intensidade vibratória aumenta e eu procuro condensar o que estou sentindo através da rima poética, num estado que chamaria de conexão com a Natureza, com Deus. Não desenvolvi mediunidade propositadamente, procurei educação e disciplina, apesar das oscilações naturais do crescimento de cada ser humano. À medida que estudava mais para as palestras, os poemas começaram a surgir naturalmente. Normalmente, escrevo em casa, ouvindo música instrumental, sempre no seguimento de sentir a aproximação espiritual se verificando . Não faço criações literárias, via da regra, no centro espírita, embora já tenha acontecido esporadicamente. Muitas vezes, a emoção é incontrolável e choro enquanto escrevo, sobretudo quando sinto presenças espirituais junto a mim. Em sinceridade, não esperava estar guardado para este papel, que tantas bênçãos me tem trazido.

Qual e como é a sua participação em “Psicologia e Espiritismo” (facebook), “Espiritismo Brasil Chico Xavier” (facebook) na internet e em outras mídias?

Estas páginas foram criadas pelo Rui Pedro Zão e o seu irmão José Pereira, minha colaboração resulta de convite deles. Recentemente recebi o convite para associar a minha página Espírito poético, por forma a darmos mais alcance aos meus poemas, uma vez que as páginas por eles geridas chegam a 5 milhões de seguidores nas redes sociais.

Como já disse, atuo diariamente na divulgação diária de mensagens, textos e poesia espírita nas redes sociais. É um trabalho que desenvolvo tão apaixonadamente que por vezes esqueço as minhas próprias necessidades e descanso. A gente tira muitas dúvidas acerca da doutrina, atende pessoas desesperadas por companhia, por receber uma palavra amiga. Um aspeto que pretendo ressaltar é o apoio a pessoas com tendências suicidas, pessoas com síndrome de pânico, ansiedade e depressão, angústias existenciais variadas. Por vezes entram mensagens desesperadas nas nossas notificações e a gente não pode negar uma palavra fraterna. Nestas páginas que estamos falando, a equipa da administração ascende a trinta pessoas, todas colaborando gratuitamente . Temos psicólogos, por exemplo, responsáveis pelo atendimento fraterno especializado.

Como você vê o uso das novas tecnologias na divulgação da Doutrina Espírita, no momento atual? Como potencializar e otimizar o seu uso? E que cuidados tomar?

Considero uma ferramenta fundamental. Atualmente, todos os dias, com um simples post me aproximo de centenas de pessoas. Por vezes, na casa espírita falamos para dezenas, comparativamente. E depois há a replicação da mensagem. Vou dar um exemplo prático, do qual tenho dados: minha última palestra foi vista por cerca de 30 pessoas na casa espírita (estava cheia), mas ao vivo chegou a mais de 300 e teve um alcance de 20.000 pessoas no total, não contando as partilhas posteriores que já ninguém consegue controlar os dados. Como ignorar isto? Em conversa com Divaldo, ele me confirmou isso. Vítor, você digita espiritismo no Google e já está. Não há mais o pretexto que não posso ir, a doutrina vem até nós. Quanto aos cuidados, como tudo na vida, uma boa dose de equilíbrio e outra de bom senso. Para potencializar, precisamos estudar; pessoalmente me interesso pelo funcionamento dos algoritmos, de modo a fazer as publicações ir para o topo das páginas. Como a publicidade se paga, precisamos perceber como otimizar a ferramenta gratuitamente. Nunca paguei publicidade ao Facebook, que é o segredo do crescimento rápido de algumas páginas.

Em face do mundo tecnológico, como você vê o exercício da palestra espírita hoje?

O expositor espírita precisa preparar-se para melhor servir ao Cristo, inclusive adquirir o material, se tiver possibilidades para isso. Hoje não é apenas preciso ter uma boa biblioteca, precisamos multimídia, computador, câmara, projetor para as palestras. Tudo isso implica um preparo, requer estudo, dedicação. Mas quando se consegue dominar e ultrapassar o medo de falar em público, você serve numa hora à seara espírita o que antes servia em uma semana. Precisamos acompanhar os tempos. Minha filosofia é: os jovens não vêm ao centro, mas podemos levar o centro onde eles estão, é uma questão de lógica. O Cristo, se for bem apresentado, deixa uma semente que jamais morre, sobretudo no mundo virtual onde tudo fica registado para a posteridade.

Qual o papel do comunicador espírita na contribuição por um mundo melhor?

Eu vejo assim: enquanto uns partilham violência e ódio, eu partilho paz e amor; enquanto uns falam que Deus não existe, eu falo que Deus existe, sim, que suas leis naturais regem os mundos habitados e as nossas próprias existências. Precisamos dar as nossas melhores vibrações para melhorar a atmosfera terrestre. A doutrina espírita é um iluminador de consciências. Não existe mundo melhor, sem mais consciência, sem mais luz na mente e amor no coração. Essa é a chave, usar a doutrina espírita na melhoria pessoal e através do nosso exemplo legá-la aos outros, nossos irmãos em humanidade. O mundo de fora muda quando nós mudamos o de dentro. O comunicador espírita precisa consciencializar-se de que está sendo canal para dar voz aos imortais, que trazem consigo o Consolador prometido. Pessoalmente, foi tudo o que sempre quis para a minha vida.

O que, na sua percepção, precisa e pode melhorar na formação de comunicadores espíritas ante as características do mundo atual?

As pessoas precisam deixar o misticismo. Já passamos a fase do fenómeno, do maravilhoso. A doutrina espírita é a ciência do espírito, precisamos estudar o que ela nos traz, amar o conhecimento, só assim seremos fiéis emissários da doutrina. Eu consigo resumir e explicar para os outros, porque estudei, me esforcei, tive vontade de me autoiluminar, de ser uma pessoa mais espiritualizada. As pessoas precisam aliar o estudo à vivência da realidade, ou seja, quem não adere às tecnologias fica ultrapassado de certa maneira, pelo menos no que diz respeito a passar a mensagem para o maior número de pessoas. Sabemos o imenso poder que as redes sociais têm hoje em dia. Divaldo Franco da última vez que esteve em Portugal me afirmava satisfeito que tinha recebido um smartphone e agora poderia mandar e-mails e ver seus vídeos no Youtube. Se Divaldo se adaptou, os outros comunicadores espíritas não têm mais desculpa para não o fazerem também. 

Como poeta e espírita, quais os seus principais desafios e quais as principais dificuldades a superar? Que recomendação você dá aos novos poetas espíritas?

Recomendo muito estudo, muita entrega; não queiram brilhar, porque quem deve brilhar é a doutrina sublime de Jesus. Não escrevam um livro medíocre aos 30, se podem escrever um bom aos 35. Tenham calma, aprendam a conhecer o Ego, a não cair nas suas armadilhas, não queiram ser parceiros do príncipe do mundo, confiem antes em seus benfeitores espirituais. Não vão na onda das modas estéreis, que logo passam, deixando um lastro de novas necessidades supérfluas. Como qualquer pessoa, luto contra mim mesmo, o único verdadeiro inimigo que existe está dentro de nós. Luto contra o medo, a falta de fé, a ingratidão alheia, tentando que as paixões não virem vícios, fazendo delas virtudes. No fundo, o desafio é passar de ser fisiológico para ser psicológico, na brilhante definição da venerável Joanna de Ângelis.  

Quais os seus planos em relação a atividade espírita para o futuro? Pretende continuar a escrever e publicar poemas?

Continuar esse caminho em primeiro lugar, mas já com alguns novos planos em mente: edição de um livro de poesia espírita em parceria; edição de um livro de reflexões espíritas em prosa, cujo material já tenho reunido, criação de um canal no Youtube para mostrar o meu trabalho na poesia espírita. Meus poemas têm uma cadência própria, assim as pessoas poderão ouvir e sentir como a entoação chega até mim. Também poderei colocar os vídeos das minhas palestras espíritas. Tudo isso sem fins lucrativos, como tudo deve ser quando se quer servir ao Cristo Jesus em espírito e verdade. Está agendada para breve a edição do meu primeiro livro de poesia espírita, intitulado Espírito poético, a convite da Editora Rede Amigo Espírita, a quem doarei os direitos.

Suas palavras finais aos nossos leitores

Envio as minhas fraternas saudações poéticas, rogando a Jesus que envolva os amados leitores na sua incomparável paz. Gostaria, em forma de despedida, de dedicar ao povo brasileiro um poema que escrevi pensando no Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho:

*
Sou Bezerra

Sou Bezerra, médico espiritual

Que trata almas sofridas;

Sou um esculápio astral,

Que, com luz, cura feridas!

Poucos sabem que fui Zaqueu,

Quando me rendi a Jesus;

Hoje sou mais um irmão teu,

Que te apoia na tua cruz.

Sou o décimo terceiro apóstolo,

Desde que o evangelho escutei;

Não existe maior obstáculo,

Que o servo querer ser rei…

Só reconheço um Monarca,

Chama-se Jesus de Nazaré;

Herodes foi um lorde tetrarca,

Mas o Cristo é que ficou de pé!

Sou Bezerra de Menezes,

Amigo dos puros de coração;

Sempre que sentires reveses,

Chama-me, em prece, meu irmão.

Fundei a Casa de Ismael

No amado país de Vera Cruz;

Para que fosse uma nova Israel,

Pátria do evangelho de Jesus!

Querido coração do Mundo,

Pátria amada da boa nova;

Meu Brasil rico e fecundo

Ouve esta pobre trova!…

O consolador – Ano 11 – N 555 – Entrevistas

Título original: Vítor Santos: “O mundo de fora muda quando nós mudamos o de dentro”

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