Autor: Augusto dos Anjos (espírito)
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No excêntrico labor das minhas normas
Na Terra, muita vez me consumia
Perquirindo nas leis da Biologia
As expressões orgânicas das formas.
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O fenômeno apenas, porque o fundo
Do númeno às eternas rutilâncias,
Eram partes do Todo nas Substâncias
Desde o estado prodrômico do mundo.
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Com o espírito absconso em paroxismos,
No rubro incêndio de batalha acesa,
Via Deus adstrito à Natureza,
Deus era a lei de eternos transformismos.
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Concepção panteística, englobando
As substâncias todas na Unidade,
Perpetuando-se em continuidade,
A essência onicriadora reformando.
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O corpo, desde o embrião inicial,
Era um mero atavismo revivendo;
A alma era a molécula, sofrendo,
Afastada do Todo Universal;
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Dominava-me todo o medo horrível,
Do meu viver, que eu via transtornado:
Eu era um átomo individuado
Em cerebralidade putrescível.
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A luz dessa dourada ignorância,
E com certezas lógicas, numéricas,
Notava as pestilências cadavéricas
Iguais à carne Angélica da infância,
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A sutilez do arminho que se veste,
A coroa aromática das flores,
Irmanadas aos pútridos fedores
De emanações pestíferas da peste!
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Extravagância e excesso jamais visto,
De ideia que esteriliza e desensina,
Loucura que igualava Messalina
À pureza lirial da Mãe do Cristo.
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Assim vivi na presunção que via,
Dos cumes da Ciência e do saber,
Os princípios genéricos do ser,
No pantanal da lama em que eu vivia.
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Vi, porém, a matéria apodrecer,
E na individualidade indivisível
Ouvi a voz esplêndida e terrível
Da luz, na luz etérica a dizer:
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“Louco, que emerges de apodrecimentos,
Alma pobre, esquelético fantasma
Que gastaste a energia do teu plasma
Em combates estéreis, famulentos…
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Em teus dias inúteis, foste apenas
Um corvo ou sanguessuga de defuntos,
Vendo somente a cárie dos conjuntos,
Entre as sombras das lágrimas terrenas.
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Vias os teus iguais, iguais aos odres
Onde se guarda o fragmento imundo.
De todo o esterco que apavora o mundo
E os tóxicos letais dos corpos podres.
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E tanto viste os corpos e as matérias
No esterquilínio generalizados.
E os instintos hidrófobos, danados,
Em meio de excrescências e misérias
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Que corrompeste a íntima saúde
Da tua alma cegada de amargores,
Que na Terra não viu os esplendores
E as ignívomas luzes da virtude.
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Olhos cegos às chamas da bondade
De Deus e à divina misericórdia,
Que espalha o bem e as auras da concórdia
No coração de toda a Humanidade.
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Descansa, agora, vibrião das ruínas.
Esquece o verme, as carnes, os estrumes.
Retempera-te em meio dos perfumes
Cantando a luz das amplidões divinas.”
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Calou-se a voz. E sufocando gritos,
Filhos do pranto que me espedaçava,
Reconheci que a vida continuava
Infinita, em eternos infinitos!
Nota
A poesia acima, psicografada por Francisco Cândido Xavier, faz parte do livro Parnaso de Além-Túmulo
Obra completa: https://www.febeditora.com.br/parnaso-de-alem-tumulo