Autora: Inês Rivera Sernaglia
A vida nada mais é do que o reflexo do nosso pensamento
Emmanuel
No princípio Deus criou a Terra. (Gn, 1:1) Deus disse: Haja luz” e houve luz. (Gn, 1:3) Deus disse: Haja um firmamento no meio das águas (…) e assim se fez. (Gn, 1:6)
É nítido perceber que a palavra de Deus não é simplesmente uma expressão verbal. Na criação da Terra, toda execução foi feita a partir da frase “Deus disse”, que exprime a Sua vontade e daí a ordem “Haja luz”, “Haja firmamento”.
Tudo que foi criado por Deus vibra e vive emitindo ondas, desde o átomo até a consciência espiritual e, por isso, a criação toda está mergulhada no Fluido Cósmico Universal.
No livro Evolução em Dois Mundos, o benfeitor espiritual André Luiz define o Fluido Cósmico como sendo uma rede energética que conecta toda a criação ao Criador. É o veículo da transmissão do pensamento, permitindo aos Espíritos corresponderem-se de um mundo ao outro. É, portanto, uma rede cósmica, mas somente Espíritos Superiores conseguem captar e irradiar vibrações dessas esferas superiores. Cada qual sintonizando na faixa evolutiva em que o conhecimento adquirido lhe permite operar.
Em cada etapa do programa de evolução o Espírito colhe experiências e conhecimentos, ampliando-os no estágio da erraticidade e imprimindo-os no cérebro, quando por ocasião de seu retorno ao corpo somático. Então, nesse processo contínuo, já atravessamos por diversas fases, desde o período arcaico no qual predominavam os instintos, até atingirmos a fase atual, na qual cada um é o que pensa, encarcerando-se ou libertando-se dos atavismos dessas heranças primárias, para alcançarmos um dia a claridade do pensamento cósmico. De acordo com o patamar que escolhemos vibrar, nos afinizamos com o pensamento de encarnados e desencarnados. A vida é marcada, e dizemos “a vida” porque a experiência é eterna, por inúmeras influências que, algumas vezes, imperceptíveis aos nossos sentidos físicos, influenciam de maneira impactante o curso vital.
O pensamento é o principal atributo do Espírito. É base de tudo o que realizamos, e sua característica principal é a capacidade criadora. No livro A Gênese, Kardec comenta que tudo foi criado pelo pensamento da Inteligência Suprema. A criação é a pura expressão do pensamento do Criador, que foi materializado através da ação das inteligências divinas, que foram os cocriadores que conhecemos pelo nome de Espíritos Superiores, devas, arcanjos e aqui, no planeta Terra, Jesus. Então, podemos dizer que essas inteligências divinas são “a palavra de Deus”. Assim, quando lemos “e Deus disse”, significa que Ele inspirou Cristo, que é o Seu verbo, o verbo que se materializou. Cristo é, então, o executor do pensamento e da vontade de Deus.
Com a permissão do Pai e a nossa parceria, os Espíritos superiores traçaram o projeto da nossa existência, convidando-nos a nos reajustarmos com o pensamento divino através de provas e expiações, a fim de darmos uma alavancada em nossa evolução. Sob esse enfoque, passamos a compreender que a nossa principal criação é a nossa própria vida.
Essa colheita nada mais é do que as semeaduras de existências passadas, nas quais pensamos e praticamos imprudências que nos afastaram da Lei Divina. A concretização desses pensamentos manifesta-se hoje em forma de expiações ou provas dolorosas, porque, se tivéssemos polido esses pensamentos, com certeza a colheita seria diferente. Todos nós cometemos erros de maior ou menor gravidade que produzem sentimentos e pensamentos, acarretando, muitas vezes, desvios de nossa conduta.
No prefácio do livro Encontro Marcado, psicografado por Francisco Cândido Xavier, o benfeitor espiritual Emmanuel afirma judiciosamente que “o pensamento gera, transforma, renova, cria uma determinada conduta”. Para ele, o pensamento não é simples esforço intelectivo e sim o conjunto de emoções e ideias, resultado da mente que gera as palavras que falamos, as ações que tomamos e a conduta pela qual nos conduzimos, definindo determinados hábitos que são os construtores de nossa vida.
Voltemos a Gênesis. Quando toda execução do pensamento do Criador se deu, ficou clara a importância de Sua Vontade para que a Criação se consumasse. Portanto, o próximo passo que precisamos atentar é a Vontade. Esta é a ferramenta que podemos utilizar para modificar qualquer coisa.
Para Léon Denis, a vontade é a “faculdade ou potência soberana da alma”. Ela move todas as outras potências. Então, sem ela não há de fato uma renovação mental. Para que a nossa vida e a nossa mente estejam equilibradas é necessário que a vontade seja o gerenciador do nosso campo mental. Quando nos camuflamos em atitudes não edificantes, quando damos vazão ao orgulho e à vaidade no nosso íntimo, somente a vontade será capaz de nos trazer de volta ao campo do bem.
Mais do que modificar as situações exteriores, a grande sabedoria da vida está em nos modificarmos intimamente, para que possamos aprender a lidar com essas situações externas. Enquanto a alma não despertar para isso, ela não terá autonomia, pois se deixa desequilibrar por fatores que fogem do seu alcance. Não podemos acreditar que teremos o controle das situações ao nosso redor e muito menos que poderemos administrar como as pessoas vão agir, porque elas também são livres.
Mas uma coisa sim, podemos controlar: a maneira de lidar com isso e do que fazer com o que as pessoas nos fazem. Entramos aqui em uma importante reflexão: o que estamos fazendo com o que recebemos? Como fica a nossa conduta diante do que recebemos? E o nosso pensamento? Será que estamos firmes e focados no que Jesus nos deixou através dos Seus incomparáveis exemplos de amor e solidariedade, misericórdia, compaixão e tantos outros?
Para termos o controle do nosso pensamento é necessário focar no bem, com disciplina, alinhando os sentimentos com os benfeitores que tanto desejam a nossa evolução. Com a prática do Evangelho e o despertamento que a Doutrina dos Espíritos nos proporciona, podemos visualizar o controle do nosso pensamento. E por ainda estarmos no mundo de provas e expiações é que se faz tão necessário que tenhamos essa autonomia de pensamentos pacíficos, para darmos andamento ao trabalho que nos propusemos em outras eras e deixar uma marca positiva em nossa alma e no mundo em que vivemos.
Muitas vezes estamos mais preocupados em administrar as pessoas e as situações do que cuidar do nosso pensamento. E essa falta de vigilância nos traz dissabores, angústias, medos, ansiedades e aí damos abertura para influências ocultas que, por alguma desavença pretérita, nos procuram para o “acerto de contas” ou simplesmente que se afinizam com esses sentimentos inferiores.
Nós estamos constantemente irradiando aquilo que pensamos e sentimos e assim damos origem às “ondas mentais”, que se utilizam do fluido cósmico como veículo de transmissão. Assim, como o som se propaga no ar, o pensamento se propaga no fluido cósmico. Desta forma, podemos perceber que para ele não existem barreiras e nem distâncias, tornando-se imprescindível atentar para a qualidade dessas ondas mentais, uma vez que se propagam e estabelecem vínculos com energias semelhantes. Então, o pensamento cria inclusive a atmosfera do ambiente em que estamos.
Segundo a natureza do que pensamos e sentimos, criamos uma atmosfera agradável, harmoniosa com quem convivemos, ou desagradável e conflitiva. Diante disso, a nossa responsabilidade quanto aos nossos pensamentos não diz respeito somente àquilo que emitimos, mas, também, ao que captamos do meio em que vivemos.
Não podemos nos ausentar desse intercâmbio, mas podemos e principalmente devemos avaliar que tipo de influência nós temos gerado em nossa vida; e também que tipo de influência nós temos atraído, pois estamos criando sintonia com outras mentes que buscam os mesmos pensamentos. E se estivermos sofrendo algum tipo de influência desagradável é porque lançamos pensamentos desagradáveis, tornando-nos, assim, responsáveis por tudo que nos acontece e por todo tipo de influência externa que recebemos. Cabe a nós, portanto, absorver ou não o que é bom e agradável.
Precisamos estar em boa sintonia para captarmos as mensagens edificantes que recebemos dos benfeitores espirituais, e conforme nos aperfeiçoamos como fontes receptoras, também nos melhoramos como fontes emissoras, incorporando tudo isso ao nosso modo de agir. Atentemos, portanto, para a nossa evolução. Atuemos com pensamentos sadios, enobrecidos nessa grande malha na qual todos nós nos encontramos. Se estamos juntos e caminhando lado a lado, temos a nossa parcela de responsabilidade na escolha do caminho, seja para o bem, seja para o mal.
No prefácio do livro Pensamento e Vida, ditado por Emmanuel a Francisco Cândido Xavier, encontramos essa preciosidade: “O nosso pensamento cria a vida que procuramos, através do reflexo de nós mesmos, até que nos identifiquemos, um dia, no curso de milênios, com a Sabedoria Infinita e com o Infinito Amor, que constituem o pensamento de Nosso Pai”.
Bibliografia
XAVIER, F. C e VIEIRA, Waldo – Evolução em Dois Mundos – ditado pelo Espírito André Luiz – 27ª edição – FEB – Brasília/DF – Capítulo 1, Primeira Parte – 2015.
XAVIER, F. C. – Encontro Marcado – ditado pelo Espírito Emmanuel – 14ª edição – FEB – Brasília/DF – Lição 14 – 2015.
DIAS, Haroldo Dutra – Estudando Gênesis à Luz do Espiritismo – 1ª edição – Instituto SER – Capítulos quinto e sétimo – 2018.
O consolador – Artigos