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Viver é preciso

Autor: Rogério Miguez

Toda a morte é ressurreição na verdade

Agar1

Que é a morte? Qual é o significado deste desfecho que com tanta regularidade alcança os que nos cercam e nos atingirá, mais hoje, mais amanhã? Quanto mais desejamos nos afastar deste trágico fim, não vê-lo presente entre os nossos estimados mais ele se aproxima, se fazendo mais vivo, não pedindo qualquer licença, pois todos sabem: ao nascer começamos a morrer, visto ser o fatalismo biológico uma lei da natureza. Destino cruel assinalado por Deus, do qual não podemos fugir, nem retardar, tampouco ludibriar.

Quem já enganou a morte? Digam os que aprenderam como, contem como fizeram, deem-nos o caminho, mostrem-nos como agir para afastar de vez este momento de tanta amargura, tristeza e desespero. Por qual ardil poderei viver eternamente, conviver para sempre com os meus amados, jamais ter de encarar a carantonha austera do Anjo da Morte.

Quantos séculos transcorreram e quantos ainda transcorrerão, sem poder viver em paz sob a expectativa da chegada deste inadiável fim, desgostosos e temerosos do momento no qual, batendo à nossa porta, lá estará a indesejada morte, requisitando-nos: o filho, a filha, o amado, a amada, nossos pais, ou mesmo informando asperamente sobre o término de nossa própria existência? Vivo para morrer! É isso e nada mais?

Milênios se escoaram, sem vislumbrar uma saída para tão indesejado e inesperado momento. A ciência pouco tem nos ajudado, muito pelo contrário, de modo geral trouxe mais apreensão, pois defendeu e ainda difunde a tese sobre a inexistência da vida pós-morte, confirmando apenas a supremacia absoluta da matéria.

Como seria bom se houvesse alguma luz, mesmo pequenina, quem sabe uma justa razão, qualquer raio de esperança para encontrar tranquilidade diante de tão grave marco: a morte, palavra impronunciável para alguns, tal o pavor e horror a lhes acometer ao ouvi-la.

Quantas vezes fizemos estas indagações, nos questionando sobre a inexorabilidade da morte? Quantos ainda repetidamente o fazem.

Entretanto, há mais de dois milênios, um judeu aparentemente comum, envolvido na aura da simplicidade, sem pompa nem festa surgiu na Terra. Nenhuma trombeta soou, quando Ele emitiu o Seu primeiro choro ao nascer. Poucos presentes, local singelo, talvez animais por testemunhas.

Este particular judeu ensinou, através de sua própria e curta existência, a não afligirmo-nos tanto diante da morte, pois Ele mesmo se entregaria e de fato a ela se entregou, entretanto, ressurgiu logo em seguida e demonstrou em um atestado inequívoco existir sempre vida, e vida plena, em abundância.

Materializou-se diante de alguns incrédulos e ainda vacilantes discípulos e seguidores, e mesmo diante de todos os sinais por Ele anteriormente legados aos seus simpatizantes, através de Seu supremo amor, nada obstante, não compreenderam como um falecido pudesse retornar do País da Morte. “Qual sortilégio realizou”, estavam a cogitar; “como podia se dar tal fato”, indagavam outros; “deixe-me tocá-lo para me convencer de que é real este Jesus”, agiu o mais descrente de todos!

E assim se deu, Jesus retornando, confirmou pessoalmente a sobrevivência, a tão desejada imortalidade sonhada e insistentemente perseguida por tantos através de nossa história se fez presente, real, concreta, mesmo diante de tanta dúvida, tanta incerteza.

Naquele preciso instante, quando se deu o reaparecimento do Mestre, radiante, resplendente, a morte se foi, se apagou como o término de um fio de pavio a queimar, levada por uma lufada de vida, a vida intensa e majestosa do Amigo Incomparável. Todavia, não bastou à humanidade a demonstração cabal de só haver vida.

Não foram suficientes as palavras do Rabi Galileu: “Em verdade, em verdade, vos digo: aquele que crê tem a vida eterna. Eu sou o pão da vida. […] Quem comer deste pão viverá para sempre”. (João, 6:47,48 e 51)2

Jesus apresentou um conjunto de grandiosos ensinamentos através de Seus exemplos de vida; com a presença do Cristo fechou-se um dos ciclos de aprendizado, dentre estas propostas talvez uma das mais significativas tenha sido a constatação da impossibilidade da morte em se sustentar viva no seio do povo. Foi expulsa de um só golpe e a ideia da morteestava finalmente morta em si mesma. Nada mais a nos preocupar, tudo estava dito e confirmado.

Embora imortal, a lição foi insuficiente, sabemos, pois pesadas trevas se abateram sobre a humanidade e novamente a antiga e atemorizante figura de Caronte, o barqueiro de Hades, responsável por levar ao preço de uma moeda as almas dos recém-mortos para o outro lado dos rios Estige e Aqueronte, divisores entre o mundo dos vivos e o mundo dos mortos, voltou a todos apavorar, sem dó e piedade, esta, uma entre tantas crenças legadas pela rica mitologia grega. A velha e conhecida morte retomou o seu lugar, ocupou mais uma vez o seu trono de ossos e podridão, altiva, dominadora, insinuante, renasceu das cinzas. Voltou a amedrontar os titubeantes aprendizes das eternas, sábias e misericórdias leis divinas.

Contudo, Deus é Pai!

Após séculos de apreensão, desce ao vale de lamúrias do planeta, mais um Espírito, escolhido com a missão de consolidar um conjunto de ensinos capazes de trazer de novo tranquilidade às nossas aturdidas consciências, afastando de maneira absoluta e definitiva o medo e a figura da morte. Ao escutar e anotar sistematicamente os depoimentos dos próprios chamados mortos, fornecendo seus particulares testemunhos, atestando continuarem vivos, o Mestre de Lyon de igual modo ao feito por Jesus, aniquilou a morte mais uma vez.

Que agradável surpresa! Uma vez mais a Divindade se mostra clemente e piedosa com os seus filhos na Terra. Milhares de depoimentos são registados, comparados, metodicamente agrupados, classificados, as mais diversas situações de morte e sobrevivência são descritas, tudo é relatado em detalhes e magnificamente compilado na quarta obra do Pentateuco: O Céu e o Inferno, ou a Justiça Divina Segundo o Espiritismo.

Após Allan Kardec, o País da Morte foi descortinado, desbravado, várias de suas províncias foram mencionadas, habitantes de cada uma delas vem descrever onde e como vivem, o que existe do outro lado dos rios Estige e Aqueronte, como foi o respectivo passamento, e mais, não menos importante, relatam o que se faz preciso para bem cruzar os famosos rios, informando que nenhuma moeda material será pedida. Em vez disso, valores imateriais compreendendo virtudes e boas ações serão a garantia de uma boa travessia, em plena e justa conformidade com a máxima: O que temos deixamos, o que somos levamos.

Mais uma vez, detemos informações seguras sobre a permanência da vida, aprendemos ainda mais que todo o Universo clama por esta mesma vida. Tudo se encontra em contínua evolução, desta forma, por qual razão, nós, filhos do Deus Pai, não teríamos o mesmo privilégio de crescer também continua e indefinidamente?

Chega de lamentações, bastam as lágrimas de revolta vertidas por séculos em inúmeras vidas passadas na Terra sem confiança na bondade divina, desesperação nunca mais, apenas esperança, certeza na misericórdia Dele.

Saudades sim, mas uma lembrança equilibrada, suave, sem blasfêmias, apenas recordações dos momentos felizes vividos com aqueles que nos antecederam e já se encontram na verdadeira pátria, pois, sabemos, temos a certeza, plena convicção, as leis divinas sempre atestaram a imortalidade da vida!

Referências

1Xavier, Francisco C. Dicionário da alma. Autores diversos. 2. ed. Ver o vocábulo Morte. Rio de Janeiro: FEB, 1979.

2Bíblia de Jerusalém. Nova edição, revista e ampliada. 6 imp. p. 1858,1859. São Paulo: Editora Paulus, 2010.

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