O Evangelista Lucas narra que, durante o reinado de Herodes (nomeado pelo Senado em 40 a.C., que tomou Jerusalém em 37 a.C. e morreu no ano 4 antes da era cristã), houve um sacerdote chamado Zacarias, da família de Abias.
A família Abias era a oitava entre as vinte e quatro sacerdotais que funcionavam no Templo de Jerusalém. A cada família cabia uma semana de ministério sacerdotal e, por sorteio, o trabalho que diariamente deveria executar cada um dos sacerdotes.
Todos os dias, ao nascer e ao pôr do sol, se repetia a cerimônia em que o sacerdote sorteado oferecia o sacrifício do incenso. Era tarefa de tal forma honrosa que era concedida uma vez por semana, somente, a cada sacerdote.
Quando a coluna de fumaça subia, soavam as trombetas festivamente e o povo, do lado de fora, nos átrios do Templo, se prostrava com o rosto em terra, em reverência.
Zacarias, cujo nome significa lembrança ou recordação de Yaweh, vivia nas montanhas da Judeia. Tinha por esposa Isabel (em hebraico Elisheba, a adoradora de Deus ou obra de Yaweh) que o Evangelista informa ser descendente de Aarão.
Naturalmente, trata-se de uma alegoria, pois que se na atualidade, com todos os registros, raramente se conhecem os ascendentes além da terceira geração (pais, avós, bisavós), imagine-se, àquela época, ter-se a informação de mil e quinhentos anos antes, tempo em que viveu Aarão, o iluminado.
Em idade avançada, continua Lucas, Zacarias não tinha descendentes e a esterilidade era atribuída à sua mulher. Homem justo, obediente aos mandamentos e preceitos do Senhor, entristecia-o a falta de filhos, mesmo porque, aos olhos daquele povo, o fato era tido como sinal de que a união não fora abençoada pela Divindade.
Certo dia, coube a Zacarias o sacrifício da manhã, no Templo. Estava sozinho, ao pé do altar. Deitava sobre o braseiro o incenso e, enquanto subia a fumaça, orava.
Tudo era silêncio e sua alma parecia alçar-se, exatamente como a fumaça do braseiro. De repente, do lado nobre do altar, o direito, que ficava na direção sul, onde estava o candelabro de sete velas, símbolo místico da luz, apareceu um vulto aureolado de vivos fulgores.
Se Zacarias o viu pela vidência mediúnica ou se o mensageiro espiritual se materializou, fazendo-se dessa forma, visível, não se sabe.
Estremece o sacerdote, mas o Espírito o tranquiliza, transmitindo-lhe o recado de que fora incumbido.
À semelhança do que se dará, em outro momento, com a mãe de Jesus, o anjo vem com a incumbência de noticiar o nascimento próximo de um garoto. Informa a Zacarias o nome que deverá portar o menino e fala da missão que haverá de desempenhar. Prediz a natural alegria do casal pelo evento, e igualmente, a alegria de muitos pelo renascimento daquele Espírito.
Eram tão grandes as promessas feitas a Zacarias, que ele ousa pedir ao anjo um sinal, uma prova. É então que o mensageiro se identifica como sendo Gabriel, o homem de Deus, dizendo que faz parte daqueles que assistem diante do trono de Deus.
Como segunda prova, fá-lo emudecer. Deduz-se que perdeu também a audição, pois mais tarde, por ocasião do nascimento do filho, será por sinais que lhe indagarão qual deverá ser o nome do menino.
O povo se inquieta do lado de fora. Zacarias se demora em demasia no cerimonial. Finalmente, quando sai, não profere as palavras ritualísticas habituais. Interpretam as pessoas por seus gestos, que ele tivera uma visão.
Ao terminar as suas funções sacerdotais, Zacarias se recolhe à sua residência, dando-se a concepção de Isabel, na sequência.
Chegado o tempo de dar à luz, narra o Evangelista Lucas que Isabel teve um filho e, ao oitavo dia, quando o vieram circuncidar, como ela afirmasse que se deveria chamar João, perguntaram ao pai, que escreveu em uma tabuinha: João é seu nome.
Naquele momento, ele recomeçou a falar. Cheio de um Espírito Santo, ele agradece ao Altíssimo pela misericórdia e, depois, de forma resumida, repete as palavras dos profetas Malaquias e Isaías, que se referem àquele que aplanaria os caminhos de Yaweh.
A partir de então, enquanto o menino cresce e se torna adulto, nada mais se fala do sacerdote Zacarias.
Referências
01.PASTORINO, C. Torres. Zacarias e Isabel. In:___. Sabedoria do evangelho. Rio de Janeiro: Sabedoria, 1964. v. 1.
02.______. Predição do nascimento de João. Op. cit.
03.______. Nascimento de João. Op. cit.
04.______. O cântico de Zacarias. Op. cit.
05.ROHDEN, Huberto. Estrela d’Alva. In:___. Jesus Nazareno. 6.ed. São Paulo: União Cultural. v. 1, cap. 1.
06.SALGADO, Plínio. Zacarias e Isabel. In:___. Vida de Jesus. 21. ed. São Paulo: Voz do Oeste, 1978. pt. 1, cap. 4.
07.VAN DEN BORN, A . José. In:___. Dicionário enciclopédico da Bíblia. 3. ed. Petrópolis: Vozes, 1985, verbete Zacarias.
Nota Juventude Espírita
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