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Waldir Imbrosi: O jovem espírita

Entrevistador: Guaraci de Lima Silveira

Uma voz entre os jovens e que repercute a vontade superior de orientar para o bem. Assim é a participação de Waldir Imbroisi (foto) junto a mocidades espíritas de Juiz de Fora, onde nasceu. Em 2004 conheceu a Doutrina Espírita. Participa da instituição Casa Espírita, sendo diretor do DEJ. Participa também da Aliança Municipal Espírita. É professor e mestrando em Estudos Literários. Possui textos publicados no blog: mocidadesespiritas.blogspot.com.br

Waldir Imbrosi

Eis a entrevista que ele nos concedeu: 

Em sua visão, como está o movimento das mocidades espíritas na atualidade?

O movimento de mocidades espíritas, em nível de Brasil, é complexo e extremamente multifacetado, de modo que não é seguro falar por todo o território nacional. Das poucas viagens que fiz e das informações que colho com amigos palestrantes e trabalhadores, parece-me que o movimento de mocidades, embora em expansão, continue representando parcela pequena diante do número de casas espíritas. Em algumas cidades com seis ou sete casas espíritas, não há mocidade; em outra, com quinze centros, apenas um ou dois grupos jovens estão estabelecidos. Pelo pouco que conheço, Rio de Janeiro e Juiz de Fora ocupam posição promissora nesse sentido, visto que mais da metade das casas nessas cidades possui um núcleo de estudo do Espiritismo voltado para a juventude.  

A inserção do jovem nas atividades dos centros espíritas está seguindo um critério adequado?

Acredito que essa inserção varia de casa em casa nos modos como é feita e na proporção. Parece-me que, frequentemente, as casas concentram suas posturas ou no extremo da burocratização do movimento, que exige necessariamente tantos anos de grupos de estudo básico ou coisa que o valha, para, enfim, possibilitar ao jovem o trabalho; ou no extremo da liberalidade exagerada, que inclui rapazes e moças no trabalho no primeiro mês de presença na casa. Embora eu me incline mais pela postura de captar trabalhadores sempre que possível, é importante lembrar que, ao delegar uma responsabilidade a um trabalhador qualquer, seja ele jovem ou não, o não cumprimento da função acarretará prejuízo ao serviço. Portanto, a postura mais coerente parece-me a de incluir o jovem paulatinamente no serviço, de modo que ele, assim como qualquer outro trabalhador, conquiste as possibilidades de servir ao Cristo pela moeda da perseverança, sem a necessidade de formalidades que mais prejudicam do que auxiliam o movimento. 

Qual a melhor didática para oferecer ao jovem que chega à instituição espírita?

A forma de se trabalhar os conteúdos espíritas com os jovens pode variar bastante, chegando ao sucesso de formas distintas. No entanto, parece-me que há uma constante a ser observada no trabalho com a juventude: a valorização da participação do jovem na construção do conhecimento. Lembremos que Leopoldo Machado, nas décadas de 1930 e 40, era um entusiasta do movimento de juventude, que dizia ser capaz de “arejar” os centros, por vezes muito vetustos e sisudos. Transformar as reuniões de mocidades em pequenas palestras, com a diferença apenas de serem realizadas para jovens, é ir de encontro à proposta inicial da formação de tais grupos. É essencial que o jovem seja questionado, questione o moderador e questione a si mesmo no processo de aquisição do conhecimento doutrinário. Alicerçado nas obras básicas e nas complementares, o Espiritismo deve ser visto em sua relação com a realidade do indivíduo, com as suas dificuldades e vivências, e não como uma doutrina eidética, desconectada das preocupações da juventude.  

Em sua opinião, como os coordenadores das mocidades devem se preparar para tão grande tarefa?

Raul Teixeira, com o bom senso que lhe é comum, aponta para o descaso que muitas casas têm com a mocidade, deixando-a relegada aos trabalhadores menos preparados. Para o palestrante, o coordenador de mocidade deve ser o que melhor está preparado na casa, visto que está lidando com as mentes e os corações que serão o alicerce do movimento no futuro. Nesse sentido, é essencial que o coordenador busque conhecimento doutrinário sólido, alicerçado principalmente na codificação, para estar seguro na hora de conduzir as discussões e não permitir que se percam no engano do relativismo absoluto, na imprecisão de conceitos e na confusão de ideias. Ainda, é necessário que o coordenador tenha sensibilidade para os assuntos da atualidade do jovem, de modo que seja possível realizar pontes entre o conhecimento doutrinário e a vida. Finalmente, é importante que o coordenador esteja atento para os princípios fundamentais da didática e dos métodos de ensino, que podem potencializar seu trabalho no sentido de encontrar as melhores maneiras para compartilhar e construir o conhecimento com os jovens. Esse último ponto sempre foi muito pouco enfatizado, e acredito que uma reflexão séria nesse sentido é capaz de modificar positivamente a estrutura das mocidades espíritas. Lembrando novamente Raul Teixeira, é essencial, ainda, que o coordenador seja capaz de se tornar amigo do jovem espírita, de modo a construir uma mocidade que seja de todos.

Qual o momento em que devem ser oferecidas a eles outras atividades que não sejam as da assistência social?

O jovem, assim como qualquer outro trabalhador, precisa de tempo para se habituar à doutrina, à casa e ao contexto em que se insere, de modo que assumir responsabilidades sérias com pouco conhecimento e sem comprometimento pode causar problemas ao trabalho. Para todo trabalhador, acredito na necessidade de um acompanhamento quase pessoal por parte dos dirigentes, de modo que esses possam saber com segurança o momento certo para inserção na tarefa. Tal acompanhamento evita burocratizações excessivas e, ao mesmo tempo, oferece certo controle e observação. Evidentemente, centros grandes, com muitos trabalhadores, enfrentam maiores problemas para o acompanhamento de novos membros da casa; nesse caso, talvez o tempo de frequência ou a participação em atividades como grupos de estudo possam servir como parâmetro para a inserção na tarefa. Minha resposta não pode ser, de forma nenhuma, totalizante; eis um questionamento que envolve reflexão e a necessidade de adequação à realidade das diversas casas, de modo que me limito a algumas indicações que acredito serem relevantes. 

As reuniões mediúnicas devem ser abertas também aos jovens? Quais suas experiências neste sentido?

Assim como os outros trabalhos, compreendidos na pergunta anterior, cada caso deverá ser analisado como caso específico, e necessitará de acompanhamento dos aspirantes ao trabalho mediúnico. Cumpre, acima de tudo, não pecar pelos extremos do excesso de cobranças nem da liberalidade pródiga, ambos prejudiciais à formação dos grupos e mesmo ao ambiente da casa espírita. Juiz de Fora tende a ser uma cidade conservadora em termos de juventude nas reuniões mediúnicas; os exemplos que pude acompanhar são, de forma geral, de jovens comprometidos com o estudo e com outros trabalhos dentro da casa – elementos, a meu ver, absolutamente essenciais. Se por vezes um jovem médium se deixa levar pelo orgulho e pela vaidade que a suposta condição lhe oferece, não creio que sejam essas ocorrências mais frequentes entre os moços do que entre os adultos.  

Como lidar com um jovem que chega à instituição com uma mediunidade ostensiva? Apenas o tratamento ou a tarefa mediúnica em si?

Ao jovem que acaba de chegar à casa, sem conhecimento do Espiritismo, a inserção nas fileiras da tarefa mediúnica pode configurar-se como falta de caridade. É necessário que, antes do trabalho em si, o jovem estude minimamente as diretrizes seguras pelas quais deve se pautar, a saber, as contidas na codificação. O tratamento para a mediunidade não é unicamente a prática; o trabalho no bem, os passes fluidificados, a reforma íntima sincera são passos iniciais a serem dados antes do ingresso nas lides da mediunidade. Isso posto, que o jovem engrosse as equipes de trabalho juntamente com seus irmãos mais experientes. 

O que é a Caravana de Mocidades que acontece em Juiz de Fora?

A Caravana de Mocidades de Juiz de Fora, ora sob a coordenação de Tiago Nunes, João Carlos e uma dedicada equipe, é uma iniciativa que partiu dos jovens com o objetivo de aproximarem-se uns dos outros mediante a visita a diversos grupos espíritas. Ao longo do ano, todos os meses uma mocidade é visitada, sendo esse trabalho amplamente divulgado entre os jovens do movimento. O objetivo é favorecer a integração e o movimento de unificação entre os jovens, tendo o trabalho alcançado excelentes frutos até o presente momento. 

E a COMEJUS?

A COMEJUS, aos moldes da COMEERJ (Rio de Janeiro) e da COJEL (Leopoldina), de quem é “filha”, é a “Confraternização de Mocidades Espíritas de Juiz de Fora e Sub-região”. É um encontro que acontece todos os anos no carnaval, ao longo dos quatro dias, que oferece uma alternativa saudável e maravilhosa aos jovens nesse período. Ao longo do encontro, estudam-se temas pré-selecionados pelos próprios jovens através de grupos de estudo, oficinas, palestras e atividades lúdicas. O potencial de unificação desse trabalho é intenso e crescente, e o ambiente espiritual vivido nesses quatro dias é simplesmente incrível. Este ano contamos com aproximadamente quarenta trabalhadores, totalizando, com os confraternistas, aproximadamente 160 integrantes no encontro. Para o ano que vem, espera-se um encontro ainda mais especial: a COMEJUS completará 25 anos de jornada. 

Como o jovem pode ajudar no grande projeto da unificação das Casas Espíritas?

É importante que o grupo jovem não seja um apêndice, um grupo à parte no seio da instituição espírita; estando envolvido com os demais departamentos e trabalhadores, a mocidade será capaz de, “dentro de casa”, iniciar esse movimento de unificação. Posteriormente, a maleabilidade que o jovem possui é muito positiva: além de encontros de estudo para a juventude e eventos musicais – ao todo, contamos com sete eventos anuais em Juiz de Fora –, a ferramenta da internet é excelente para manter contato com os jovens de diferentes centros. Estou inserido em um grupo de mocidades espíritas da cidade que conta com mais de 500 jovens, e por esse meio divulgamos eventos, trocamos textos, músicas e ideias. É um espaço privilegiado para favorecer a unificação, que se concretiza em situações como a caravana e os encontros. 

Em sua opinião, é possível que o jovem espírita participe de festas em outros locais que não sejam o centro espírita sem se perturbar com isto?

Para o jovem espírita, as alegrias exteriores ao centro não são, de forma nenhuma, proibidas ou consideradas perniciosas. Lembremos das palavras dos Espíritos em “O Homem no Mundo” (ESE, cap. XXVII – 10): “Vivei com os homens de vossa época, como devem viver os homens”. No entanto, cumpre dizer que participar da vida exterior ao centro não retira as responsabilidades que o jovem adquire perante a própria consciência e a misericórdia divina ao conhecer as verdades do plano espiritual: agir de forma irresponsável, em qualquer circunstância, levará às consequências próprias os atos deliberadamente cometidos. O jovem, como também o adulto, vai à casa espírita buscar refrigério para as dores, conhecimento para enxergar o mundo e forças renovadas para viver a realidade. Se, no retorno para essa mesma realidade, o jovem se esquece do que foi haurido em ambiente propício para sua aprendizagem, de nada terá valido. No entanto, o jovem de propósitos seguros e certezas diante do caminho evolutivo pode encerrar-se em círculos de festa e alegrias, sem permitir-se entregar a prazeres menos felizes e que trariam consequências funestas. Seguindo a mesma leitura, os Espíritos continuam: “Sede joviais, sede ditososmas seja a vossa jovialidade a que provém de uma consciência limpa, seja a vossa ventura a de um herdeiro do Céu que conta os dias que faltam para entrar na posse de sua herança”. É possível ser alegre sem ser severo e lúgubre. No entanto, àqueles que julgam-se fracos diante de certas tentações e cujos valores ainda precisam ser sedimentados, talvez a melhor profilaxia seja a abstenção. 

Há uma mudança de atitude do jovem espírita quando entra para a Faculdade ou ele segue o Espiritismo e a graduação de forma igual e tranquila?

Muitos deixam de frequentar os grupos sob a justificativa de falta de tempo; outros, sem terem conhecimento profundo da doutrina dos Espíritos e sem conhecerem a organização filosófica e didática de Kardec, deslumbram-se com sistemas filosóficos mais ou menos coerentes e deixam o centro espírita em função de uma nova diretriz para suas vidas; outros, ainda, permanecem na casa, incólumes às influências perniciosas. Em diversos centros da cidade constatou-se uma tendência de êxodo dos jovens em idade universitária, e o retorno desses jovens após a estabilização de sua vida profissional e financeira – ocorrendo, frequentemente, na faixa dos 30 anos de idade. 

Em sua opinião, o que deve ser mudado nas casas espíritas em relação ao jovem?

É ainda Raul Teixeira que denuncia o descaso que muitas casas têm com a mocidade, relegando-a a segundo plano e dedicando-lhe o espaço apenas para o trabalho de carregar peso e distribuir panfletos. Às casas que mantêm essa postura, que, por sinal, vêm diminuindo, é necessário rever o que se está edificando nos alicerces do trabalho de amanhã, valorizando o jovem não como o futuro do movimento, mas como o presente. É preciso perceber que entre a evangelização – que felizmente recebe generosa atenção – e os trabalhos e grupos mais elaborados da casa, existe o grupo de jovens, cuja direção e serviço precisam de cuidado. Tal empreendimento exige, contudo, uma contrapartida; não são incomuns, também, mocidades que se fecham em si mesmas, afastadas das diretrizes e preocupações do centro, e funcionam como pequenas instituições engastadas nas casas, mas sem de fato pertencer-lhes. É preciso que, cada vez mais, a juventude e os outros departamentos da casa unam-se, para que, além das divisões de idade e de organização, sejam todos apenas um grupo espírita. 

Como as artes em geral os ajudam em suas adaptações à nova encarnação e agora numa entidade espírita?

Toda arte tem um corpo em sua percepção. A poesia e a prosa possuem, pela sua leitura, a estesia dos olhos que compõem, através das palavras, lúcidos e belos pensamentos; a música, através do embevecimento dos ouvidos, toca a alma carregando as mais fundas mensagens; o teatro, através da profusão de corporalidades que desperta, consegue dar ao jovem retratos vivos de sentimentos profundos ou de elementos doutrinários. Muitas são as artes que podem ser usadas nas entidades espíritas, mas todas elas têm uma função primordial, não o didatismo morno, de tom professoral, mas a possibilidade de abrir o jovem, de predispô-lo à vivência e ao estudo do Evangelho, para despertar-lhe o desejo de melhora íntima e para fortalecer-lhe o amor aos seus irmãos encarnados e desencarnados. Mais que um objetivo puramente concreto, a arte é capaz de sublimar as subjetividades e oferecer novas formas de pensar e sentir.

O consolador – Ano 7 N 329 – Entrevista

Título original: “O grupo de jovens não deve ser um apêndice, um grupo à parte no seio da instituição espírita”

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